Reformas no Vaticano: para Francisco, a Cúria é a "lepra" do papado na igreja

Hoje em Dia
02/10/2013 às 06:37.
Atualizado em 20/11/2021 às 12:57

No princípio era o verbo, segundo o Evangelho de S. João, destacando a importância da palavra na criação do mundo. E um novo mundo, representado por uma das suas instituições mais poderosas, pode estar nascendo das palavras do papa Francisco. Sem papas na língua, ele afirma, em entrevista publicada na segunda-feira (1º) pelo jornal italiano “La Repubblica”, que “a corte é a lepra do papado”. O papa se referia à Cúria – ou seja, o governo da igreja.

Embora não seja propriamente uma corte, como nas velhas monarquias, existem “cortesãos” na Cúria que o papa quer reformar. Para isso, ele deu início ontem à reunião do Conselho dos Cardeais no Vaticano, que terá como missão promover a maior mudança na estrutura da igreja Católica em 25 anos. Na entrevista, Francisco admitiu que os chefes da igreja Católica “geralmente têm sido narcisistas, amantes da adulação e excitados de forma negativa por seus cortesãos”.

A reunião começou com missa concelebrada pelos cardeais na Casa de Santa Marta, durante a qual o papa disse que a força do Evangelho “está na humildade”. E que a igreja cresce pela “caridade humilde, sem proselitismo”.

Outra mudança que ocorre na igreja: pela primeira vez desde que foi criado há 125 anos, o Banco do Vaticano – ou Instituto para as Obras de Religião (IOR) – publicou ontem seu balanço anual. O banco declarou lucro líquido de R$ 261 milhões no ano passado, contra R$ 61 milhões em 2011. Seu presidente, Ernst von Freyberg, nomeado em fevereiro deste ano pelo papa Bento 16, explicou em entrevista à Rádio Vaticano que “o IOR está comprometido com um processo de exaustivas reformas para promover os mais rigorosos padrões profissionais”. E citou a “implementação de rígidos processos contra a lavagem de capitais”.

Se tiver êxito na reforma pretendida por Francisco, o Vaticano não mais se ocupará de escândalos como os que mancharam a sua longa história de sucesso. Um deles foi protagonizado pelo arcebispo Paul Marcinkus, dos EUA. Ele presidiu o IOR por 18 anos, até 1989, e era conhecido como o “banqueiro de Deus”. O Vaticano possuía 16% do Banco Ambrosiano, de Milão, cujo presidente, Roberto Calvi, foi encontrado enforcado sob uma ponte de Londres, em junho de 1982. Dois meses depois, o governo italiano descobriu um rombo de US$ 1,5 bilhão no Ambrosiano e decretou sua falência. Foram acusados formalmente Marcinkus e dois administradores do IOR que se asilaram no Vaticano para não serem presos.

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