Teste - Renault Kwid é econômico, espertinho, minúsculo e franciscano

Marcelo Ramos
miramos@hojeemdia.com.br
20/10/2017 às 19:58.
Atualizado em 02/11/2021 às 23:19
 (Renault)

(Renault)

Desde janeiro de 2014, quando passou a vigorar a legislação que obrigava fabricação de automóveis equipados com airbag e ABS, a indústria começou a enxergar com maus olhos o segmento de populares. Afinal, incluir aqueles itens de segurança encareceria a produção e o valor teria que ser passado ao consumidor. Afinal, fábrica de automóvel nunca foi e nem será instituição filantrópica. 

Somado a isso teve o início da recessão econômica, que trouxe restrição de crédito e desconfiança do consumidor, que até dois anos antes comprava carro a perder de vista.

Todos estes fenômenos fizeram com que o segmento de entrada caísse na penúria. Celta desapareceu, Palio Fire também, o Ka se sofisticou, tal como Uno, Onix, HB20, Sandero e a patota toda que até o ano passado ainda constava como opções abaixo dos R$ 40 mil. Sem popular na praça, apenas Mobi e Up, a Renault enxergou a oportunidade para introduzir o indiano Kwid.

Até aí tudo bem, o Kwid é um carrinho miúdo, de acabamento pobre, barulhento e com preço inicial em R$ 30 mil. Nada que fuja ao padrão de um popular nacional. Acontece que a Renault forçou a barra em dizer que seu popular é um utilitário-esportivo (SUV) compacto. 

Testamos a versão topo de linha Intense, que tem preço sugerido de R$ 39.990 e inclui itens como vidros dianteiros elétricos, retrovisores elétricos, trava, chave do tipo canivete, módulo multimídia com Bluetooth e GPS, ar-condicionado, faróis de neblina e calotas que imitam rodas de liga leve.

É um pacote de conteúdo que chama atenção pois oferece padrão de comodidade semelhante ao do irmão Captur, mas pela metade do preço. E é aí que está o pulo do gato da Renault, pois ela consegue desconstruir aquela reflexão comum de quem está com grana contada para trocar de carro: “Compro um zero pelado ou um usado equipado?”

Apesar da propaganda, o Kwid é um sub-compacto, como o Mobi e Up, mas com estilo aventureiro. Por ter altura elevada e ângulos de entrada e saída como de um jipinho, ele não raspa em lombadas e buracos, mas não deve ser visto como SUV.

Ele é apertado, o braço esquerdo do motorista se esfrega na coluna B e é possível levar a mão direita até a porta do passageiro sem inclinar o corpo. O motor 1.0 três cilindros de 70 cv é 12 cv mais fraco que a unidade que equipa o Sandero e o torque de 9,8 mkgf só aparece com o motor cheio. Mas ele é espantosamente econômico, com autonomia superior a 500 quilômetros na cidade com um tanque de gasolina.

Para quem busca um carro racional para a cidade, o Kwid resolve muito bem, mas é preciso investir na versão mais qualificada. O que não se deve é acreditar que está levando um jipinho para a casa. 

Raio-x Renault Kwid Intense 1.0

O que é?
Hatch sub-compacto de cinco lugares.

Onde é feito?
Produzido na unidade São José dos Pinhais (PR).

Quanto custa?
R$ 39.990

Com quem concorre?
Considerando os conteúdos oferecidos, Kwid Intense concorre com Fiat Mobi Drive 1.0 (R$ 41.790) e Volkswagen Move Up (R$ 49.090).

No dia a dia
É um carro genuinamente citadino. Seu visual aventureiro e chancela de SUV tem apelo emocional e não prático. Na cidade ele resolve muito bem, pois por ser pequeno e estreito, é muito fácil serpentear no transito, assim como encontrar vaga.

Por dentro ele é apertado. Colocar cinco pessoas dentro do Kwid é masoquismo. Quatro pessoas viajam com dignidade, mas sem folga. Por ser um carro diminuto, os 290 litros do porta-malas surpreendem. 

O acabamento é pobre, mesmo que seja possível aplicar material sintético parcial nos bancos e a tela do multimídia denunciar sofisticação, o Kwid é um carro franciscano. Ele deixa a desejar, e muito, no isolamento acústico. 

Motor e transmissão
A unidade três cilindros 1.0 de 70 cv é a mesma que equipa o Kwid na Índia e inferior ao motor Nissan 1.0 de 82 cv que equipa Sandero e Logan. Em piso plano o motorzinho resolve bem, pois a transmissão tem relações curtas e ele enche rápido. Mas o torque só surge aos 4.250 giros, obrigando o motorista a esgoelar e descer marcha, principalmente nas ladeiras.

E como a relação de marchas privilegia a entrega de torque e a cavalaria é baixa, o Kwid é um carro que leva a vida dentro da lei e dificilmente consegue superar a barreira dos 120 km/h. E com toda sinceridade, não convém tentar ir além disso.

Como bebe?
O Kwid tem seu ponto forte a economia, muito em função do seu baixo peso, abaixo dos 800 kg. Abastecido com gasolina, a unidade testada registrou média de 15,9 km/l no trajeto combinado entre urbano e rodoviário.

Suspensão e freios
A suspensão utiliza conjunto McPherson na frente e eixo rígido atrás. Por ser um carrinho com altura livre elevada e pouca largura, o Kwid tende a pender nas curvas sob efeito da força centrífuga.

Até mesmo em conversões de baixa velocidade, ele tende a espalhar um pouco. Além disso, é uma suspensão que soca muito, qualquer depressão invade a cabine. Já os freios utilizam disco sólido na frente e tambor na traseira.

Pontos positivos
Consumo
Conteúdos da versão
Estilo
Espaço para bagagem

Pontos negativos
Excesso de ruído
Falta de torque em baixa rotação
Espaço interno
Suspensão

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por