Chanceler da Venezuela formaliza pedido de reunião da Unasul

Folhapress
01/03/2014 às 21:40.
Atualizado em 20/11/2021 às 16:23

SÃO PAULO - O chanceler venezuelano, Elías Jaua, solicitou neste sábado (1º) a realização de uma sessão da União de Nações Sul-americanas (Unasul) para discutir a onda de protestos que há mais de três semanas atingem o país.

"Acabamos de solicitar formalmente a convocatória de uma reunião da Unasul, a qual teve uma boa receptividade por parte do presidente do Suriname, Desi Bouterse", disse Jaua à emissora de televisão Telesur. O Suriname atualmente ocupa a presidência temporária do grupo de países.

Antes de pedir a reunião, Jaua fez um giro por diversos países da região para solicitar apoio à sua estratégia. No Brasil, ele reuniu-se com o chanceler Luiz Alberto Figueiredo.

Neste sábado, manifestantes voltaram às ruas de Caracas para protestar "contra a tortura e a repressão" no país, após a polícia ter prendido pelo menos 41 pessoas, entre eles correspondentes internacionais, na noite de sexta-feira.

Na televisão estatal venezuelana, os estrangeiros detidos eram tratados como suspeitos de "terrorismo internacional".

Os incidentes reacenderam a tensão que havia começado a diminuir com o Carnaval, após 24 dias de intensos protestos que deixaram um saldo de 18 mortos, 260 feridos e cerca de mil presos.

No reduto opositor de Altamira, as tropas de choque atacaram com jatos d'água e bombas de gás lacrimogêneo os manifestantes.

As autoridades informaram que entre os detidos está a fotojornalista italiana Francesca Commisari, colaboradora do jornal venezuelano "El Nacional".

O Sindicato Nacional de Trabalhadores de Imprensa denunciou que, além dos 41 detidos, também foram presos e soltos na mesma noite um correspondente do "The Miami Herald" e uma equipe da agência de notícias The Associated Press.

Pouco depois, correspondentes internacionais receberam por via eletrônica um arquivo intitulado "Venezuela sob ataque mediático". Elaborado pelo ministério da Informação e Comunicação, o arquivo inclui fotografias e matérias classificadas pelo governo como "mentiras ligadas ao golpe suave".

Afundada numa inflação que chega a 56%, a Venezuela sofre com a falta de produtos básicos, como papel higiênico e leite. As altas taxas de violência também alimentam os protestos.

ONU

O governo da Venezuela respondeu à ONU hoje que "é fiador" dos direitos humanos no país, e acusou "grupos midiáticos internacionais" de evitar a realidade do que realmente ocorre no país.

"É inegável que o governo venezuelano demonstrou um absoluto apego à defesa dos direitos humanos, o qual tratou de desvirtuar através de uma brutal campanha de tergiversação e manipulação midiática, que foi suscitada pela imprensa nacional e internacional", afirmou em comunicado o embaixador perante a ONU em Genebra, Jorge Valero.

A Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, condenou ontem a violência das últimas semanas na Venezuela, "independentemente de quem sejam os responsáveis", e pediu que o governo venezuelano zelasse pelo respeito à liberdade de expressão e de reunião.

No comunicado deste sábado, Valero cita explicitamente que suas declarações são respostas diretas ao dito ontem pela Alta Comissária. Navi denunciou "a contínua retórica incendiária de ambos os lados", e a tacha de "inútil".

Precisamente, Valero lembra que o presidente venezuelano, Nicolas Maduro, convocou a Conferência Nacional pela Paz na qual participam vários setores do empresariado, a sociedade civil e a Igreja.

"Enquanto na Venezuela o governo promove esta importante iniciativa, à qual se uniram de maneira decidida representantes de todos os setores do país, por outro lado, cadeias midiáticas internacionais, longe de contribuir à promoção da paz, insistem em apresentar uma imagem distorcida da realidade venezuelana", disse o embaixador.

Em resposta às acusações de Navy de que o Executivo bolivariano não respeita os direitos básicos, Valero reiterou que o governo "garante o exercício pacífico das manifestações, de conformidade com a Constituição Bolivariana".

Além disso, Valero assinalou que o governo "cumpre escrupulosamente com os padrões internacionais em matéria de proteção dos direitos humanos, em particular, os relacionados com as manifestações públicas".

Sobre a preocupação da Alta Comissária pelo grande número de manifestantes detidos, o diplomata informou que de "as centenas de pessoas que foram detidas durante os distúrbios, só uma ínfima minoria se encontra detida, devido aos delitos que são acusadas, entre eles assassinatos e lesões a pessoas, o uso e porte de armas de fogo e a destruição de bens públicos e privados".

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