Fúria em Istambul mostra insatisfação dos turcos com o governo

Hoje em Dia
02/06/2013 às 07:41.
Atualizado em 20/11/2021 às 18:45

Dias de ira em Istambul. Na última segunda-feira, um grupo de manifestantes se reuniu para protestar contra a derrubada de cerca de 600 árvores do Parque Taksim Gezi, o único do centro da maior cidade turca, para a construção de um shopping center. O que começou como um movimento ambiental tomou proporções bem maiores. Na manhã deste sábado, era incalculável o número de presos e feridos em consequência do uso excessivo de força policial.

Istambul é a maior cidade europeia, com mais de 13 milhões de habitantes em sua área metropolitana. O primeiro-ministro, Recep Tayyip Erdogan, que foi seu prefeito, é o maior defensor da construção do empreendimento comercial no parque. O partido de Erdogan, o Justiça e Desenvolvimento (AKP), há dez anos no poder, vem perdendo popularidade por causa de algumas medidas de inspiração islamita, como a proibição de beijos no metrô e a venda de bebidas alcoólicas na via pública.

Erdogan reagiu às manifestações com ameaças e exigiu o fim imediato dos protestos, para evitar problemas a turistas e comerciantes. Ele classificou os protestos como “ideológicos em vez de ambientais”. Nos últimos dois dias, a polícia tentou dispersar os manifestantes com gás lacrimogêneo e canhões de água, mas os protestos se ampliaram para diversos bairros, ricos e pobres. Médicos disseram à agência de notícias Reuters que cerca de mil pessoas ficaram feridas nos confrontos em Istambul na sexta-feira. Há muitos anos não se via uma manifestação tão forte na Turquia contra o governo.

Nos últimos anos, o país experimentou forte crescimento, e seu Produto Interno Bruto (PIB) superou US$ 1 trilhão em 2011. Mesmo com a crise europeia, a Turquia continuou se desenvolvendo. O PIB aumentou 2,2% no ano passado e o governo previa para este ano crescimento de 4%. Portanto, não é a economia o principal problema de Erdogan, ao contrário de outros países da região. O primeiro-ministro ainda é considerado como o líder turco mais poderoso desde Mustafa Kemal Ataturk, que há 90 anos fundou a moderna república secular depois da queda do Império Otomano.

É possível que o autoritarismo, expresso pela derrubada das árvores, esteja corroendo o poder de Erdogan. No sábado, manifestantes gritavam palavras de ordem como esta: “Vamos derrubar o governo fascista”. Uma jovem levantava um cartaz, com a advertência: “Eu não sou um rei, eu sou um primeiro-ministro eleito pelo povo. Sou seu servo, não seu mestre”.

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por