Maré humana em funeral de opositor tunisiano; confrontos com a polícia

AFP
08/02/2013 às 19:06.
Atualizado em 21/11/2021 às 00:51
 (Fethi Belaid)

(Fethi Belaid)

TUNÍSIA - Dezenas de milhares de pessoas participaram nesta sexta-feira (8) do funeral do opositor assassinado Chokri Belaid, que se transformou em uma manifestação contra o poder islamita na Tunísia, onde ocorreram confrontos, apesar do grande aparato policial e militar.

O partido islamita no poder, o Ennahda, foi acusado de estar por trás deste assassinato sem precedentes na história contemporânea da Tunísia.

Enquanto o país está paralisado por uma greve geral convocada por vários partidos e pela União Geral Tunisiana do Trabalho (UGTT), 40.000 pessoas assistiram ao funeral, segundo o Ministério do Interior, que registrou 132 prisões em Túnis e danos em edifícios públicos e sedes do partido na província.

O corpo de Chokri Belaid foi enterrado às 16 horas (13 horas de de Brasília) no sul de Túnis, enquanto milhares de vozes gritavam "Alá Akbar" (Deus é grande) antes de entonar o hino nacional e recitar o primeiro verso do Alcorão.

Hamma Hammami, líder da Frente Popular, a coalizão de esquerda e extrema-esquerda à qual pertencia o morto, pronunciou em seguida uma prece fúnebre: "Repouse em paz Chokri, continuaremos a seguir seus passos", declarou emocionado à multidão em silêncio.

A polícia usou bombas de gás lacrimogêneo contra vândalos que incendiaram carros diante do cemitério, no sul de Túnis, onde o opositor foi enterrado. O incidente provocou um breve movimento de pânico, segundo a polícia. "Ghannouchi assassino"

Na avenida Habib Bourguiba, em pleno centro, a polícia perseguiu com cassetetes e bombas de gás lacrimogêneo dezenas de jovens manifestantes hostis ao poder, que gritavam "Vão embora, vão embora!", o grito utilizado na revolução que em janeiro de 2011 derrubou o governo de Zine El Abidine Ben Ali.

Assassinado com três tiros na frente de sua casa, na quarta-feira em Túnis, Belaid, de 48 anos, era um firme opositor aos islamitas e liderava o Partido dos Patriotas Democratas.

"O povo quer a queda do regime", gritou a multidão na entrada do cemitério de El Jellaz.

"O povo quer uma nova revolução", "Ghannoushi assassino", "Ghannoushi, pegue seus cachorros e vá embora!", gritavam as pessoas, referindo-se ao líder do partido Ennahda.

Ao redor do cemitério um impressionante esquema de segurança foi montado, com militares, unidades antidistúrbios e homens à paisana encapuzados e armados com cassetetes.

Helicópteros do Exército sobrevoavam a capital, onde caminhões militares estavam mobilizados na avenida Bourguiba, epicentro dos confrontos dos últimos dias, que custaram a vida de um policial. Outro agente estava nesta sexta-feira em coma depois de ter sido espancado durante a noite por manifestantes em Gafsa.

Os militares também foram mobilizados nas cidades de Zarzis (sul), Gafsa (centro) e Sidi Bouzid, berço da revolução de 2011, diante dos principais prédios do governo.

A greve geral causou o cancelamento de todos os voos de partida e de chegada no aeroporto de Túnis-Cartago, o principal do país.

Os transportes funcionavam de forma precária, os supermercados, lojas e cafés estavam fechados em diversas cidades, e as ruas estavam quase vazias. Divisões no Ennahda

Esta mobilização, a primeira desta magnitude desde 2011, ocorre em um contexto econômico e social muito tenso, em meio a manifestações e conflitos, geralmente violentos, que se multiplicam em razão do desemprego e da miséria, dois fatores que desencadearam a revolução.

O assassinato também agravou a crise política no país, com o surgimento de divisões entre os moderados do Ennahda, liderados pelo primeiro-ministro islamita, Hamadi Jebali, e um grupo mais radical, alinhado com seu líder histórico, Rashed Ghannoushi.

Jebali pediu na quarta-feira a criação de um governo de tecnocratas, o que seu próprio partido, o Ennahda, rejeitou.

"Mantenho a minha decisão de formar um governo de tecnocratas e não precisarei do aval da Assembleia Nacional Constituinte" (ANC), declarou.

Em meio à confusão, o principal grupo jihadista tunisiano, Ansar al-Sharia, convocou os islamitas a acabar com suas divisões para evitar "uma guerra civil".

"Fazer mais concessões, liberar ainda mais o lastro neste momento crucial só pode levar ao suicídio político", declarou ao Ennahda o líder do grupo radical, Abu Iyadh, procurado pela polícia por seu papel no ataque à embaixada dos Estados Unidos em setembro.

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