Impulso à saúde popular: pandemia desfalca carteira de planos convencionais e favorece alternativas

Evaldo Magalhães
Hoje em Dia - Belo Horizonte
09/10/2020 às 21:07.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:46
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Uma conjugação de fatores ligados à pandemia do novo coronavírus, como a queda na renda de boa parte da população, o aumento do desemprego, que chegou a quase 14%, e até o temor das pessoas de irem ao médico para tratar de outras doenças, teve impacto negativo no número de clientes dos planos tradicionais de saúde suplementar. 

Segundo dados da agência que regula o setor (ANS), entre março e junho, quase 400 mil usuários abandonaram tais serviços: a clientela total no país foi reduzida de 47,113 milhões para 46,723 milhões em quatro meses. Em julho e agosto, houve ligeira recuperação na base de clientes (46,911 milhões), mas, ainda assim, com 200 mil a menos que no contingente anterior.

Paralelamente, houve um boom no segmento de “saúde popular”, sobretudo entre os cartões de descontos que mantêm parcerias com clínicas privadas de baixo custo, espalhadas pelo país. É o caso do ‘De Todos’, referência no setor: de 2,6 milhões de famílias atendidas no primeiro semestre de 2019, o total de beneficiadas passou a 3,8 milhões, durante a crise da Covid. Com isso, segundo o vice-presidente da empresa, Tales Vilar, o total de pessoas que utilizam o sistema é de 12 milhões em todo o país.

Somente em setembro, Vilar informa, foram realizadas mais de 800 mil consultas por meio do Cartão de TODOS, em 266 clinicas conveniadas - todas elas populares. Isso representou 500 mil consultas mensais a mais do que antes da pandemia. A meta da empresa é fechar 2020 com 5 milhões de filiados. E a previsão é de que, até o final de 2021, o número de consultas chegue a 12 milhões.

Entre os fatores que garantiram a atual impulsão, Vilar destaca a eficácia de estratégia da empresa e os efeitos da pandemia. “Quando se tem uma situação nacional de perda de renda e de empregos formais, é natural que haja queda na clientela dos planos de saúde e que as pessoas procurem alternativas ao SUS, com o as que oferecemos”, diz ele.

“Mas o aumento na base de clientes também se deve, em grande medida, ao esforço de todas as unidades e franquias, bem como a nossas estratégias de vendas. Conseguimos alinhar os objetivos e valores da empresa à necessidade da população, neste momento de alta demanda por serviços médicos”, conclui.

Aposentada destaca qualidade dos serviços
em relação ao que é oferecido pelo SUS 

A aposentada Mercedes Santos, de 72 anos, é usuária antiga do cartão “De Todos”. E põe na ponta do lápis as vantagens de usá-lo semanalmente em uma clínica popular no Barreiro, perto de onde mora, em vez de fazer um plano suplementar tradicional ou mesmo depender do SUS para cuidar de si. 

Embora não disponha de internações por meio do plano popular, Mercedes paga R$ 23 mensais para ter direito a serviços com descontos. A cada consulta na clínica conveniada, à qual ela não poupa elogios, desembolsa R$ 20 ou R$ 28, dependendo da especialidade. Os preços se repetem para sessões de fisioterapia e exames. Utilizando tais procedimentos duas vezes por semana, a aposentada gasta por mês R$ 247. 

Se, aos 72 anos, fosse cliente da operadora de saúde mais conhecida da capital, por exemplo – com direito a internações, mas tudo no sistema coparticipativo – ela pagaria boletos de R$ 1.360 (enfermaria) a R$ 1,8 mil (apartamento), mais os valores por consultas (de R$ 14,95 a R$ 27,50 cada, dependendo do plano) e exames (mesmas quantias).

Mercedes, cuja faixa de renda praticamente proibe a adesão a planos convencionais, vê vantagem mesmo é na comparação com o SUS. “Pelo serviço público, consultas eletivas que eu precisava demoravam até dois anos, e isso sem a pandemia, porque agora tudo piorou”, diz. “Com o cartão, pago pouco e tenho acesso a procedimentos que nem conseguiria no SUS, como uma colonoscopia que fiz recentemente”, acrescenta. 

  

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