Mudança no perfil comprador da China impulsiona exportações do café mineiro

Raul Mariano - Hoje em Dia
28/02/2016 às 08:14.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:36
 (Arte HD)

(Arte HD)

A oscilação de preços das commodities no mercado internacional está causando alterações significativas na balança comercial mineira. Em janeiro, a exportação do café em grãos superou em US$ 5,4 milhões a exportação do minério de ferro. Um dado incomum já que, durante décadas, o minério foi líder absoluto na pauta de exportações do Estado.

Apesar de ainda não ser classificada como uma tendência, a predominância do café nas exportações de janeiro está ligada à mudança no perfil dos principais mercados compradores e as alterações climáticas que prejudicaram a agricultura brasileira em 2015.

Para especialistas, se a alta do dólar se mantiver pelos próximos meses e o preço internacional do minério continuar baixo, o café pode se tornar a commodity mais importante de toda a pauta de exportações do Estado.

Projeções da Cooperativa Central de Cafeicultores e Agropecuaristas de Minas Gerais Ltda (Coccamig) apontam que as novas safras trarão bons resultados para o setor cafeeiro no Estado.

“Em 2016 e 2017, vamos colher 55 milhões de sacas. Se tivermos manutenção da taxa câmbio, continuaremos a ver esse movimento acontecer. Vamos mandar cada vez mais café para o exterior e isso vai impactar a balança. A safra está definida em termos de volume, mas em termos de dólares não dá pra prever”, explica o analista de mercado da Coccamig, Leandro Gomes Ribeiro Costa.

Para o professor de economia da faculdade Ibmec Felipe Leroy, a competitividade é um fator crucial para se compreender o que está acontecendo com as duas principais commodities da balança comercial de Minas. “Por que a alta do dólar favorece o café, mas não favorece, também, o minério? Porque para o café, além de termos investido em tecnologia, não temos tantos concorrentes. Já para o minério temos a Austrália ganhando cada vez mais espaço com um investimento muito maior em tecnologia. Isso sem falar na China que reduz cada vez mais seus investimentos que demandam minério como matéria prima”, analisa.

Oferta

A mudança no perfil comprador da China é outro ponto favorável para o café na comparação com o minério, avaliam especialistas. Com a tendência de aumento no consumo interno chinês as perspectivas dos cafeicultores se mantêm elevadas.

“Fomos assolados pela crise hídrica e Minas, que produz mais da metade do café do país, sentiu muito. Os estoques caíram muito tanto no país quanto no exterior. Isso ajuda na manutenção de preço. O nosso produto cresce muito na China e está sendo absorvido por novas culturas. A variável que vai interferir muito é o câmbio”, destaca Costa.

Avanços no cultivo contribuíram para conquista de mercado

Os avanços obtidos nas técnicas de cultivo também acabaram contribuindo para garantir espaço para o café produzido em Minas no mercado mundial. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estimam que a variação da produtividade dos cafezais no Estado crescerá 19,8% em 2016.

Na prática, isso significa que o número de sacas por hectare por ano saltará de 23 para 28 em 2016. Uma indicação de que, ao contrário da atividade minerária, o setor cafeeiro pode crescer em 2016.

O assessor especial do café da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, Niwton Castro Moraes, ressalta que a maior aceitação do café mineiro no mercado internacional se deve ao trabalho feito na melhoria das técnicas do plantio, ao longo dos últimos anos.

"Aumentamos a resistência às pragas e doenças e temos também um trabalho melhor de manejo na lavoura. Há aperfeiçoamento nas técnicas de poda e adubação e um trabalho de pós-colheita, com equipamentos melhores, inclusive no processo de secagem. Além disso, nos últimos anos houve adensamento de plantio. Hoje, se plantam cinco mil pés de café onde, há poucos anos, eram plantados cerca de 2,2 mil”, explica.

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