Menos que o desejado: 2ª onda de retomada do comércio em BH frustra importantes setores

Evaldo Magalhães e Renata Evangelista
primeiroplano@hojeemdia.com.br
05/06/2020 às 20:34.
Atualizado em 27/10/2021 às 03:42
 (Renata Evangelista)

(Renata Evangelista)

Uma semana depois do previsto, já que na sexta-feira anterior a opção foi por frear a flexibilização econômica na cidade em virtude da pandemia do novo coronavírus, a Prefeitura de Belo Horizonte anunciou finalmente, ontem, a fase 2 da reabertura comercial. A fase 1 fora adotada em 25 de maio, com permissão de retomada de setores variados, de perfumarias a shoppings populares. 

Segundo o Comitê Municipal de Combate à Covid-19, que comunicou a decisão sem a presença do prefeito Alexandre Kalil (PSD), a partir de segunda-feira (8), outros 11 segmentos, com 15 mil trabalhadores, poderão subir as portas. Serão beneficiadas 5,3 mil empresas e 8,1 mil microempreendedores individuais (MEIs).

Contudo, a lista, que tem de joalherias a lojas de calçados, passando por casas de bebidas, de objetos de arte e decoração e floras, frustrou representantes de setores que se dizem desesperados para reabrir. É o caso de bares, restaurantes e boates, shoppings tradicionais, galerias e lojas de roupas, além de academias, teatros, cinemas, museus e escolas, que seguem vetados. 

Até ontem à tarde, a capital contabilizava 58 mortos e 2.247 casos confirmados da Covid-19. Desde que o comércio não essencial foi reaberto, na última semana de maio, a metrópole viu os registros do coronavírus dispararem. No período, casos confirmados subiram 60% e as mortes, 38%.

Apesar da alta, a PBH informou que a nova etapa da flexibilização, mais comedida que a anterior, foi possível graças à avaliação de importantes índices em constante monitoramento: o da taxa de transmissão da doença, que em uma semana, até ontem, caiu de 1,24 para 1,07; e os de ocupação em UTIs (64%) e enfermarias (49%), considerados razoáveis pelo município. 

“Um dos motivos que nos levaram a limitar ainda mais essa fase foi o receio de uma explosão. Estamos com medo, mas, como a gente tem uma folguinha nos índices, achamos que poderia botar essas pessoas trabalhando. Elas estão passando dificuldades”, pontuou o secretário municipal de Saúde, Jackson Machado, dizendo que as medidas adotadas até hoje pouparam 300 vidas na cidade. “Se explodir o número de casos, no entanto, pode ser que a gente feche tudo na terça-feira e decrete lockdown. Se eu pudesse, abria tudo, mas isso não é possível neste momento”, completou.

  

‘Nosso sofrimento parecer ser invisível ao prefeito’, diz Abrasel

Descaso. Foi essa a palavra escolhida pelo presidente-executivo da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), o empresário mineiro Paulo Solmucci, para definir a decisão anunciada pela prefeitura, excluindo o segmento, mais uma vez, da retomada das atividades econômicas.

“Sequer nos mencionam e, como sempre, não apresentam critérios objetivos que justifiquem que ainda estejamos fechados. Nosso sofrimento parece ser invisível ao prefeito Alexandre Kalil”, disse Solmucci.

O dirigente aguarda, para a semana que vem, possível liminar em ação judicial movida contra a PBH, para reabertura do setor. Segundo ele, a prefeitura deve apresentar ao juiz da 3ª Vara da Fazenda Pública Municipal argumentos que justifiquem a não autorização ao funcionamento normal dos estabelecimentos. “Tenho certeza de que não haverá justificativas técnicas convincentes”, diz.

Para que bares e restaurantes possam voltar a abrir, diz Solmucci, a prefeitura deveria parar de “atribuir todas as decisões econômicas, durante a crise provocada pela pandemia, aos epidemiologistas”.

“Não dá para entregar a saúde da economia também para os médicos. O prefeito está sendo irresponsável com um setor que é simplesmente o maior empregador da cidade. No país, para que se tenha uma ideia, representamos 8% do total de empregos”, afirmou.

