Filhas do fundador da Casa dos Contos e Cantina do Lucas à frente dos negócios

Paula Coura
pcoura@hojeemdia.com.br
12/02/2017 às 06:00.
Atualizado em 15/11/2021 às 22:49

Tradicional point da boemia belo-horizontina desde a década de 1980, a Cantina do Lucas, no edifício Maleta, está sob nova direção. Bem preparadas para a missão pelo pai – o empresário Edmar Roque, que faleceu há pouco mais de um mês –, as jovens Eliza, Ana Luiza e Maria Leonor estão agora à frente dos negócios da família. Além do restaurante, o trio herdou também a administração da Casa dos Contos, outro endereço bem conhecido dos mineiros. Lucas Prates / N/A“Estilo” da Cantina do Lucas conquistou a fidelidade da clientela 

“Acompanhamos nosso pai há tempos nessa transição. Sabemos como funcionam as coisas, como ele gostaria que tocássemos os negócios. No ano passado já tínhamos meio que aposentado nosso pai”, explica Eliza Roque, a filha mais velha do “seu Edmar”. 

Após um ano em que a manutenção dos preços do cardápio e do quadro de funcionários foi motivo de celebração, o trio se orgulha também de projetar, para 2017, algumas novidades. A primeira delas está em restaurações pontuais no estabelecimento. 

26 mil refeições são servidas por mês na casa dos contos e na cantina do lucas, sendo 15 mil somente no primeiro estabelecimento

Tombado pelo Patrimônio Histórico e Cultural, a Cantina do Lucas precisa, constantemente, segundo as empresárias, de retoques.

No ano passado, as cadeiras do salão foram revitalizadas. Este ano, o teto deverá sofrer intervenções. Na Casa dos Contos, o piso foi trocado em 2016. 

“Queremos manter a mesma pegada do nosso pai nos negócios. Vamos nos adaptando ao mercado, sem perder a essência do tradicional”, revela Ana Luiza, a filha do meio.Flávio Tavares / N/A

Antonio Mourão
Gerente da Cantina do Lucas há 29 anos


Homenagem

As filhas ainda estruturam uma homenagem póstuma ao pai. Durante esse mês, elas e os funcionários têm usado uma fita azul pregada na roupa.

Os ensinamentos de vida e as frases mais ditas por Edmar Roque foram escritas em uma agenda. 

“Meu pai está em cada canto. Tem dia em que a saudade aperta mais. Ele sempre dizia, ‘estamos sempre investindo, prospectando e nunca paramos de trabalhar’. Ele falava que o dinheiro, para render, tinha que circular, e adotamos isso”, finaliza a caçula Maria Leonor. 

“O grande mérito do Edmar foi ter comprado duas casas há mais de 30 anos e ter mantido o mesmo estilo. Tanto a Cantina do Lucas quanto a Casa dos Contos têm o mesmo público familiar e tradicional, variando um pouco do horário do almoço para a noite. Manter esse padrão por tantos anos é o grande desafio de todos que trabalham nas casas”Antonio MourãoGerente da Cantina do Lucas há 29 anos

Histórias guardadas de geração em geração

Imortalizado pelo Guiness Book como o garçom que ficou por mais tempo em atividade em todo o país, as histórias de Olympio Peres Munhoz estão afixadas pelas paredes, guardadas em cada relato.

Segundo Antonio Mourão, que trabalhou com ele até seu falecimento, em 2004, “Olympio era tão antigo que conheceu o aviador Santos Dumont, no Guarujá, pouco tempo antes dele morrer”. Eugênio Moraes/Arquivo / N/A

Luiz Cláudio Paiva 
Garçom da Cantina do Lucas há 21 anos

Além disso, o famoso garçom tinha algumas “manias”. “Quando foi ficando mais velho, o Olympio, que sempre atendia um canto específico da Cantina do Lucas, passou a deixar umas três mesas reservadas. Eram para os amigos, que ele nem sabia se viriam. Ele também não gostava de atender baderneiros. Certa noite, pela madrugada, um grupo de arruaceiros chegou perguntando: o que tem sobrando? Ele não hesitou em responder, ‘vocês estão sobrando, podem sair’”. 

A filha mais velha de Edmar Roque, Eliza, também guarda em uma agenda as frases mais faladas pelo pai. “Ele sempre dizia que deveríamos prezar pela qualidade, mesmo que não fosse tão lucrativo”, conta. 

“A maior parte dos clientes a gente já conhece. Sabe até o que têm costume de pedir e já trata pelo nome. Domingo é o dia mais agitado aqui na Cantina do Lucas. Já tivemos pessoas que encontraram o amor da vida delas aqui, até book de noivas e pessoas que antes frequentavam e agora trazem os filhos, os netos”Luiz Cláudio Paiva Garçom da Cantina do Lucas há 21 anos

Manter as características dos restaurantes é a chave para o sucesso do negócio familiar

Geralmente fundada pelo patriarca, a empresa de perfil familiar representa mais de 90% dos negócios no Brasil, de acordo com o Sebrae.

Para as filhas de Edmar Roque, além das divergências e dos desentendimentos, que porventura acontecem, herdar um negócio de família traz a responsabilidade de manter o mesmo padrão. 

“As pessoas que vêm aqui nas casas querem comer os mesmos pratos de 20 anos atrás. Manter o mesmo quadro de funcionários, tanto na cozinha quanto no atendimento, em que eles não variem muito, é um desafio”, pontua Maria Leonor. Lucas Prates / N/A

A Casa dos Contos, aberta em 1975, funciona na rua Rio Grande do Norte

“A sobrevivência das casas (Casa dos Contos e Cantina do Lucas) depende de quatro conceitos: qualidade, preço, cozinha farta e lealdade. Você adquire lealdade pela fidelidade. Tem que ser leal no produto e no atendimento”Edmar RoqueNa versão da filha Eliza Roque

Divisão

Cada uma das gestoras fica responsável por partes diferentes dos negócios, mas atuam juntas em todas elas.

Ana Luiza cursou gastronomia e cuida de perto dos cardápios. Eliza e Maria Leonor fizeram administração e ficam por conta da parte administrativa. 

“Nosso estilo de restaurante, de comida farta e a preço acessível, fez com que os efeitos da crise fossem menos sentidos. É essa proposta que vamos seguir”, diz Ana Luiza. 

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