Governo estuda possibilidade de importar médicos

Do Hoje em Dia
27/01/2013 às 07:35.
Atualizado em 21/11/2021 às 21:13

É surpreendente a informação de que o Brasil vai facilitar a contratação de médicos portugueses e espanhóis para suprir o déficit do país. Pode ser apenas uma tentativa da presidente Dilma Rousseff e do ministro da Educação, Aloizio Mercadante, de agradar aos anfitriões, durante visita à Espanha, ao acenar com essa possibilidade. Mas, se o que disseram é sério, há uma enorme desinformação do governo sobre essa questão ou imensa desinformação da opinião pública patrocinada por entidades médicas.

Em fevereiro de 2011, por exemplo, o Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo encaminhou documento ao então ministro da Educação, Fernando Haddad, pedindo para não homologar a abertura do curso de Medicina da Universidade de Franca autorizada pelo Conselho Nacional de Educação. Justificou, o Conselho, que a autorização “é contrária a relatórios oficiais que apontaram a ausência de necessidade social e o excesso de escolas médicas em São Paulo, posição coincidente com a defendida pelo Conselho e pelas demais entidades médicas”.

Estudo divulgado pela revista da Associação Médica do Rio Grande do Sul, em julho de 2011, informou que o Brasil tinha 180 escolas de medicina, enquanto a China contava com 150 e os Estados Unidos com 131. E que se formavam aqui, a cada ano, 16 mil novos médicos. Haveria excesso de médicos e escolas, ensino deficiente e má distribuição dos profissionais no país.

Antes de atender aos pedidos de governos aflitos com o atual nível de desemprego em Portugal e Espanha, Dilma deveria pôr ordem na própria casa e ver o que ocorre no mundo. Poderia conversar com médicos e dentistas brasileiros que tentam trabalhar em outros países. No Canadá, por exemplo, que tem um bom programa de incentivo à imigração, o dentista brasileiro não consegue exercer a profissão sem aprender bem a língua, passar num duro teste ou fazer pós-graduação em odontologia, por três anos no mínimo, numa escola canadense.

É fácil imaginar um médico português ou espanhol recém-chegado a uma pequena cidade no interior do Brasil, tentando se comunicar com um doente. O diálogo é difícil, a cura quase impossível. Mas o prefeito poderá dizer que a cidade já tem um médico. Será essa a solução? Não seria melhor descobrir por que não há médico, se o prefeito diz que paga alto salário? Há relatos de médicos atraídos pelo salário que desistem depois de trabalhar meses sem receber. Não é o sistema, o doente?

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