Parece viável a meta anunciada nessa segunda-feira (22) pela presidente Dilma Rousseff de o Brasil passar a produzir 2 milhões de toneladas anuais de peixes, com investimentos governamentais de R$ 4,1 bilhões até 2014. Haverá estímulos à pesquisa, assistência técnica, formação de cooperativas, melhoria das condições de armazenamento e à comercialização. Além de tornar a indústria da pesca mais competitiva, o governo quer tirar da pobreza milhares de famílias de pescadores.
O Brasil produz apenas 1,3 milhão de toneladas anuais, quantidade bem inferior ao seu potencial. É verdade que sua extensa costa marítima, de 8,5 mil quilômetros, não é tão rica em vida marítima como em outras regiões do planeta, mas o país tem a maior reserva de água doce do mundo, que é ainda pouco explorada pela indústria pesqueira.
No passado, empresários da área mostraram-se mais competentes em pescar recursos do governo do que em aumentar a produtividade de suas empresas. O governo Dilma parece apostar na capacidade das famílias para aumentar a produção de peixes em lagoas, represas ou tanques escavados em suas propriedades. A agricultura familiar já demonstrou seu valor, em anos recentes, ao receber incentivos do governo, e está pronta para dar mais um passo.
A Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO) estima que o Brasil pode alcançar 10 milhões de toneladas de pescados em 2030. O ministro da Pesca e Aquicultura, Marcelo Crivella, mostrou-se mais otimista, em entrevista a este jornal. Para ele, é possível elevar a produção brasileira para um patamar de 20 milhões de toneladas anuais, aumentando o faturamento dos atuais R$ 8 bilhões por ano, para R$ 100 bilhões. A meta é ambiciosa, mas não irreal.
Em todo o mundo, a indústria pesqueira está crescendo e garantindo a mais de 3 bilhões de pessoas pelo menos 15% de seu consumo médio de proteínas de origem animal.
Minas possui grandes reservas de água doce, como os lagos de Furnas e Três Marias, onde é possível produzir milhares de toneladas de peixes e faturar mais de R$500 milhões por ano. Existem mineiros dispostos a enfrentar o desafio. Segundo a Emater-MG, a aquicultura tem crescido no Estado a uma taxa de 15% ao ano. Mas são muitas as dificuldades criadas pelo próprio governo estadual. É o que explica, por exemplo, que dezenas de criadores de trutas de Itamonte, no Sul de Minas, estejam na clandestinidade, por atraso na concessão de licenças ambientais.