Filha do rei da Espanha é acusada; início de ano sombrio para a Coroa

Sylvie Groult - AFP
07/01/2014 às 09:01.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:11
 (Juan Carlos Hidalgo)

(Juan Carlos Hidalgo)

MADRI - Um juiz espanhol acusou nesta terça-feira a infanta Cristina, filha mais nova do rei Juan Carlos, por suposta fraude fiscal e lavagem de dinheiro, abrindo um ano sombrio para uma Coroa enfraquecida pelos escândalos e pelos problemas de saúde do monarca.

É a primeira vez que um membro direto da família real é envolvido na investigação por corrupção que pesa desde 2011 sobre Iñaki Urdangarin, marido da infanta.

Urdangarin, 45 anos e ex-campeão olímpico de handebol convertido em executivo, é suspeito, junto ao seu ex-sócio Diego Torres, de desviar 6,1 milhões de euros de fundos públicos mediante o Instituto Nóos, uma sociedade sem fins lucrativos que presidiu de 2004 a 2006 e que contava com a infanta em sua junta diretora.

Cristina, de 48 anos, também é coproprietária, junto com Urdangarin, da empresa Aizóon, suspeita de ter servido de fachada.

O juiz José Castro, de Palma de Maiorca, nas Ilhas Baleares, que lidera o caso Nóos desde 2010, ignorou a oposição da procuradoria de acusar Cristina por "supostos crimes fiscais e lavagem de dinheiro". E convocou a infanta a depor no dia 8 de março em Palma.

Após a notícia, a Casa do Rei limitou-se a expressar seu "respeito às decisões judiciais".

Uma acusação que chega em um momento difícil para a monarquia

A acusação da infanta chega no pior momento para o rei Juan Carlos, que no domingo completou 76 anos e que nesta segunda-feira apareceu visivelmente cansado, apoiado em duas muletas e vacilante em seu discurso por ocasião da Páscoa Militar, sua primeira aparição pública após sua última operação - a nona desde 2010 - no dia 21 de novembro.

Este sombrio 2014 também começa com uma nova pesquisa desastrosa, publicada no domingo pelo jornal de centro-direita El Mundo: 62% dos espanhóis querem que o monarca abdique e apenas a metade (49,9%) apoia a monarquia, uma queda de cinco pontos nos últimos 12 meses.

O último respiro, segundo esta pesquisa, viria do príncipe Felipe, de 45 anos, de quem 66% dos pesquisados têm uma opinião "boa ou muito boa", e 57% pensam que pode melhorar a imagem da monarquia, restaurada na Espanha após a morte do ditador Francisco Franco em 1975.

No entanto, em sua mensagem televisionada de Nochebuena, o monarca voltou a deixar claro que não deixará o cargo: "Quero transmitir a vocês como rei da Espanha minha determinação em continuar no desempenho fiel do mandato", afirmou.

O monarca, símbolo da unidade do país, tem diante de si neste ano a difícil tarefa de mediar o conflito entre o governo central de Mariano Rajoy e o executivo regional de Artur Mas, determinado a convocar em novembro um referendo de independência da Catalunha, ao qual Madri se opõe.

O procedimento contra a infanta Cristina se segue a uma denúncia apresentada pela associação de ultra-direita Mãos Limpas, famosa por ter originado grandes julgamentos, como o de 2012 contra o ex-juiz Baltasar Garzón por ter investigado os crimes do franquismo.

O magistrado já havia acusado a infanta em abril, na época por suposto tráfico de influência, mas esta decisão foi anulada por um recurso da procuradoria, que considerou os indícios insuficientes.

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