Povoado de Mandela aguarda o retorno de seu filho mais ilustre

Sibongile Khumalo - AFP
07/12/2013 às 13:00.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:38
 (Stringer)

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QUNU (África do Sul) - Em Qunu, o povoado sul-africano onde Mandela passou sua infância, os habitantes se preparam solenemente para o retorno de seu filho mais ilustre, que será sepultado no dia 15 de dezembro na terra de seus antepassados.   Os idosos desta aldeia caminham cabisbaixos e baixam a voz para falar do herói da luta contra o apartheid, falecido na quinta-feira aos 95 anos. "Estamos de luto, merece todo o nosso respeito", declarou o chefe Mfundo Mtirara, sobrinho de Nelson Mandela.   Na região, nestas aldeias escondidas entre as colinas da província Oriental do Cabo, longe de Johannesburgo, o pudor proíbe uma expressão ruidosa das emoções. Nada de cânticos, portanto, para lembrar Madiba - o nome do clã de Mandela, utilizado de forma afetuosa para se referir a ele - nem de vigílias à luz de velas. Tampouco serão realizadas danças.   A casa de Mandela, que domina esta paisagem descrita com ternura em suas memórias, é sóbria e não se vê nenhuma agitação ao seu redor. Nada que lembre a efervescência que reina nos arredores de sua casa de Johannesburgo, onde pessoas anônimas deixam flores e mensagens de pêsames desde quinta-feira. Alguns soldados e policiais montam guarda em suas imediações. Como sempre.   A estrada asfaltada que passa em frente à casa foi fechada ao público, já prevendo a grande afluência de visitantes.   O chefe Mtirara foi o encarregado de anunciar a notícia do falecimento a alguns dos parentes de Mandela: "Um grande homem se foi, estamos profundamente tristes, embora soubéssemos que esse dia iria chegar", declarou à AFP. "Merecia nosso respeito enquanto estava vivo, vamos seguir respeitando-o em sua morte", afirma o chefe tradicional, que vive muito perto da casa de Madiba.    Qunu será o centro do mundo no dia 15 de dezembro, quando os líderes mundiais assistirem ao enterro do Prêmio Nobel da Paz 1993.   A aldeia não imagina o "furacão" que se aproxima. Neste sábado, uma delegação do povoado viajará a Johannesburgo para se reunir com familiares de Mandela e se informar sobre a organização do funeral.   Na aldeia, homens velhos fumam cachimbos e andam devagar, parando para falar entre eles sobre a morte de Madiba: "Nossos antepassados nos entregaram ele, agora volta com eles", comentou Albert Njokweni, um pastor de ovelhas.   Mandela "teve uma vida longa e difícil, mas foi esta dificuldade que nos trouxe a liberdade. Já é hora de descansar entre seu povo", declarou. "Não acredito que este povoado volte a ver um homem como ele. Estamos agradecidos de poder dizer que era um dos nossos", acrescentou.   A cidade mais próxima de Qunu é Mthatha, que se encontra a 30 quilômetros de distância. Tem um museu dedicado a Mandela. As suas bandeiras estão a meio mastro e os retratos de Madiba estão pendurados nos postos de iluminação.   Um supermercado pendurou um imenso retrato com a mensagem: "Descanse em paz, Nelson Mandela. Você é uma lenda, um pai e, acima de tudo, nosso líder".   Mandela, apesar de seus 27 anos na prisão e de sua trajetória como líder internacional, nunca perdeu o contato com suas raízes ou com a cultura de seu povo Xhosa, com o qual afirma ter adquirido seus valores essenciais.   Descendente colateral de uma linhagem real, Mandela retornará no domingo ao seu povoado para descansar no túmulo familiar, junto aos seus pais e a três de seus filhos falecidos.   Na terça-feira será organizada uma cerimônia no estádio Soccer City de Soweto (perto de Johannesburgo) para homenageá-lo. E na quarta, quinta e sexta-feira seus restos mortais cruzarão as ruas de Pretória todas as manhã até a sede do governo para que o povo sul-africano possa se despedir de seu líder.   No domingo Mandela será finalmente enterrado em Qunu.

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