Justiça determina prisão de João de Deus; 11 vítimas já foram identificadas em Minas

Da Redação (*)
14/12/2018 às 13:29.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:34
 (Marcelo Camargo / Agência Brasil)

(Marcelo Camargo / Agência Brasil)

A Secretaria de Segurança Pública de Goiás confirmou nesta sexta-feira (14) que o Tribunal de Justiça de Goiás acatou o pedido do Ministério Público de Goiás (MP-GO) e determinou a prisão do médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Ele é alvo de denúncias de abusos sexuais. A reportagem ainda não conseguiu falar com o advogado Alberto Toron, que defende o médium. O advogado protocolou nessa quinta-feira (13) pedido para que o tribunal autorizasse o médium a continuar os atendimentos na Casa Dom Inácio Loyola, em Abadiânia.

Até essa quinta-feira, a força-tarefa criada pelo Ministério Público Estadual de Goiás para apurar as acusações de abusos sexuais contra João de Deus já havia recebido 330 mensagens e contatos por telefone de mulheres que afirmam ser vítimas de crimes sexuais praticados pelo médium. Promotorias de Justiça Criminais do Ministério Público de outros estados também estão recebendo denúncias e auxiliando o MP de Goiás na apuração, colhendo os depoimentos das denunciantes.

Em Minas, o número de possíveis vítimas de abuso sexual do médium continua aumentando. Até a noite desta quinta (13), o Ministério Público de Minas Gerais havia registrado as denúncias de 11 mulheres. De acordo com o órgão, as vítimas estão sendo acolhidas pelo Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa dos Direitos Humanos (CAODH).

Todos os relatos foram recebidos em Minas e encaminhados ao Ministério Público do Estado de Goiás. Conforme o MPMG, o canal de comunicação com o CAODH para possíveis vítimas de João de Deus é o telefone (31) 3330-8394.

Defesa

Classificando o pedido de prisão como descabido na quinta-feira (13), o advogado de defesa de João de Deus, Alberto Zacharias Toron, em audiência com o juiz que acompanha o caso, solicitou que o médium permanecesse em liberdade. Sugeriu ainda que os atendimentos pudessem ser feitos de forma assistida - com a presença de policiais ou monitorado por câmeras.

Toron argumentou que João de Deus tem residência fixa e já se mostrou disposto a colaborar com a Justiça. Na quarta-feira (12), num rápido aparecimento que fez na Casa Dom Inácio de Loyola, o líder espiritual disse ser inocente e que estava nas mãos da Justiça. "João de Deus está vivo", disse ele, para um público reduzido de fiéis.

Desde que as primeiras denúncias de abuso vieram à tona, o movimento na Casa Dom Inácio de Loyola caiu. Pelos cálculos de funcionários, o local recebeu nesta quinta-feira cerca de um terço do número costumeiro de visitantes. A estimativa é de que o médium atraia mensalmente cerca de 10 mil pessoas, das quais 40% são estrangeiras.

As denúncias de abuso sexual surgiram na semana passada, quando o programa "Conversa com Bial", da TV Globo, mostrou depoimento de mulheres que teriam sido vítimas de João de Deus. Depois da divulgação, começaram a surgir novos depoimentos.

A cidade aguarda dividida os desdobramentos. Com 17 mil habitantes, boa parte da economia do município gira em torno das atividades de João de Deus. O prefeito da cidade, José Aparecido Alves Diniz, calcula que a casa gere direta ou indiretamente 1.300 postos de trabalho. "Não há como negar que vai ser um baque para o município", disse.

Fiéis, por sua vez, estão divididos. Apegados à fé, muitos afirmam ser necessária a distinção entre o que faz o homem e a entidade. Outros não acreditam nas denúncias. "Mas é claro que as investigações têm de ser feitas. Não devemos julgar apressadamente nem contra ou a favor", disse a paulista Elizabeth Cozza. Mesmo diante das denúncias, ela decidiu vir para Abadiânia em busca de tratamento.

Em entrevista, Luciano Miranda Meireles, coordenador do Centro de Apoio Operacional Criminal, disse estar impressionado com o relato das vítimas e afirmou não ter dúvida de que, uma vez formalizadas as denúncias, o caso João de Deus tem potencial para superar o do ex-médico Roger Abdelmassih, condenado por abusar sexualmente de suas pacientes.

Meireles ponderou que o número de casos é maior - pois não se restringe a uma pequena parcela de pacientes."Fora o tempo. Há relatos de abusos cometidos há 20 anos".

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