
Eles não são muitos, mas chamam a atenção.Em Belo Horizonte, os estabelecimentos que resistem ao cartão de crédito (e muitas vezes ao débito) e driblam a modernidade precisam se esforçar para atrair e manter o cliente, que muitas vezes sai apenas com o dinheiro de plástico na carteira. Entre as artimanhas para não perder a freguesia, vale apostar na qualidade do produto ou serviço. Avaliar as taxas cobradas pelas operadoras para saber se compensa aderir às máquinas também é essencial para saber se o cartão vale a pena.
Quem não aceita cartão, normalmente tem bons motivos para a recusa. No Bar do Toninho, que desde 1983 serve porções de comida síria na Serra, região Centro-Sul de Belo Horizonte, vetar o cartão de crédito serve como forma de evitar o aumento demasiado da quantidade de clientes. “O bar é gerenciado pela família, somos poucas pessoas para produzir e servir. É uma forma de conseguir atender a todos com mais qualidade”, afirma um dos proprietários, Daniel Auad.
Por enquanto, nenhum tipo de cartão é aceito, mas ele não descarta a possibilidade de o cenário mudar no médio prazo. “As pessoas vêm porque a comida é boa. Produzimos tudo aqui, menos o pão sírio. Tem gente que tira dinheiro antes, mas aceitamos cheque também”, diz.
No bar e restaurante Fundos da Floresta, localizado na região Leste da Capital, o cliente pode pagar com cheque e até cartão de débito. Mas o crédito está fora de cogitação.
Além de evitar desembolsar com as taxas para as operadoras, o proprietário Humberto Gonçalves de Souza, paga os 10% dos garçons em dinheiro, logo após o expediente. “Sem contar que a casa só abre duas vezes por semana, na sexta e no sábado. O trabalho é mais por amor mesmo. Temos um público fiel que gosta da nossa atmosfera, da nossa decoração, e eles já sabem que não aceitamos cartão de crédito”, diz o empresário.
No bar, que tem uma decoração mística e simula uma floresta encantada, os garçons e garçonetes atendem fantasiados de seres mágicos, como bruxas, fadas e duendes.
Margem de lucro apertada pode não ser vantajosa
Para saber se usar o cartão de crédito é saudável financeiramente para o negócio, o empresário deve, antes, comparar a margem de lucro com a taxa cobrada pelas operadoras. “Se o ticket médio for muito pequeno, por exemplo, e a margem apertada, pode não ser vantajoso para o comerciante aceitar cartão”, pondera o coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato.
Quando o valor da compra é mais alto, no entanto, o especialista alerta que aceitar cartão pode ser uma boa forma de atrair o cliente. “Mesmo que a pessoa não vá parcelar, ela pode comprar no cartão e jogar o pagamento para o outro mês, por exemplo. Dessa forma, ela se programa melhor”, afirma.
Na academia Corpo e Água, localizada no Calafate, região Oeste da cidade, os clientes não podem pagar a mensalidade vigente com cartão de crédito. Para utilizar o dinheiro de plástico, precisam comprar pacotes de 4, 6, 9 ou 12 meses, ou seja, têm que antecipar o pagamento. Na falta das maquininhas, a academia aceita cheque.

Conforme explica a gerente administrativo da academia, Erica Dutra, o público alvo do estabelecimento trabalha com cheque e, por isso, não há problemas na atração e na manutenção dos clientes. “A maioria dos nossos clientes é da terceira idade e usa o cheque habitualmente. Até preferem. Assim, já que podemos evitar o pagamento da taxa, evitamos”, afirma a responsável pela Corpo e Água.
No estúdio de beleza Handy, localizado no Gutierrez, região Oeste, a transferência bancária é a principal forma de receber dinheiro, conforme afirma a proprietária, Thais Pereira. “Estamos há 11 anos no mercado e grande parte da clientela está desde o começo. Nosso serviço é personalizado, as pessoas vêm pela qualidade”, afirma.