Investimentos tornarão Confins uma porta de entrada de Minas e do Brasil

Janaína Oliveira - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
15/09/2014 às 07:02.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:12
 (Carlos Rhienck)

(Carlos Rhienck)

Chamado de novo “síndico” do Aeroporto Internacional Tancredo Neves pelo ministro da Secretaria da Aviação Civil (SAC), Moreira Franco, o diretor-presidente do consórcio BH Airport, Paulo Rangel, que completou um mês à frente da gestão de Confins, diz que a função exige muito mais que uma boa administração.

“É um pouco diferente. Você lida com muita coisa. Tem que buscar recurso pra fazer o que precisa. Os acionistas colocam uma parte, mas também tem que ter financiamento externo. E são investimentos pesados. Estamos falando em R$ 1,5 bilhão em dez anos, sendo R$ 500 milhões em dois anos”, diz.

O primeiro passo já foi dado, com a melhoria dos banheiros e da sinalização e implantação da rede wi-fi, conforme ele afirma nesta entrevista exclusiva ao Hoje em Dia’. A próxima etapa é reconfigurar e ampliar o terminal existente, que ganhará 14 novas pontes de embarque até abril de 2016, aumentando a capacidade para 20 milhões de passageiros/ano, o dobro da atual. “Já vamos começar a receber novos voos, inclusive internacionais. Queremos que o aeroporto seja um hub, uma porta de entrada de Minas e do Brasil”.

Como o consórcio BH Airport encontrou o Aeroporto Internacional Tancredo Neves?
Entre os pontos positivos, vimos que a equipe da Infraero já era muito dedicada para que esse aeroporto funcionasse bem, tanto é que o aeroporto foi reconhecido com prêmios. Encontramos uma equipe muito dedicada ao atendimento ao usuário, que é a visão que nós temos muito forte como concessionária. Estamos aqui para atender bem ao cliente. E a Infraero já tinha isso na parte operacional. Desde janeiro, quando começamos a vir pra cá, sentimos que a equipe era motivada no sentido de fazer com que o usuário ficasse satisfeito no aeroporto, agora, infelizmente, convivendo com obras.

E esse foi o principal ponto negativo?
Em qualquer lugar do mundo, as obras impactam tremendamente na operação. O usuário passa e vê um martelete, um rompedor fazendo barulho, uma estrutura metálica subindo montando telhado, vidro. Isso é ruim pra todo mundo, ninguém gosta. E infelizmente, o consórcio que foi contratado para fazer as obras do Terminal de Passageiros talvez não tivesse uma experiência grande neste tipo de obra e não conseguiu entregá-la no prazo, com a qualidade nem sempre adequada. Esse é um resumo do que encontramos aqui: um conflito entre operação e obras, necessárias e importantes, mas com um cronograma defasado, com várias promessas não cumpridas, e o pessoal da operação se esforçando para ter um aeroporto em boas condições.

Como fica esse imbróglio, já que o consórcio Marquise/Normatel, responsável pela reforma e ampliação do Terminal de Passageiros I, abandonou a obra com só 51% de conclusão?
A responsabilidade é da Infraero. No contrato, são obras que a gente chama de poder público, que a Infraero já deveria ter entregue, até bem antes da Copa, o que todo mundo sabe. Agora, a Infraero está em discussão com o consórcio para ver o que irá acontecer. É um imbróglio, realmente. E eles estão discutindo qual será a solução, se vão chamar outra empresa pra executar. Nós somos parte interessada nisso, pois se essa obra não for concluída a tempo, como vamos fazer as obras que temos que fazer? Estamos conversando um pouco com a Infraero, possivelmente a Anac vai ser envolvida nisso. E esperamos que tenha uma solução pra isso o mais rápido possível. Estamos acompanhando, mas não podemos interferir porque é um contrato de uma empresa privada com a Infraero, mas que impacta no nosso negócio. Por isso, estamos atentos e discutindo opções, participando de conversas. Pelo contrato, já temos que avaliar as obras. Já fizemos relatório de andamento de obra para a Infraero. Fizemos também relatório para a Anac, com pontos que identificamos com a qualidade não adequada e prazos futuros de obras. Estamos ajudando, só não podemos pegar a empreiteira e dizer: olha, o cronograma é esse, temos que fazer isso e aquilo. Isso é a Infraero que tem que fazer.

