Enfermeira critica recepção nos EUA após tratar doentes com ebola

Folhapress
26/10/2014 às 09:39.
Atualizado em 18/11/2021 às 04:46

Uma enfermeira que foi colocada em quarentena em um hospital de Nova Jersey, nos Estados Unidos, porque teve contato com pacientes de ebola na África Ocidental está criticando a maneira como seu caso foi tratado, levantando preocupações de grupos de direitos humanos e humanitários em relação às novas medidas de proteção lançadas por alguns Estados americanos.

Kaci Hickox foi a primeira pessoa a ser posta na quarentena compulsória de 21 dias, uma medida adotada pelos governadores de Nova York, Nova Jersey e Illinois, prevista para médicos que retornam aos Estados Unidos e que podem ter tido contato com doentes de ebola no oeste da África.

As novas regras entraram em vigor na sexta-feira, mesmo dia em que Hickox retornou. Ela desembarcou no aeroporto internacional Liberty, de Newark, após trabalhar para a organização Médicos sem Fronteira em Serra Leoa, um dos países mais afetados pela epidemia de ebola. "Esta não é uma situação que eu deseje a ninguém e fico assustada por aqueles que virão depois de mim", escreveu Hickox no relato publicado no jornal "The Dallas Morning News".
 
"Estou assustada sobre como os funcionários de saúde serão tratados nos aeroportos quando declararem que estiveram combatendo o ebola no oeste da África. Temo que, assim como eu, quando chegarem, eles vejam um frenesi de desorganização, medo e, mais assustador, quarentena."
 
Hickox será monitorada em um hospital de Nova Jersey durante 21 dias, o período máximo de incubação da doença. Ela contou que foi posta em isolamento mesmo não apresentando nenhum sintoma quando chegou. Em seu relato, a enfermeira conta que, na chegada ao aeroporto, na imigração, "um homem, que deveria ser um oficial de imigração porque usava um coldre que pude ver saltando do macacão branco, disparou perguntas como se eu fosse uma criminosa".

Uns oito carros de polícia a escoltaram para o hospital. "Sirenes soaram, luzes piscaram. Novamente, eu me perguntei o que tinha feito de errado", contou a enfermeira. "Eu tinha passado um mês vendo crianças morrerem, sozinhas. Testemunhei a tragédia humana perante os meus olhos. Tentei ajudar quando grande parte do mundo observava e não fazia nada", escreveu a enfermeira.

No hospital, a temperatura dela foi novamente medida e considerada normal e um exame de sangue inicial deu negativo para ebola. "Eu me sentei, sozinha, na barraca do isolamento e pensei nos muitos colegas que vão voltar para a América e enfrentar a mesma provação. Farão com que se sintam como criminosos e prisioneiros?", escreveu Hickox.
 
Profissionais de saúde americanos temem que as novas medidas de quarentena possam reduzir o número de pessoas dispostas a se voluntariar nos países que enfrentam a doença.
 
A Organização Mundial de Saúde (OMS) confirmou neste sábado (25) que já foram registrados mais de 10 mil casos de ebola nos oito países afetados pelo vírus, dois dos quais, Nigéria e Senegal, foram recentemente declarados livres da doença.
 
Segundo a OMS, nos sete meses de epidemia, 450 profissionais de saúde foram contaminados pelo vírus. Mais da metade, 244, morreu em decorrência da doença.

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