Mandela, Lincoln e Luther King, a tríade moral de Obama

Tangi Quemener
06/12/2013 às 19:48.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:37
 (Brendan Smialowski)

(Brendan Smialowski)

WASHINGTON - Em uma decisão incomum por uma morte que não está diretamente ligada aos Estados Unidos, o presidente Barack Obama ordenou que as bandeiras dos edifícios públicos sejam deixadas a meio-pau durante os quatro dias de homenagens a Nelson Mandela.

"Madiba" e sua luta contra o Apartheid estão entre as grandes referências morais do primeiro presidente negro dos Estados Unidos. Além de Mandela, o panteão de Obama inclui Abraham Lincoln e Martin Luther King.

Em sua homenagem ao ex-presidente sul-africano, discursando na Casa Branca alguns minutos após o anúncio de sua morte, um emocionado Obama falou de seu herói, usando os outros dois como referência.

"Ele já não está mais entre nós. Ele pertence à História", afirmou Obama, retomando uma frase pronunciada após o assassinato do presidente Lincoln, o "libertador" dos escravos, em 1865.

Obama também manifestou "nossa gratidão pela vida de Nelson Mandela, um homem que tomou a História em suas mãos e desviou a trajetória do universo moral para a justiça", parafraseando o trecho de um discurso de Luther King, figura central da luta contra a desigualdade racial nos Estados Unidos.

Ao contrário da geração anterior de políticos negros americanos, como Jesse Jackson, companheiro de estrada de King, o jovem Obama não viveu os anos mais duros da segregação em seu país. De fato, ele mal completava três anos de idade, quando o presidente Lyndon Johnson promulgou a histórica lei sobre os direitos civis, em 1964.

O despertar de sua consciência política no final de 1970, como ele mesmo lembrou na quinta-feira, deve-se a Mandela, detido pelo regime branco racista.

"Faço parte das milhões de pessoas que se inspiraram na vida de Nelson Mandela", contou. "A primeira coisa que eu fiz em política foi (ir a) uma manifestação contra o Apartheid. Estudei suas palavras e seus escritos", acrescentou.


Um único encontro entre Obama e Mandela, em 2005
"No dia em que ele foi solto da prisão, tive a ideia do que os seres humanos podem fazer quando são guiados por suas esperanças, e não por seus medos. E, como tanta gente no mundo, não consigo imaginar minha vida sem o exemplo de Nelson Mandela", frisou Obama.

Essa crença contrasta com a política oficial dos Estados Unidos no final da Guerra Fria, quando Washington concordava com Pretória em suas acusações de que Nelson Mandela era um "terrorista".

Quando o regime racista se aliava a Washington para conter a influência soviética, o presidente republicano Ronald Reagan vetou as sanções contra a África do Sul proposta pelo senador Ted Kennedy. O Congresso ignorou o presidente, porém, e aprovou uma redução da ajuda econômica a Pretória, em 1986.

"Durante o tempo que me resta viver, farei todo o possível para aprender com Mandela", prometeu Obama em seu discurso na quinta-feira.

Apesar da admiração pelo líder sul-africano e de ter sido, como ele, o primeiro presidente negro de seu país, ambos se reuniram apenas uma vez. Esse breve encontro aconteceu em um hotel de Washington, em 2005. Obama tinha acabado de ser eleito senador pelo estado de Illinois (norte).

Na visita oficial à África do Sul em sua primeira grande viagem ao continente africano como presidente, no final de junho, Obama teve de desistir de encontrar "Madiba". Na época, Mandela já estava muito doente.

Acompanhado de sua mulher, Michelle, e de suas duas filhas, Obama visitou a cela de Robben Island, onde Mandela ficou confinado por 18 anos. No livro dourado do presídio, Obama escreveu: "em nome da nossa família, cheios de humildade, estamos aqui, onde homens com essa coragem enfrentaram a injustiça e se negaram a se curvar".

A Casa Branca já confirmou que o casal Obama estará presente na última homenagem a Mandela, na próxima semana, na África do Sul.

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