Náufrago diz que ilusão de ver novamente sua família o manteve vivo

Giff Johnson - AFP
04/02/2014 às 09:32.
Atualizado em 20/11/2021 às 15:47
 (Hilary Hosia)

(Hilary Hosia)

MAJURO - O náufrago salvadorenho que diz ter sobrevivido mais de 13 meses à deriva no Oceano Pacífico depois de ter zarpado do México declarou nesta terça-feira (4) em uma entrevista à AFP que pensou em suicídio, mas que lembrar da sua família o manteve vivo.

Além disso, o pescador José Salvador Alvarenga declarou que sua profunda fé religiosa o ajudou durante seu percurso de 12.500 quilômetros entre o México e um atol (Ebon) ao sul das Ilhas Marshall, e descreveu como se viu obrigado a lançar ao mar o cadáver do companheiro adolescente com quem havia saído para pescar, que morreu de inanição.

Segundo ele, os dois saíram de Puerto Paredón, no México, no dia 21 de dezembro de 2012, a bordo da lancha "Camaronera de la costa", com destino a El Salvador para passar o Natal, mas foram surpreendidos por um vento norte muito forte.

"Não queria morrer de fome, nem de sede, tinha medo", declarou à AFP Alvarenga mediante um intérprete de espanhol no hospital de Majuro, capital do arquipélago, onde se recupera depois de ter sido encontrado na quinta-feira por dois moradores locais, quando estava completamente desorientado em sua chegada ao remoto atol.

"Ocorreram dois momentos em que pensei em me matar, quando não havia comida nem água pegava a faca, mas tinha medo de fazer isso", acrescentou, levantando um braço para, apontando ao céu, dizer que sobreviveu graças "a Deus, a minha fé em Deus (...) Não pensava que ia morrer, mas que ia sair!".

Alvarenga também mencionou que durante seu périplo ansiava por seus pratos favoritos. Seu sonho por mais de um ano foi "comer uma tortilha, frango, ovos, beber muita água", disse.

Além disso, durante a conversa esclareceu que, embora não seja casado, tem uma filha chamada Fátima Maeva, a quem está ansioso para voltar a ver.

Já seus pais, que vivem em El Salvador, temeram seriamente por sua vida.

"Dou graças a Deus por ver meu filho, acreditava que estava morto", declarou à rede de televisão CNN sua mãe, María Julia Alvarenga, que junto ao seu marido, Ricardo Orellana, vive em uma comunidade de Garita Palmera, 118 km a sudoeste de San Salvador.

"Graças a Deus está vivo. Estamos muito felizes. Só quero tê-lo aqui conosco", acrescentou sua mãe. O governo salvadorenho trabalha com o do México para acelerar sua repatriação.

Alvarenga disse com a ajuda do tradutor que saiu para pescar tubarões junto a um adolescente chamado Ezequiel e que ficaram à deriva na pequena embarcação de fibra de vidro de 7,3 metros de comprimento.

O semblante do homem de 37 anos mudou ao descrever como seu acompanhante, que tinha entre 15 e 18 anos, morreu quatro meses depois de ter zarpado ao não conseguir sobreviver se alimentando com carne de aves e tartarugas, com o sangue delas e sua própria urina. Quando o jovem faleceu, Alvarenga lançou seu cadáver ao mar.

Na segunda-feira pescadores mexicanos reconheceram por fotografias o salvadorenho.

"É ele, é 'La Chancha', papai!", afirmou utilizando o apelido do náufrago um dos filhos de Guillermino Rodríguez Solís, o pescador chefe de Alvarenga, ao ver as fotografias de seu resgate mostradas pelos repórteres que viajaram à comunidade de Chocohuital, município de Pijijiapan, em Chiapas (sudeste).

Rodríguez declarou que Alvarenga zarpou no fim de 2012 com todas as ferramentas necessárias para um dia normal de pesca de tubarão, possuía gasolina, água suficiente e mantimentos para retornar em menos de 24 horas à costa de Chocohuital.

O salvadorenho, conhecido na comunidade pesqueira como "La Chancha", se comunicou "em uma ocasião por rádio", mas foi antes da mudança repentina de clima, disse Rodríguez.

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