Investimentos de R$ 66 bilhões em Copa e Olimpíada contribuíram pouco para avanço do país

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
01/05/2016 às 11:45.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:13
 (Aqruivo/Hoje em Dia)

(Aqruivo/Hoje em Dia)

Somados, os custos para a realização da Copa do Mundo de 2014 e da Olimpíada de 2016 são de aproximadamente R$ 66 bilhões. Desse montante, mais da metade (R$ 39,5 bilhões) saíram dos cofres públicos. No entanto, na avaliação de especialistas, os investimentos bilionários para os megaeventos esportivos não trazem ganhos significativos para o desenvolvimento do país.

Se comparado a outras demandas atuais, o dinheiro gasto na Copa e na Olimpíada seria suficiente para cobrir duas vezes o valor que o governo pretende arrecadar em 2017 com a volta da CPMF, cerca de R$ 33,2 bilhões por ano. A mesma quantia poderia suprir, ainda, o déficit no orçamento da União em 2016, que será de R$ 60,2 bilhões, segundo o Ministério da Fazenda.

Parte do valor ainda foi desperdiçado em obras de mobilidade urbana que ficaram inacabadas ou tiveram problemas estruturais. Em capitais como Cuiabá, Recife e Fortaleza, corredores e trilhos planejados para transporte rápido de passageiros não ficaram prontos a tempo da Copa e permanecem abandonados.

Em Belo Horizonte, o viaduto Batalha dos Guararapes, construído dentro do PAC Mobilidade da Copa, desabou matando duas pessoas e ferindo outras 23 em julho de 2014. A obra não foi refeita e não há previsão para novas intervenções no local. No Rio, na última semana, parte da ciclovia Tim Maia, construída no pacote de obras para a Olimpíada, desabou matando duas pessoas. Juntas, as duas obras custaram R$ 57 milhões.

Impactos

De acordo com o Ministério dos Esportes, a realização da Copa gerou acréscimo de R$ 30 bilhões ao PIB brasileiro, segundo pesquisa realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Ainda segundo o Ministério, dez mil empresas de pequeno porte faturaram pelo menos R$ 500 milhões com o evento, o que impulsionou a geração de 50 mil empregos temporários e permanentes.

No entanto, a julgar pelo desempenho da economia brasileira pós-Copa, fica evidente que o evento influenciou pouco no crescimento do país, afetado pelo cenário político turbulento e conjuntura econômica internacional desfavorável. O Produto Interno Bruto (PIB) de 2014 recuou 0,6% no segundo semestre, imediatamente após a competição. Além disso, a realização do evento não modificou o ambiente de negócios, atraindo novos investimentos. Pelo contrário, a economia se deteriorou ainda mais em 2015, encolhendo 3,8% conforme o IBGE.

Problemas de infraestrutura permanecem após festa do esporte

A menos de cem dias dos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro, a situação política do país torna o cenário ainda mais delicado. A presidente Dilma Rousseff receberá a tocha olímpica amanhã, no Palácio do Planalto, mas corre risco de ser afastada do cargo oito dias depois, caso o processo de impeachment avance no Senado.

Na avaliação do professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional (Ippur) da UFRJ Orlando Alves dos Santos Júnior, por mais que a situação política se resolva, é pouco provável que o país tenha melhorias reais na economia ou na infraestrutura.

Para ele, os jogos olímpicos deixaram de ser eventos de congraçamento entre nações e passaram a ser acontecimentos puramente comerciais.

“É fundamental desconstruir a ideia de legado. Isso é uma ideologia construída para legitimar um evento. É evidente que, a partir de uma coalizão de poder, há determinadas comunidades que são beneficiados com essas obras de BRT, por exemplo. Mas esse modelo de megaevento precisa ser repensado”, afirma.

Segundo o pesquisador, o país não teve coragem de questionar exigências da Fifa, que agora está sendo investigada por esquemas de corrupção, nem do Comitê Olímpico Internacional (COI). Com isso, programas como a urbanização de favelas no Rio, que ficariam como herança dos Jogos Olímpicos, foram completamente descontinuados.

“São megaeventos de cidades que se negam a sediar suas próprias populações. São promovidos por um conjunto de empresas e coordenadas por vários interesses econômicos que impõem normas que ferem legislações locais”, critica Orlando.

O economista do Ibmec Eduardo Coutinho afirma que os benefícios econômicos e sociais dos eventos são residuais. “Há um aquecimento da economia e do nível de felicidades da população apenas durante a ocorrência dos jogos. A maior parte dos problemas de infraestrutura continua a existir. Não há, de fato, um legado”. 

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