Macron causa polêmica ao dizer que franceses não gostam de mudanças

Agence France Presse
30/08/2018 às 14:46.
Atualizado em 10/11/2021 às 02:12

O presidente francês Emmanuel Macron causou polêmica nesta quinta-feira ao classificar seus compatriotas de "gauleses reacionários à mudança".

Na quarta-feira (29), em Copenahague, em um discurso aos franceses residentes na Dinamarca, Macron elogiou o modelo dinamarquês de "flexisegurança", mas disse que as diferenças culturais entre os franceses e os dinamarqueses impediam imitá-lo em território francês.

"Esse povo (dinamarquês) luterano, que viveu as transformações dos últimos anos, não é exatamente o gaulês que reluta em mudar", declarou Macron.

A oposição francesa reagiu rapidamente, acusando o presidente de caricaturar os franceses estando no exterior. 

"Na Grécia, ele tratou os franceses como preguiçosos e, agora, diante da rainha da Dinamarca nos caracteriza de gauleses relutantes", criticou Laurent Wauquiez, líder do partido de oposição de direita Os Republicanos.

"É inadmissível ouvir um presidente da república criticar, caricaturar os franceses quando ele está no exterior", acrescentou Wauquiez.

Diante das críticas, Macron se defendeu nesta quinta-feira (30) argumentando se tratar apenas de um "toque de humor". 

"Há uma coisa que caracteriza a França, o povo francês, é seu gosto pela inteligência, pela ironia, por rir de si mesmo", disse o presidente de 40 anos.

Ele acrescentou que a França é um "país que, nos momentos sérios da história, sabe se transformar em profundidade", mas "não somos um país cuja cultura é o consenso, os ajustes graduais, como outros, em particular os países bálticos e escandinavos".

Trata-se de uma polêmica fora de contexto e distante do "espírito francês", acrescentou, chamando as pessoas a "evitar polêmicas (...) fora de contexto".

Desdenhoso

A esquerda radical também não demorou a reagir. O deputado do partido França Insubmissa estimou que o comentário de Macron foi "muito desdenhoso contra seu próprio povo".

A líder da extrema-direita Marine Le Pen reagiu em um tuite. "Como de costume, [Macron] despreza os franceses no exterior!". "Os 'gauleses' vão se dar o prazer de responder à sua arrogância e desprezo", acrescentou a ex-candidata à presidência. 

Os sindicatos, em plena batalha contra as reformas que Macron empreendeu em vários setores, afirmaram que os franceses são "relutantes" às mudanças que lhe são "impostas".

"Se há um diálogo, se nos ouvem, se respeitam nossas linhas vermelhas, as mudanças serão possíveis", disse Philippe Louis, da CFTC.

Essa polêmica não poderia inrromper em pior momento para o governo. O primeiro-ministro Edouard Philippe iniciou nesta quinta-feira (30) reuniões com os sindicatos para tratar de várias reformas delicadas planejadas para os próximos meses, como a da previdência e do funcionalismo público.

Não é a primeira vez que a Macron faz esse tipo de declaração no exterior. No ano passado, na Romênia, disse que "os franceses detestam reformas". No mesmo ano, na Grécia, ele prometeu que não cederia "nem aos preguiçosos, nem aos cínicos, nem aos extremos", em referência àqueles que se opunham a suas reformas.

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