Alemães anti-fascistas protestam contra manifestações da extrema direita no 1º de maio

Cinthya Oliveira* - Do Hoje em Dia
01/05/2013 às 16:12.
Atualizado em 21/11/2021 às 03:19

FRANKFURT – O 1º de maio não foi dedicado apenas a encontro de trabalhadores em Frankfurt, capital econômica da União Européia. Milhares de pessoas foram para as ruas protestar contra algumas dezenas de integrantes do Nacional Democrata Alemão (NPD), partido de extrema direita alemão, que pretendiam, por sua vez, realizar uma manifestação.

Quem estava na região ocidental da cidade na manhã do feriado se deparou com uma multidão concentrada em torno da estação de trem de Ost Bahnhof, numa união de jovens, trabalhadores, intelectuais, famílias e imigrantes. Eram protestantes anti-fascistas dispostos a impedir uma das várias passeatas de direita planejadas para o 1º de maio.

Em Frankfurt, o bloqueio dos movimentos de esquerda foi eficiente. Os direitistas sequer conseguiram passar pelos bloqueios feitos nas linhas de trem em torno da cidade. Cerca de 150 deles ficaram presos em uma cidade vizinha, sem conseguir chegar à sua manifestação.

Caso conseguissem chegar ao local programado, ainda ouviriam uma sinfonia de apitos planejada pelos esquerdistas. Seu lema xenófobo “Não somos a vaca da Europa” não seria facilmente ouvido.

Os direitistas (chamados de “nazis” pelos movimentos de esquerda) solicitaram a realização de uma manifestação em frente ao Banco Central Europeu há cerca de um ano. No mês passado, a prefeitura de Frankfurt se negou a dar a permissão, com o argumento de que poderia haver um confronto violento nas ruas. Porém, o NPD recorreu à Justiça da Alemanha, que concedeu o direito à manifestação, assegurada constitucionalmente.

Para evitar que o grupo atrapalhasse a movimentação do transporte público e de transeuntes no centro da cidade, a prefeitura determinou que a manifestação acontecesse numa pequena e escondida rua de 50 metros, ao lado da estação de Ost Bahnhof, em um bairro mais afastado.

 

Jovens, trabalhadores e famílias se concentraram em frente à estação do metrô de Frankfurt (Foto: Cinthya Oliveira/Hoje em Dia)


Não demorou muito para que os movimentos de esquerda se organizassem para a contra-manifestação, com o lema “Plataforma por uma Frankfurt cosmopolita dentro de uma Europa social: contra exclusão, xenofobia e antissemitismo”.

Incrível observar o aparato de segurança para evitar um confronto violento em Frankfurt. Centenas de policiais da cidade e de outras vizinhas (como a importante Dresden) foram deslocados para a estação de trem. Arames farpados colocados em torno de todo o quarteirão impediam a aproximação de manifestantes.

Um helicóptero sobrevoou a região durante todo o dia. Uma multidão de agentes convocados protegeram cerca de dez direitistas que conseguiram chegar ao local marcado.

No Brasil, dificilmente um grupo pequeno de manifestantes conseguiria tanta repercussão de segurança, cobertura jornalística e protestos contrários. Mas as cicatrizes da Segunda Guerra Mundial ainda são evidentes na Alemanha. E, mesmo que sejam tão poucos, os direitistas conseguem fazer muito barulho.

Curiosamente, a estação de Ost Bahnhof fica a aproximadamente 400 metros do Museu Judaico da cidade, onde nomes de milhares de judeus mortos no Holocausto estão dispostos em um grande muro.

* A repórter viajou a convite do Ministério das Relações Exteriores da Alemanha

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