Inovação com toque feminino: durante a pandemia, empresárias usaram mais as redes para ampliar venda

Marciano Menezes e Evaldo Magalhães
primeiroplano@hojeemdia.com.br
25/09/2020 às 19:30.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:38
 ( Maurício Vieira)

( Maurício Vieira)

A pandemia do novo coronavírus castigou a maioria dos empreendimentos no país, principalmente os de pequeno e médio porte. No entanto, durante este período, as mulheres demonstraram maior agilidade e competência para implementar inovações em seus negócios em relação aos homens, segundo pesquisa divulgada ontem pelo Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) e a Fundação Getúlio Vargas (FGV).

O levantamento apontou que 71% das mulheres usou as redes sociais, aplicativos ou a internet para vender seus produtos, enquanto a utilização dessas ferramentas pelos homens ficou em 63%. Essa vantagem das empreendedoras foi constatada também no uso do delivery e nas mudanças desenvolvidas em produtos e serviços.

A queda no faturamento mensal atingiu 76% para os empresários do sexo masculino, mas castigou de forma mais acentuada as mulheres (78%). No entanto, devido ao isolamento social, as empresárias começaram a utilizar mais as vendas online do que os homens (34% contra 29%, respectivamente). 
Da mesma forma, inovaram mais oferta dos produtos e serviços (11%) em relação aos empresários (7%), assim como usaram mais os serviços de delivery (19%), enquanto 14% dos empresários passaram a adotar essa mesma estratégia.

Escolaridade

O presidente do Sebrae, Carlos Melles, atribuiu esse melhor desempenho das mulheres ao maior nível de escolaridade. “As mulheres são mais escolarizadas do que os homens: 63% delas têm nível superior incompleto ou mais, contra 55% dos homens com esses mesmos níveis de escolaridade”, comenta. Outra possível explicação pode estar, segundo ele, no fato do percentual de mulheres jovens empreendendo ser maior do que o de homens (24% delas têm até 35 anos contra 18% deles).

Menos empréstimos
A pesquisa do Sebrae e da FVG mostrou ainda que as mulheres também estão mais avessas ao empréstimo bancário do que que os homens. 
Desde o início da pandemia, 54% dos empresários do sexo masculino buscaram crédito, enquanto as mulheres foram no caminho inverso: 55% delas não recorreram a financiamentos. 

O analista de Inteligência Empresarial do Sebrae Minas, Breno Fernandes, avalia que a concentração de mulheres em atividades como salões de beleza, fornecimento de alimentos para o lar, objetos de decoração e até mesmo no comércio varejista levaram a essa maior utilização as redes sociais. 

“Só para ter uma ideia, as atividades de comércio varejista de vestuário e cabeleireiros são quase 80% dos MEIs (Microeempreendor individual) concentrados nas mãos de mulheres. E foram duas atividades extremamente afetadas pela pandemia. Então, elas tiveram que criar mais alternativas para garantir a sobrevivência do que as atividades consideradas essenciais”, avaliou. 

Breno Fernandes conta também que 97% as atividades de tratamento de beleza estão nas mãos de mulheres, segmento que tem muito maior poder de persuasão via rede social.

 Correria, novas receitas, produtos diferenciados e adesão a tecnologias triplicam faturamento 

No meio da tarde, a empresária Lídice Peres, de 39 anos, sobe até a casa onde mora, no segundo andar da pequena pâtisserie (loja de doces e bolos) que comanda há cinco anos no Sion, Centro-Sul de BH, para atender ao telefonema da reportagem. Diz alô e percebe que, com o barulho, acordou o filho. “Esqueci que ele estava dormindo”, comenta a mãe “solo”, como ela se descreve, antes de pedir desculpas a uma ajudante, que olhava a criança, pelo descuido.

A cena traduz bem a correria de Lídice, exemplo de inovação no empreendedorismo feminino, desde o início da pandemia, quando precisou se reinventar para pagar as contas e manter o próprio negócio – sonho iniciado depois de retornar da Europa, onde morou por nove anos. 

Uma das primeiras providências, conta ela, foi voltar a ser MEI, depois de anos como adepta do Simples. “Fiquei chorando por três dias, em março, pensando no que seria da minha vida com a crise. Refleti e vi que virar MEI novamente seria mais econômico”, lembra. Em seguida, turbinou a presença nas redes e desenvolveu novas receitas de inspiração francesa e produtos, como as cestas de café com itens exclusivamente artesanais.

“Coloquei meu Whatasapp no Instagram para que as pessoas tivessem mais contato comigo. Foi meio cansativo, mas valeu a pena”, afirma a chef. Na Páscoa, o que se desenhava como um desastre virou um sucesso. No Dia da Mães, as cestas bombaram. “Felizmente, tripliquei as vendas e guardei dinheiro para expandir”, conclui. 

  

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