Minas se prepara para a mudança climática

Raul Mariano - Hoje em Dia
21/02/2015 às 07:34.
Atualizado em 18/11/2021 às 06:05
 (AFP)

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Os próximos 15 anos serão cruciais para que as políticas públicas em Minas Gerais possam reverter, ou pelo menos amenizar, o quadro de prejuízos ambientais projetados para o Estado. Se ações efetivas não forem realizadas até 2030, as emissões de gases de efeito estufa podem aumentar em 60% e impactar a economia em, no mínimo, R$ 450 bilhões. Um valor 335% maior do que o Produto Interno Bruto (PIB) da indústria mineira.   O diagnóstico é do Plano de Energia e Mudanças Climáticas (PEMC) elaborado pela Fundação Estadual de Meio Ambiente (Feam), órgão vinculado à Secretaria de Estado de Meio Ambiente. No projeto, a mitigação dos gases de efeito estufa e a adaptação às mudanças climáticas são os dois eixos principais de enfrentamento à instabilidade climática que está por vir.   A ações vão envolver as áreas de energia, agricultura, florestas, usos do solo, transportes, indústria e resíduos. O foco principal será diminuir a vulnerabilidade do território mineiro já que, de 2008 a 2014, eventos climáticos foram responsáveis por um rombo de R$ 12 milhões na economia do Estado.   O gerente de Energia e Mudanças Climáticas da Feam, Felipe de Miranda Nunes, destaca que o plano vai considerar as peculiaridades de cada região para traçar estratégias específicas. Ele conta que as perdas trazidas por estiagens ou mudanças climáticas diferem por regiões e serão mais intensas no Norte e Vale do Jequitinhonha.   “As regiões mais sensíveis são aquelas que, historicamente, apresentam uma desigualdade maior. A capacidade de resposta dessas regiões as deixa mais vulneráveis e comparativamente elas continuam sendo as mais afetadas. Na pecuária e agricultura, por exemplo, os produtores dessa região tem menos acessos a tecnologia”, explica.   As desigualdades regionais podem se tornar ainda mais evidentes com a possibilidade de aumento de temperatura no território mineiro, seguindo as tendências mundiais de alteração do clima. As variações médias esperadas em um cenário menos otimista podem estar entre 3°C e 5°C até 2030.   Curto prazo   A questão energética é uma das prioridades do Plano de Energia e Mudanças Climáticas (PEMC). Dentre as ações previstas para 2015/2016 está a criação do Programa Mineiro de Eficiência Energética que vai promover projetos para melhorar o aproveitamento de energia dentro das empresas mineiras.   Em 2014, Minas Gerais importou 57,3% da energia que consumiu, principalmente com a compra de carvão e de petróleo e derivados, segundo levantamento da Feam. Uma evidência de que o potencial de eficiência energética do Estado ainda não é amplamente utilizado. Nesse contexto, uma das proposições do plano é a produção de energia a partir de fontes renováveis.   No ranking publicado no PEMC com as fontes renováveis de maior potencial, a energia eólica lidera com capacidade de geração estimada em 721 terawatts/hora (TWh) por ano até 2030. Em Minas, regiões como Montes Claros, Triângulo, Curvelo, Janaúba, Grão Mogol, Diamantina e Sete Lagoas seriam as propícias para geração de eletricidade a partir de ventos.   O plano aponta ainda que a energia fotovoltaica, que hoje só ocupa 0,01% da matriz energética brasileira, tem o segundo maior potencial de aproveitamento em Minas (71 TWh por ano) e a possibilidade real de impactar positivamente regiões como o Mucuri-Jequitinhonha.   “A ampliação do programa Energias de Minas vai incentivar a inserção de empreendimentos que consumam e produzam energia renovável por meio de tratamento tributário diferenciado”, adianta Nunes.     Programa prevê planos setoriais para redução de emissões   A Política Nacional sobre Mudança do Clima que está diretamente ligada às estratégias do PEMC mineiro, determina que, em todo país, a redução das emissões de gás de efeito estufa cheguem a 38,9% até 2020, o que equivale a 1.259 MtCO2e (milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente).   Nesse contexto, a indústria é um dos setores com de maior relevância para o plano, com uma meta de redução de 16,22 MtCO2e. Em Minas Gerais, o setor é responsável pela terceira maior emissão líquida de gases do efeito estufa (15,8%), perdendo apenas para o segmento de agropecuária (39,3%) e energia (36,0%).   O Gerente de Meio Ambiente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Wagner Soares Costa, explica que os segmentos de cimento, siderurgia e papel e celulose são os principais interessados nas ações propostas pelo Plano de Energia e Mudanças Climáticas e, por esse motivo, já estão realizando reuniões setoriais para se adequar à nova realidade.   “As previsões ainda são muito genéricas e não está definida a metodologia de valoração desse impacto climático. Sabemos que pode haver carência de matéria prima, olhando pelo lado do prejuízo. Pelo lado da oportunidade, há aí uma demanda maior para reconstruir o que for destruído por reações climáticas extremas, por exemplo”, comenta Costa.   Ações complementares   Em paralelo aos planos setoriais de adaptação às mudanças climáticas propostos para Minas Gerais, o país tem como meta reduzir em 80% o desmatamento anual da Amazônia até 2020. Além disso, há incentivo para o aumento do consumo de etanol em 11% na próxima década, duplicação da área de florestas plantadas para 11 milhões de hectares até 2020 e a troca de 1 milhão de geladeiras antigas anualmente até 2025. 

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