Histórico aperto de mãos da rainha Elizabeth II e o ex-dirigente do IRA

AFP
27/06/2012 às 18:23.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:08
 (Paul Faith/Poo/AFP)

(Paul Faith/Poo/AFP)

BELFAST - A rainha Elizabeth II e o ex-dirigente do IRA Martin McGuinness, atualmente líder político, deram um histórico aperto de mãos nesta quarta-feira em Belfast, um ato considerado como um novo marco no processo de paz na Irlanda do Norte.

O simbólico aperto de mãos entre a soberana britânica e o atual vice-ministro principal da Irlanda do Norte aconteceu a portas fechadas, no Teatro Lírico da capital norte-irlandesa, durante um evento organizado pela ONG Cooperation Ireland.

O encontro, inconcebível há alguns anos, mesmo depois do acordo de paz da Sexta-Feira Santa de 1998 que praticamente acabou com 30 anos de luta violenta entre protestantes leais à Coroa e católicos republicanos, com um trágico saldo de mais de 3.000 mortos.

Estavam presentes o duque de Edimburgo, que acompanha a soberana na visita de dois dias à província britânica, o ministro principal da Irlanda, o unionista Peter Robinson, e o presidente da Irlanda, Michael D. Higgins.

Ao final do ato, desta vez diante das câmeras de televisão, Elizabeth II e McGuinness, sorridentes, voltaram a apertar as mãos, enquanto o ex-dirigente do IRA dizia algumas palavras e a rainha consentia.

"Adeus e vá com Deus", afirmou em gaélico, segundo os jornalistas presentes, o ex-dirigente do Exército Republicano Irlandês (IRA), que combateu violentamente durante décadas o domínio britânico no Ulster.

Questionado pela imprensa sobre como havia sido o encontro com a rainha, McGuinness respondeu "muito bom". Na terça-feira (26), ele afirmou que estenderia a "mão da paz e da reconciliação" porque representa centenas de milhares de unionistas na Irlanda do Norte.

De líder do IRA, McGuinness, de 62 anos, passou a ser um dos idealizadores do processo de paz que resultou no acordo de 1998 e no anúncio do IRA de abandono da luta armada em 2005, abrindo as portas à formação em 2007 do governo autônomo do qual tem sido desde então o número dois. No ano passado, ele concorreu, sem sucesso, à presidência da Irlanda.

O encontro foi propiciado pela visita de reconciliação que Elizabeth II fez em maio do ano passado a Irlanda, a primeira de um monarca britânico desde a independência da república em 1922.

No principal discurso, salpicado de palavras em gaélico, a rainha expressou então em Dublin sua "profunda compaixão" pelas vítimas do "agitado passado comum". "Este novo ato levará a Irlanda do Norte a um nível completamente novo", declarou o ministro do governo britânico para a Irlanda do Norte, Owen Paterson. "Depois de todo o trauma, isto é o que todo mundo espera. Se trata de um futuro compartilhado, não dividido", completou.

Durante a noite, no entanto, foram registrados vários incidentes violentos na capital norte-irlandesa, provocados por jovens que lançaram coquetéis molotov contra policiais. Nove agentes ficaram feridos.

Na terça-feira, uma pessoa ficou ferida em um confronto na capital aparentemente provocado por uma faixa ao lado de uma bandeira irlandesa com a frase "Eriu é o nossa rainha", em referência a uma das três deusas mais importantes da mitologia irlandesa.

A viagem de Elizabeth II a Irlanda do Norte, província que visitou várias vezes nos últimos anos, faz parte da viagem que a soberana realiza desde março por todo o Reino Unido por ocasião do 60º aniversário de sua coroação.

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