Famosa pelas cachaças artesanais, Minas desponta na fabricação de gim

Tatiana Moraes
11/06/2019 às 20:15.
Atualizado em 05/09/2021 às 19:04
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

Minas Gerais, maior produtor de cachaça artesanal do país, começa a enveredar na produção de outros destilados. Febre nas baladas, a bola da vez agora é o gim. Pelo menos três marcas já são fabricadas na Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH), com boa aceitação do público: Lebbos, Yvy e Zuur. Juntas, elas produzem quase 100 mil litros anualmente da bebida, volume que pode dobrar até o final do ano.

Impulsionado pelo mundo fitness, a bebida de poucas calorias que fez sucesso nos anos 80 ganhou o público jovem nos últimos três anos. E foi de lá para cá que surgiram importantes marcas da bebida. O motivo da investida, conforme um dos fundadores da Yvy, André Sá Fortes Pinheiro, é o alto custo do gim vendido no mercado. 

Ele ressalta que era sócio de um famoso bar no bairro Lourdes com foco em coquetelaria. A criatividade dos bartenders, no entanto, era tolhida pelo custo do produto. “Gim é caro. Se fossem usadas duas doses de um importado, por exemplo, o preço iria às alturas e as pessoas não pagariam. Porém, se nós produzíssemos, ficaria mais barato”, afirma. 

A título de comparação, uma garrafa importada chega facilmente a R$ 150. As nacionais saem por aproximadamente R$ 90, valor 40% mais barato.

Daí, surgiu a ideia de investir no negócio. Sem know how na produção, Pinheiro foi a Londres, onde o gim é produzido em abundância, para estudar o mercado. De lá, trouxe os sócios, especializados na fabricação da bebida feita com zimbro. A produção, realizada no Jardim Canadá, berço de muitas cervejarias do Estado, deu certo.

Exponencial

A primeira garrafa foi vendida em 2018. No final daquele ano, 2 mil embalagens foram comercializadas mensalmente. No mês passado, o número mais do que dobrou, chegando a 5 mil. Até dezembro, a previsão é a de quintuplicar a produção inicial e chegar a 10 mil garrafas por mês. 

Público, ao que tudo indica, não falta. “Vendemos para supermercados e hipermercados de todo Brasil. Além disso, abrimos um bar especializado em gim para apresentar o produto ao público”, explica. Até o final do ano, a ideia é lançar uma vodka da marca. 

Criado há seis meses, o Zuur Gin foca na ponta da cadeia para ampliar mercado. “Participamos de grandes eventos, onde várias pessoas acabam nos conhecendo. E, também, vendemos a bebida em supermercados”, afirma o sócio e diretor comercial da marca, Alberto Scarano.

A produção é realizada em Capim Branco, a 50 quilômetros de Belo Horizonte. Mensalmente, são fabricadas 1,1 mil garrafas, o equivalente a 13,2 mil garrafas ao ano. Até o fim do ano, no entanto, a ideia é dobrar a fabricação e, também, o faturamento. Para isso novos postos de trabalho podem ser criados. Hoje, como a produção é terceirizada, ele estima que gera aproximadamente 40 empregos diretos e cinco diretos.

O empresário atribui o sucesso do gim à versatilidade da bebida. “É uma bebida sofisticada, com notas cítricas. Antes, as pessoas gostavam de vodka porque não sentiam o gosto do álcool. Agora, elas querem sentir algo a mais, e o gim tem sabor e aroma apurados”, diz.

Crescimento dos destilados não afeta mercado de cerveja

O mercado de gim ainda não se firmou, mas os produtores já estão de olho em outro filão: a vodka. Até o fim do ano, Yvy e Backer pretendem lançar a bebida no mercado. Ao que tudo indica, a Backer vai sair na frente. Conforme o gerente Comercial e de Eventos da Backer, João Roberto Pires, a bebida deve ser lançada nos próximos 90 dias. 

Além da cerveja, que já se consagrou no mercado, a Backer produz gim, o Lebbos, e uísque, o Três Lobos. Mensalmente, são fabricados 3 mil litros de gim e 2 mil litros de uísque, o equivalente a 36 mil litros e 24 mil litros por ano, respectivamente. A marca decidiu apostar na destilaria após uma série de pesquisas em mercados internacionais. 

“Vimos que era uma tendência mundial e decidimos investir”, pondera Pires. O maquinário é independente, porém, o investimento nos equipamentos não foi informado. 

Para o fim do ano, a previsão é aumentar bastante a produção. A quantidade, no entanto, não foi informada. O foco são os jovens de 25 a 35 anos, conforme o executivo. “Ainda não sabemos quanto, o mercado que vai ditar”, explica.

Cursos

Público não falta. Além de vender os destilados, a Backer criou uma série de cursos para quem deseja produzir as bebidas em casa. 

A produção do gim é semelhante à da cachaça, porém, a bebida criada na Holanda em meados de 1600 não é fermentada. Devido às paridades, alguns produtores da caninha têm se aventurado na produção principalmente no interior de Minas, muitos a título de teste. 

“Muitas pessoas que não consomem cachaça ou cerveja gostaram do gim. Grande parte delas está fugindo de bebidas com muitas calorias”, comenta a superintendente do Sindicato das Indústrias de Cerveja e Bebidas em Geral do Estado de Minas (Sindbebidas), Tatiana Santos. 

Justamente por isso, ela afirma que o gim não reduz público das outras bebidas. “É o contrário. As empresas que já produzem outras bebidas que querem começar a fabricar o gim”, afirma.

E ela adianta que o mercado fitness promete ganhar mais adeptos. “As cervejarias artesanais estão se preparando para produzir a bebida sem glúten em larga escala”, comenta.

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