Na ação contra a prefeitura, a Abrasel baseia a defesa da reabertura dos bares e restaurantes em dados econômicos e em estudos científicos. Um deles, da UFMG, segundo o dirigente, sustenta que “um restaurante pode ser considerado mais seguro do que um supermercado”.
Ainda de acordo com Solmucci, sem perspectivas de reabertura, as demissões nos bares e restaurantes da capital devem explodir bem mais que o total de casos do novo coronavírus, até o final deste mês.

“Na capital, seriam 75 mil postos de trabalho em 15 mil empresas, mas já perdemos 25 mil trabalhadores desde março e esse número pode saltar para 40 mil, até junho”. Em toda a região metropolitana, são 22 mil estabelecimentos e, de 130 mil empregados, 35 mil já foram mandados embora, contingente que pode ser elevado a 60 mil.

 CDL-BH celebra flexibilização ampliada, mas aguarda novos passos

 presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas da capital (CDL-BH), Marcelo de Souza e Silva, integrante do grupo formado pela prefeitura para discutir a retomada gradual das atividades econômicas na cidade, considerou “um avanço” o anúncio da fase 2 , embora não tenha escondido a decepção pelo adiamento de tais medidas, previstas para a semana passada. 

“Para nós, foi um avanço o pronunciamento do secretário (Municipal de Saúde), liberando mais atividades para abrir a partir de segunda, embora a gente devesse ter feito isso na semana passada. Mas estamos satisfeitos”, disse. 

“Outro ponto positivo foram os índices apresentados, de transmissão e de leitos de UTI e de enfermaria, que são bons. Mostram que a população de Belo Horizonte, os comerciantes e os funcionários do comércio estão ajudando para manter esses patamares razoáveis”, completou.

Souza e Silva lamentou, contudo, o fato de que setores que esperavam ser incluídos na segunda onda da retomada tenham ficado de fora da lista. “Algumas atividades não foram contempladas, como os shoppings centers e os bares e restaurantes”, ressaltou, citando ainda as lojas de vestuário.

“Mas a gente espera que, com uso da máscaras, sem aglomerações e com a higienização dos ambientes de trabalho e pessoal, a gente consiga manter esses números e, na semana que vem, já possamos dar outro passo à frente, abrindo também esses segmentos”. 

Após a definição da nova fase, Souza e Silva pediu maior envolvimento da prefeitura no auxílio aos comerciantes que, mesmo com a reabertura, amargam grandes prejuízos. “A PBH poderia nos ajudar a buscar linhas de financiamento. Além disso, seria interessante uma parceria, na qual ela disponibilizasse servidores para dar consultorias aos empresários, para que possam melhorar a gestão”, afirmou. 

ALÉM DISSO

Com as novas permissões de reabertura anunciadas para a segunda-feira (8), na onda 2 da flexibilização econômica, em meio à pandemia, quase 1 milhão de trabalhadores deverão estar em atividade na metrópole, de acordo com a prefeitura.

Na fase 1 da retomada econômica, em 25 de maio, cerca de 30 mil comerciários foram autorizados a reassumir ao trabalho em 11 mil estabelecimentos. O retorno envolveu salões de beleza, desde que com horário marcado, lojas de móveis, papelarias e outros segmentos “de rua”, além dos shoppings populares. 

Já a segunda etapa deve atingir mais 15 mil colaboradores formais de setores diversos, como as lojas de artigos usados, esportivos, de camping e afins; calçados; artigos de viagem; joalherias, souvenirs, bijuterias e artesanatos; plantas, flores e artigos para animais (exceto comércio de animais vivos) e bebidas, entre outros.

Contando com quem já vem atuando sem interrupção desde o início da pandemia, o que inclui trabalhadores do comércio e de serviços considerados essenciais (farmácias, padarias, açougues, supermercados etc), chega a 824 mil o total de pessoas ativas, a despeito da quarentena.

Esse universo representa, ainda conforme a PBH, quase 90% das atividades econômicas privadas desenvolvidas na capital e cerca de 92% da força de trabalho empregada na cidade. O número também é praticamente um terço da população estimada para a cidade (2,5 milhões).

Apesar de tanta gente circulando, sem falar no público esperado pelos estabelecimentos, as autoridades sanitárias de BH garantem que, ao menor sinal de elevação nos números da Covid-19, haverá novas restrições. “Para evitar isso, é importante que as pessoas continuem saindo apenas para o necessário, usem máscaras e lavem as mãos com água e sabão ou álcool em gel”, frisou o secretário de Saúde, Jackson Machado. 

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