Filme "Ana Arabia" mistura arquitetura e violência

Luiz Carlos Merten
31/10/2013 às 14:57.
Atualizado em 20/11/2021 às 13:48
 (Divulgação)

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Amos Gitai esteve no começo da semana na Mostra, apresentando seu filme Ana Arabia e debatendo-o com o público. Na quarta-feira (30) foi a Porto Alegre, num bate e volta, a convite do governador Tarso Genro, para discutir um projeto, sobre o qual desconversa. Nesta quinta-feira (31), ele volta a São Paulo para o encerramento da 37.ª Mostra - o júri internacional outorga o Troféu Bandeira Paulista à noite, no Cinesesc - e nesta sexta-feira (1º), retorna a Paris. Esse é o ritmo de Gitai.

É um cidadão do mundo. Filho de arquiteto, ele próprio Ph.D. em Arquitetura pela Berkeley, Gitai descobriu que sua vocação é o cinema, mas é o primeiro a reconhecer que o uso do espaço lhe deu ferramentas muito importantes. Em cerca de 40 anos de carreira - fez 63 anos em 11 de outubro -, já fez mais de 90 filmes e instalações. Não contabiliza sua obra, mas vai ter de contar. Vivendo entre Haifa e Paris, Gitai ganha neste final de ano uma retrospectiva completa no Museu Reina Sofia, em Madri. Depois, em fevereiro - após o Festival de Berlim e até Cannes, ele relaciona a duração do evento aos grandes festivais de cinema -, haverá outra retrospectiva em Paris.

Ele se sente em casa, na Mostra. Fala com carinho de Leon Cakoff, de Renata Almeida. Concorda com o repórter, que considera Ana Arabia seu melhor filme em anos, talvez desde Kedma, em 2002. Embora nunca tenha parado com elas, Gitai retoma com força as pesquisas estéticas e faz o filme todo num único plano-sequência de 81 minutos. Mas os personagens são tão fortes que o espectador nem se dá conta do virtuosismo do processo (e da câmera). "É o maior elogio que me fazem. Fiz o filme desse jeito, mas ficaria decepcionado se as pessoas só me falassem da estética de Ana Arabia. Fiz desse jeito porque era a melhor maneira de contar essa história, não para chamar a atenção para a técnica."

E o curioso é que Ana Arabia nasceu meio a contragosto do autor. Sua roteirista, a francesa Marie-Jose Sanselme, falava-lhe dessa mulher extraordinária, dizia que daria um belo filme e que Gitai deveria conhecê-la. Ele relutava - de novo as tensões entre israelenses e palestinos. "Nãããoooo." Mas aí ouviu as histórias, conheceu o entorno e se apaixonou. "Tenho trabalhado com documentário e ficção nos últimos 30 anos ou mais, e são esses fragmentos de histórias que me me interessam. Sou um colecionador das contradições humanas e sociais e, muitas vezes, tenho a impressão de que a região (o Oriente Médio) mergulha numa selvageria tão forte que é preciso questionar, indagar. Minha ferramenta é o cinema e eu só posso fazer isso por meio dos filmes."

ANA ARABIA - Cinusp. Nesta quinta-feira, 19 horas.

As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
http://www.estadao.com.br

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