E qual será o destino do Terminal de Passageiros 3, conhecido como “puxadinho”? Há um temor de que a obra, construída com dinheiro público, seja inutilizada.
O terminal não vai ser dedicado a uma empresa. A utilização dele será muito mais ampla que isso. E nem demolido. Neste momento, não. Pode ser que, na hora em que o nosso terminal começar a crescer, mas isso depois de dez anos, depois que a gente precise ampliar, pode ser que lá pra frente nós tenhamos que fazer uma demolição parcial. Mas isso ainda está em estudo, se tem uma geometria diferente pra fazer no terminal, não está definido. Hoje, não vamos demolir. Isso realmente seria desperdiçar o dinheiro público. Agora, como todo aeroporto que amplia, às vezes você precisa construir e desconstruir, assim como vamos ter que fazer agora no terminal existente. Demolir um bocado de coisa pra construir lá dentro novos ambientes. Isso é normal em qualquer ampliação de aeroporto, no mundo todo funciona assim. Nos próximos dez anos, a configuração do aeroporto conta com o Terminal 3, que servirá de apoio à operação durante o período de obras, quando iremos reconstruir a parte de embarque internacional. Até o final do ano, ele já estará sendo utilizado.

Quanto à obra de ampliação da pista, quando será concluída? E a previsão da segunda pista, de responsabilidade do BH Airport?
Depois de entregarmos o terminal ampliado, até 30 de abril de 2016, quando o aeroporto terá capacidade para 20 milhões de passageiros, a próxima grande entrega, em 2020, é da segunda pista, que será construída a aproximadamente 1.400 metros de distância da pista já existente. Pelo contrato, para construirmos a nova pista, temos que alcançar 198 mil movimentos ano ou, no máximo, até 2020, o que acontecer primeiro, é um gatilho. Hoje, temos em torno de 102 mil pousos e decolagens por ano. Com o crescimento projetado, o dobro de movimentos só aconteceria e 2021, 2022. Mas como o contrato diz ou 198 mil movimentos ou constrói-se até 2020, estamos trabalhando com esse planejamento. Até lá, teremos a segunda pista. Já a ampliação da pista existente em 600 metros e recuperação do pavimento trata-se de um contrato da Infraero com a Cowan e que vai continuar. Aí, como operadores, com experiência em aeroporto, já estamos participando e discutindo com a Infraero e a empresa a melhor opção, porque tem que interromper a pista. Esse cronograma está sendo reajustado, e até meados do ano que vem já devemos ter a pista ampliada, totalizando 3.600 metros, prevendo aviões de porte bem maiores até.

O sonho do mineiro é estar mais perto de cidades do exterior. Podemos esperar novas rotas?
Estamos trabalhando nisso juntamente com as empresas aéreas, que têm nos procurado. Muitas vezes era noticiado que a companhia aérea queria um voo para Juiz de Fora, para Bahia, mas não podia, porque tinha uma restrição do pátio, que era muito pequeno. E também as pontes de embarque. Então, se você não tem posições de embarque nas pontes e não tem pátio para parar remotamente, você restringe, a infraestrutura é pequena. Hoje, o pátio está sendo aumentado, daqui a pouco vai entrar em operação definitiva, e você já tem então posições de embarque remoto. E, com isso, já se consegue ter mais voos. Essa restrição está sendo acabada e agora já vamos começar a receber novos voos, inclusive internacionais, porque há um espaço bom para eles. As empresas aéreas estão fazendo estudos de viabilidade, mas vamos dar a estrutura para que isso aconteça. E nós queremos que esse seja um hub, uma porta de entrada de Minas e do Brasil. Nosso planejamento é esse. Já estamos conversando com as empresas aéreas. O governo de Minas ajuda bastante, porque pode oferecer alguns incentivos de combustível, que precisa ser feito. Um voo para começar e ter uma ocupação demora um certo tempo. Isso já está sendo trabalhado em parceria.

