
A Selic, taxa básica de juros da economia e que serve de parâmetro para a captação de recursos pelos bancos do país, está mais baixa do que nunca (4,5%). A inadimplência tem recuado a olhos vistos – o indicador nacional, que encerrou 2018 com alta expressiva de 4,4%, terminou 2019 com redução de -0,2% em relação ao ano anterior. O cadastro positivo, que deve ampliar o crédito geral, com base na divulgação dos bons pagadores, também entrou em vigor, neste mês.
Apesar de tudo isso, e do aumento da concorrência no sistema financeiro, com a multiplicação de fintechs e bancos digitais, os juros pagos por correntistas continuam excessivamente elevados. Tanto que o Brasil segue figurando entre países com maior “spread” – diferença entre o que o banco paga para captar dinheiro e o que cobra ao emprestar.
Divulgado na última quarta-feira, o relatório anual sobre crédito do Banco Central (BC) mostrou que o spread brasileiro passou de 17 pontos percentuais, em dezembro de 2018, para 18,4 pontos percentuais ao fim de 2019 – alta de 1,4 ponto percentual.
Boa notícia, contudo, foi dada no início da semana pelo diretor de Organização do Sistema Financeiro do mesmo BC, João Manoel Pinho de Mello. Ele revelou que a expectativa da instituição é de que o spread diminua cerca de 30% até o início de 2021, justamente em razão da conjunção dos fatores mencionados.
A avaliação é de que a redução impacte diretamente modalidades de crédito que há muito tempo figuram entre as de taxas mais altas, como o cartão de crédito rotativo, o crédito direto ao consumidor e o cheque especial - cujos juros foram limitados, recentemente, a 150% ao ano pelo BC. Nesses casos, os índices de correção tenderiam a acompanhar a queda do spread, caindo também 30% em relação aos valores médios atuais.
Na semana de 10 a 16 de janeiro, conforme estatísticas publicadas pelo BC, as taxas de juros do cartão rotativo nos cinco maiores bancos de varejo brasileiros, por exemplo, oscilavam entre 210% e 307% ao ano. Se a previsão do BC se confirmar, poderão cair, já em meados do próximo ano, para algo entre 140% e 200% ao ano.
Para o analista financeiro Paulo Vieira, a queda de 30% no spread, vislumbrada pelo BC, “é mais uma meta a ser atingida” do que algo que possa ser considerado concreto, no momento. Vieira diz que a Selic baixa e a criação do cadastro positivo – instrumento que reduz riscos para os bancos e propicia taxas de juros mais baixas – devem, de fato, contribuir para diminuir a distância entre valor pago na captação e nos empréstimos bancários.
Ele pondera, contudo, que outras medidas poderiam mitigar ainda mais tal discrepância. “Reduzir os impostos sobre os bancos, que oneram a administração e têm reflexos sobre o crédito das instituições, e mexer nos depósitos compulsórios, aquela parte que o banco deposita no BC sobre qualquer valor emprestado, seriam ações fundamentais para abaixar o spread”, afirma.