Meu, seu, nosso: compartilhamento de produtos e serviços dá origem a novos negócios

Rafaela Matias
07/12/2018 às 20:12.
Atualizado em 05/09/2021 às 15:27
 (Lucas Prates)

(Lucas Prates)

Dividir para multiplicar. Esse é o princípio da economia compartilhada, que vem ganhando cada vez mais espaço em Belo Horizonte e não para de gerar novos negócios. Empresas dos setores de vestuário, turismo, construção civil e alimentação surfam na onda e oferecem produtos e serviços para adeptos do consumo colaborativo. 

Aplicativos de transporte, como Uber e 99 Pop, também aderiram à moda e inauguraram no mês passado o serviço de corridas coletivas na capital mineira. 

Para Victor Mota Ferreira, analista do Núcleo de Comércio e Serviços do Sebrae Minas, o formato é uma possibilidade para economizar e gerar uma renda extra, além de boa estratégia para driblar a crise. “É muito mais barato compartilhar do que adquirir tudo o que se precisa”, afirma. 

Uma das precursoras na cidade é Ana Luísa Elisei Almada, de 33 anos, fundadora do espaço “Armário Compartilhado”, no bairro Floresta. A moça recebe vestidos de festa de pessoas que se cansaram de guardá-los em casa e desejam extrair das roupas algum provento. 

“Colocamos para alugar e as proprietárias recebem de 25% a 40% do valor. O nosso preço também costuma ser mais baixo que um aluguel convencional, porque não investimentos em roupas como as outras lojas. Então fica bom para todo mundo”, afirma Ana Luísa, que teve a ideia quando percebeu que comprava roupas de festa que eram usadas pouquíssimas vezes. 

Hoje, a loja conta com mais de 500 peças, de quase 360 pessoas, disponíveis para aluguel. Ao todo, mais de 3 mil vestidos já passaram por ali. Em fevereiro de 2019, o empreendimento vai ser expandido para outras cidades, por meio de franquia.

No caminho inverso, a rede WeWork entrou em atividade há um ano no país e acaba de abrir a sua primeira unidade em Belo Horizonte, na Savassi. Oferecendo o compartilhamento de espaços de trabalho, por meio do modelo de coworking, o local atingiu lotação máxima menos de uma semana após o lançamento. “Já abrimos dois andares, com mais de 200 pessoas trabalhando. Tudo o que temos disponível já está ocupado”, afirma Guilherme Chernicharo, gerente da unidade de BH.

Mais barato 

A expectativa é que, até fevereiro do ano que vem, terminem as obras de ampliação e o espaço passe a abrigar mais de 850 pessoas, de 54 empresas. 

“Ficamos muito realizados por ter, no mesmo ambiente, diferentes negócios, de diferentes tamanhos, compartilhando o mesmo espaço. Essa ideia de posse é ultrapassada, a nova geração se preocupa com coisas mais importantes”, afirma Chernicharo, que garante que o aluguel em um coworking é até duas vezes barato que em um espaço convencional. Riva Moreira 

WeWork atingiu lotação máxima menos de uma semana após o lançamento em BH

 A engenheira bioquímica Bárbara Fernandes concorda. Adepta de várias plataformas de compartilhamento, ela se tornou uma entusiasta do modelo. 
“O mundo caminha para isso. É uma forma de economizar, gerar renda extra e ter um contexto de vida sustentável”, diz. 

Anfitriã dos aplicativos Airbnb, de hospedagem em casa, e Dog Hero, que recebe pets quando os donos precisam viajar, Bárbara também se tornou, neste ano, chef da plataforma Dinneer. “Estava monótono cozinhar só para mim e meu marido, então decidi unir o útil ao agradável”, explica. Em sua casa, no bairro Sagrada Família, ela recebe outros casais para experimentar delícias da culinária mineira, além de opções low carb e vegetarianas. A refeição completa, com entrada, prato principal e sobremesa, sai entre R$ 45 e R$ 60 por pessoa, incluindo as bebidas. 

“É mais em conta que ir a um restaurante, além de ser uma experiência riquíssima, muito mais significativa do que simplesmente comer, pagar a conta e ir embora”, diz. 

Flavio Estevam, CEO da plataforma Dinneer, conta que a ideia surgiu quando viu uma pessoa postando a foto do jantar no Instagram e vários seguidores comentando que gostariam de ir até a casa dela experimentar. 
“Imaginei se havia algum serviço que possibilitasse isso”, lembra. Três anos depois, a plataforma conta com 4 mil anfitriões, em 520 cidades, de 49 países. “Só no último mês, 1.500 pessoas foram comer na casa de um estranho ou receberam um estranho para comer em casa”, diz. 

 Crise fez onda do consumo colaborativo ‘pegar’ em Minas 

Coordenador do curso de Economia do Ibmec BH, o economista Márcio Salvato acredita que a crise econômica foi responsável por abrir as portas para a onda de compartilhamentos em Minas Gerais. 

Segundo ele, o mercado local tende a ser mais conservador que o de outras capitais brasileiras, onde o formato já havia pegado. 
“Aqui, a economia compartilhada ainda despertava desconfiança, um certo medo de quem seria a pessoa na outra ponta. Mas com a escassez financeira provocada pela crise, os consumidores acabaram atraídos pelo preço mais baixo”, afirma. 

Salvato destaca ainda que o modelo é uma forma de impulsionar a economia, já que gera novos negócios e possibilita a reinserção no mercado de trabalho. “Há cada vez mais pessoas oferecendo esses serviços. Muitos estavam sem renda e viram nesse nicho um meio de sobrevivência”, diz. 

O especialista Victor Mota Ferreira, analista do Núcleo de Comércio e Serviços do Sebrae Minas, acredita que os aplicativos de transporte foram os principais responsáveis por mudar a mentalidade do mineiro sobre o serviço compartilhado. “O Uber, principalmente, revolucionou o mercado ao se tornar a maior empresa de transporte do mundo sem ter um carro sequer. Isso foi incentivando novas ideias de negócio e a geração mais jovem começou a entender que o mais valioso é o resultado e não o produto, não a posse”, diz ele. 

Veículos

Estudo global feito pela PwC sobre as perspectivas para a indústria automobilística mostrou que, até 2030, um terço do tráfego mundial deve ser composto por veículos compartilhados. Os dados apontam ainda que a frota de automóveis deve cair drasticamente, especialmente na Europa, onde sairia dos atuais 280 milhões para 200 milhões de unidades. 

No Brasil, o condomínio Ville Colônia, do Minha Casa, Minha Vida, localizado em Contagem, é o primeiro a ter um carro compartilhado disponível para os condôminos. O projeto foi implementado pela startup mineira SmartFleet, por encomenda da Precon Engenharia. Por um valor de R$ 6 a hora, os moradores podem reservar o dia e horário de uso via internet e realizar os pagamentos no crédito e no débito. Iniciada em outubro, a iniciativa teve boa aceitação, com índice de ocupação acima de 70%.

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