Mal de Chagas atinge 90% dos adultos com mais de 60 anos na Província de Narciso Campero

Luciano Nagel - Colaboração para o Portal HD (*)
18/07/2012 às 15:06.
Atualizado em 21/11/2021 às 23:39
 (Luciano Nagel/Grupo Record RS )

(Luciano Nagel/Grupo Record RS )

AIQUILE (Bolívia) - A doença de Chagas, causada pelo protozoário parasita Trypanosoma cruzi que é transmitido pelas fezes de um inseto (triatoma) conhecido popularmente no Brasil como “barbeiro” segue sendo a principal doença parasitária nos países da América Latina, afetando a cada ano cerca de 10 milhões de pessoas e causando a morte de pelo menos 12 mil.

Na província de Narciso Campero, nos municípios de Aiquile, Omereque e Pasorapa (região de Cochabambala), a enfermidade causada pelo “Vinchuca” (nome dado ao inseto pelos bolivianos) atinge 90% dos adultos com mais de 60 anos. A informação é da Coordenadora de Campo da Organização dos Médicos Sem Fronteiras na Bolívia, Ginette Pilate. “Muitas pessoas não sabem que tem a doença, pois ela é silenciosa. Além disso, o governo boliviano não fornece tratamento gratuito aos adultos, somente para as crianças até completarem 15 anos.”, disse.

Desde 1986 os Médicos Sem Fronteiras estão presente na Bolívia, cuja região apresenta o maior número de casos da doença de Chagas no mundo. Em 2011, somente na região de Narciso Campero, mais de 2.000 pessoas foram diagnosticadas com a doença, sendo que destas, mil começaram o tratamento.

 

Maioria do camponeses que vivem na região de Narcisio Campero tem a doença de Chagas (Fotos: Luciano Nagel/Grupo Record RS)

O camponês Bovelio Dias, de 32 anos, descobriu que tinha a doença há cerca de dois meses. “Uma equipe dos Médicos Sem Fronteiras esteve aqui na região. Os médicos pediram para eu e minha esposa fazer um exame de sangue e o resultado deu positivo para os dois”, ressaltou o camponês, que antes disso nunca havia apresentado sequer um sintoma da doença. Os portadores crônicos podem permanecer décadas sem manifestar sinais da doença, o que dificulta o acesso ao diagnóstico e ao tratamento adequado. Bovelio ao começar o tratamento com um medicamento chamado Benzonidazol apresentou fortes reações alérgicas, como manchas vermelhas em todo o corpo. Mesmo assim, o remédio produzido no Brasil é considerado muito eficaz, tanto na fase aguda da doença quanto nos casos crônicos.

Na província de Narciso Campero, as casasda comunidade na sua maioria são de adobe, com telhados de palha ou telhas. São nestes locais que o “Vinchuca” – que em Quéchua, a língua falada entre os camponeses, significa “deixar-se cair”, escolhe para morar e reproduzir-se. Mas é a noite que este pequeno inseto de seis patas e um pouco mais de 2,5cm de comprimento sai em busca de alimento. As presas, geralmente são homens, mulheres e crianças, que enquanto dormem, são picados por centenas desses insetos. Após sugar o sangue das vítimas, o “Vinchuca” defeca na corrente sanguínea infectando com o parasita Trypanosoma cruz, responsável pelo desenvolvimento da doença. As pessoas que foram infectadas irão desenvolver a doença que atinge o esôfago, fígado, baço, intestinos, sistema nervoso central e o coração. Sem o devido tratamento, o Mal de Chagas leva à morte.

A equipe dos Médicos Sem Fronteiras que atua nos municípios de Aiquile, Omereque e Pasorapa realiza um acompanhamento semanal nas comunidades, trazendo medicamentos e realizando consultas e exames clínicos nos camponeses. Além disso, são realizadas atividades educacionais que tem como objetivo informar a população sobre a doença de Chagas, diagnóstico e tratamento.

  Paciente recebendo o medicamento Benzonidazol para o tratamento de Chagas em Aiquile

(*)  O jornalista é repórter da Rádio Guaíba (Grupo Record), no Rio Grande do Sul

 

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