Mesmo com liquidações, clientes só compram produtos de primeira necessidade

Fábio Correa
primeiroplano@hojeemdia.com.br
10/07/2017 às 22:53.
Atualizado em 15/11/2021 às 09:29
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

A forte queda na temperatura nos últimos dias tem levado o comércio a apelar para promoções na tentativa de ampliar vendas. Mas, ressabiados, os consumidores têm comprado apenas produtos considerados de primeira necessidade. De preferência, nas lojas fora dos shoppings, onde há a percepção de que o desconto é maior.

A Câmara de Diretores Lojistas de Belo Horizonte (CDL/BH) confirma que, devido à queda na renda real de 7,7% no primeiro trimestre de 2017, os belo-horizontinos estão restringido as compras aos produtos básicos. Nesse período de inverno mais rigoroso, por exemplo, ganha quem vende meias, moletons e afins.

Em algumas lojas desse segmento, as vendas já chegaram a subir até 80% neste mês em relação a igual período do ano passado.
Daniel Mesquita, responsável pela filial da Lupo do Shopping Cidade, no Centro da capital, é um dos que está otimista. “Já tenho um crescimento de 80% (nas vendas deste mês) em relação a igual período do ano passado”, comemora ele, que no final da semana passada teve de gastar mais R$ 60 mil em meias-calças, além do previsto – o dobro na comparação com 2016. “Minha previsão de estoque foi por água abaixo por causa da demanda, o inverno está bombando”, afirma Mesquita, que lançou mão de promoções com até 25% de desconto para o consumidor.

O desemprego na casa dos 14,5% também contribuiu para a queda de 0,11% nas vendas do comércio de janeiro a abril deste ano. “Porém, com o inverno rigoroso, as pessoas podem vir a consumir se houver preços mais atrativos”, avalia Ana Paula Bastos, economista da CDL/BH, confirmando ainda o aumento no volume de promoções.

De olho na oportunidade, o Shopping Cidade decidiu antecipar o Bazar de Inverno, tradicionalmente realizado no final deste mês. Este ano, o evento, que oferece descontos de até 70%, começou na última sexta-feira e termina hoje. “Essa temperatura está ajudando muito o segmento de vestuário”, confirma a gerente de marketing Carolina Vaz, que diz que este inverno contribuiu com um aumento de até 3% no faturamento geral.

No Diamond Mall, no bairro Lourdes, a previsão é de um incremento de até 10% no fluxo, com benefícios também para o segmento de calçados. “Em algumas lojas, estão faltando botas no estoque”, afirma Lívia Paolucci, superintendente do shopping.

A loja His, de moda masculina, localizada na rua Rio de Janeiro, também está lucrando com o frio. “A gente está aproveitando que o clima veio de verdade”, diz Erik Charles, gerente da loja, que não trabalha com reposição de peças específicas, mas explica que os produtos estão esgotando mais rápido que em anos anteriores. “Principalmente os moletons e casacos estão saindo muito. Já que compramos os itens em quantidade definitiva, estamos tendo uma troca maior nas peças à venda, que estão chegando e acabando rápido”, conta.

Locatária de um estande em uma feira de vestuário localizada na mesma rua, Betânia Figueiredo tem vendido tanto que teve de marcar novas viagens para buscar sobretudos e casacos em outros estados e até mesmo fora do país. “Tem que acabar com o estoque e aproveitar”, destaca. No último final de semana, a comerciante foi a São Paulo e ao Paraguai, antes do previsto, repor itens para suprir a necessidade dos clientes pelas peças de inverno.

Supermercados e restaurantes ampliam vendas com o inverno

Outro segmento que está lucrando com as baixas temperaturas das primeiras semanas de julho é o de alimentos e bebidas. Produtos como massas, caldos, cafés e vinhos já registram, tradicionalmente, um aumento na demanda relacionado com a chegada do inverno. Neste ano, porém, houve um crescimento além do esperado, o que também pode ter sido causado pelo frio intenso que fez, em 2017, Belo Horizonte registrar a menor temperatura desde 1975 – 6,1 °C no último dia 4.

“Cafés, achocolatados, chás, ou seja, tudo o que é bebida quente, tem um aumento sazonal, no inverno, de 30% vendas”, explica Jean Charles, gerente de importação do supermercado Super Nosso. “Neste ano, a resposta de venda tá um pouco mais forte, com 3% de aumento para essas bebidas. Os vinhos vendem também cerca de 30% a mais no inverno e, em 2017, tiveram um crescimento na demanda de 10% em relação ao mesmo período do ano passado”, diz Jean Charles.

Entre os alimentos, são os pães e queijos para fondue, massas, caldos e risotos que têm maior saída. O estoque, no entanto, não foi um problema para o supermercado, que já trabalha com o aumento da demanda por estação. “Para a gente, já estava bem planejado, mas, é claro, esse aumento de demanda é sempre bem-vindo”, afirma.

Nos shoppings, a frequência de restaurantes e cafés também tem aumentado. “Estamos observando uma alta maior de frequentadores nos cafés do shopping, no movimento do supermercado Verdemar, que tem o festival de vinhos e caldos, e isso motiva as pessoas a comprarem mais”, conta a superintendente do Diamond Lívia Paolucci.

“O inverno acaba agregando quase todos os segmentos, com as pessoas parando para tomar um chocolate quente ou aproveitando para ir ao cinema”, diz Carolina Vaz. “A liberação do FGTS também impactou positivamente. A cada mês, a gente observa uma melhora, mesmo que pequena”, afirma.

SAIBA MAIS

Mesmo com anúncios de liquidações de inverno em diversas lojas no Centro de Belo Horizonte, consumidores entrevistados pela reportagem na última sexta-feira não se convenceram com as promoções. Alguns que foram às lojas atrás de roupas de frio, inclusive, reclamaram que os preços continuavam salgados. Nos corredores dos shoppings e nas ruas, em frente as lojas, eram poucas as pessoas que carregavam sacolas com casacos ou meias.

A cuidadora de idosos Vera Alice Oliveira, 53 anos, saiu de casa atrás de botas, sobretudos e casacos para se proteger do frio rigoroso na capital. “O que agasalha de verdade continua no mesmo preço”, criticou. “Um casaco de lã a R$ 180? Um sobretudo a R$ 200? Isso, para mim, não é barato”, disse ela, que, no fim, acabou levando apenas um sobretudo por R$ 180. “Levei porque era algo que eu não tinha. As botas estavam tão caras que preferi continuar com as minhas velhas, não tem problema.”

A engenheira civil Cristiane Saliba, 47 anos, também afirma que não aumentou o ritmo de consumo apenas por causa da queda nos termômetros, apesar de ter observado que as liquidações de inverno nos shoppings e nas ruas vieram um pouco antes do habitual. “Não estou consumindo mais por causa do frio”, explicou ela. “Também não tenho encontrado preços muito melhores assim, tem muita coisa enganosa, com preços escondidos ou com etiquetas com outros valores, diferentes dos anunciados”, afirma Cristiane, que também reclama da qualidade dos produtos que são expostos nas promoções. “Tem muita coisa ruim também, como roupas que estragam mais rápido ou material pior, vendidas como algo de qualidade”, desabafa a engenheira.



 

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