A próxima rota direta será Punta Cana?
Tudo indica que sim. Ainda não há uma data. A Gol anunciou, mas a Anac ainda precisa aprovar. Mas assim que a Anac autorizar, será realidade. E estamos em negociação com outras companhias, mas isso é uma informação estratégica, que não podemos adiantar.

O fato de o consórcio ter entre seus sócios o operador de Zurique é um facilitador?
O fato de tê-lo conosco facilita muito, porque ele tem muita experiência na Europa e isso é importante. Vamos tentar trazer novos voos da Europa. A TAP já trabalha aqui hoje e quem sabe a gente não traz outras companhias aéreas.

A Infraero chegou a licitar vários pontos, inclusive um restaurante popular, para o que seria a nova praça de alimentação. O aeroporto não terá mais a unidade de preços populares? Quais os novos planos do consórcio para o espaço?
Estamos fazendo um projeto comercial, com base na reconfiguração do terminal existente. Temos um projeto em desenvolvimento para toda a área de alimentação. A ideia é fazer um mix de restaurantes de alto nível, com grife, reconhecidos internacionalmente, e boa comida mineira, e ter também alguma parte de restaurante ou lanchonete com comida mais rápida, mas com preço mais acessível, assim como em um shopping, onde você tem um nível mais alto, médio, intermediário, até o mais acessível. No terraço, vamos ter uma área vip, pois aquilo ali é uma área nobre, com visão privilegiada para o pátio. Tudo será reconfigurado, com um mix de preços adequado.

O usuário terá que pagar mais caro por serviços como estacionamento?
Sei que outros aeroportos já aumentaram. Mas estamos fazendo um estudo completo de mercado. É oferta e demanda. Há alguns estacionamentos mais próximos do terminal que possivelmente podem ter preço diferenciado, porque oferecem um serviço melhor. Já estamos pensando em ter preços variados, então o valor do estacionamento mais próximo pode ser um, e de outro mais longe um pouco, ser menor.

Alguns usuários reclamam de falta de sinalização e da rede wi-fi. O que o consórcio tem a dizer sobre isso?
O wi-fi foi implantado e está com a capacidade adequada. Na verdade, estamos hoje com 50% da nossa capacidade. Agora, muitas vezes, dependendo do site que você acessa, demora mais tempo. Então não é um problema da infraestrutura que está colocada, às vezes é do site. Não há nenhuma dificuldade operacional. A gratuidade é de 30 minutos, que é o período médio de espera e que a gente entende como um prazo adequado para a pessoa baixar os arquivos que precisa. Meia hora é o tempo que se oferece quase no mundo todo. Quanto à sinalização, estamos fazendo todo o planejamento visual do aeroporto, com comunicação, informação. Vamos configurar toda a parte de orientação para os usuários, para que eles possam se localizar com mais facilidade. Também já ajudamos a Infraero a melhorar aspectos como papel de parede, troca de carpete, configuração melhor dos novos banheiros e limpeza.

Qual o planejamento para o Aeroporto Indústria? Agora que já não existe mais a necessidade de licitação, o empreendimento poderá ser iniciado com mais rapidez? Já há empresas interessadas?
Temos alguns desafios pela frente, até porque é uma coisa nova, será o primeiro Aeroporto Indústria do país. E como é novo, você precisa ter uma autorização da Receita Federal, porque é uma área alfandegária. Já começamos, já temos um projeto, pessoas designadas para isso, para junto com o governo de Minas, com a Receita, desenvolver um software especial. A gente entende que é algo muito interessante, que pode trazer volume de aviões maiores, com aumento da receita, o que é interesse nosso, mas tem um planejamento que depende de outros órgãos. Neste primeiro momento, temos três empresas interessadas, uma delas de componentes eletrônicos (Clamper), e existe a possibilidade de mais. Se começar com três, já está bom, é um balão de ensaio. E isso vai sendo incrementado. Só não há uma data específica, até porque chegamos há muito pouco tempo. Mas o consórcio tem todo o interesse em fomentar o aeroporto industrial.
 

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