Número de mulheres que chefiam lares em Minas subiu 32,2% entre 2012 e 2017

Tatiana Moraes
11/01/2019 às 20:29.
Atualizado em 05/09/2021 às 16:00
 (Editoria de Arte)

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O empoderamento feminino refletiu diretamente na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), realizada pelo IBGE. O número de mulheres que chefiam lares em Minas aumentou 32,2% entre 2012 e 2017, passando de 2,217 milhões para 2,931 milhões. Hoje, elas comandam 40,5% dos domicílios. “O Brasil passa por um movimento de despatriarca-lização”, diz o presidente do Conselho Regional de Economia de Minas Gerais (Corecon-MG), Paulo Bretas.

Quando a composição das famílias é levada em conta, os arranjos chamados nucleares – compostos por pai, mãe e filhos; ou pai, mãe e enteados; ou mãe e filhos – são os que mais cresceram. No mesmo período, essas residências passaram de 1,193 milhão para 1,712 milhão, elevação de 43,3%.

O IBGE considera “chefe de família” tanto a pessoa que paga a maior parte das despesas como aquela responsável pelas principais decisões da casa. A empresária Márcia Machado se encaixa nos dois perfis. Além de ganhar mais do que o marido, que é servidor público, é ela quem dita a maioria das regras no lar. Casada há três anos, Márcia tem dois filhos e dois enteados.

 Lucas Prates  Além de ganhar mais do que o marido Marco Aurélio Dias, que é servidor público, Márcia Machado é quem dita a maioria das regras no lar

“Trabalho mais tempo por dia e tenho um salário mais alto. E somos bem resolvidos com isso aqui em casa. Além disso, como fico mais tempo fora de casa, meu marido realiza mais atividades domésticas do que eu, o que é absolutamente natural. E ele só não faz mais coisas porque temos uma ajudante”, ressalta. 

Ela destaca que, como as mulheres ganharam o mercado de trabalho, é importante que os homens deixem o posto de coadjuvante do lar. “Não existe tarefa de homem ou de mulher. O mundo mudou muito com a entrada da mulher no mercado de trabalho e a sociedade precisa entender isso porque tem muita mulher sobrecarregada por aí”, avalia. 

Para o coordenador do curso de economia do Ibmec, Márcio Salvato, a crise ajudou na “despatriar-calização” da sociedade. “Com as demissões, especialmente nas fábricas, muitos homens foram demitidos e as mulheres precisaram aumentar a renda do lar”, diz. 

Ele destaca que as mulheres ainda ganham menos do que os homens na mesma função. Por isso, na hora de recontratar para cargos inferiores, com salários mais baixos, elas têm preferência. 

 

Sem auxílio do ex-companheiro, mães criam filhos sozinhas e assumem protagonismo 


As mães solo, que fazem parte do arranjo familiar nuclear, contribuem para elevar o índice de mulheres que chefiam lares. Elas acabam comandando a casa na marra. Afinal, além de criarem os filhos sozinhas, muitas não têm auxílio do ex-companheiro para pagar as contas. 

Separada há dois anos, a coach Kika Moreira é responsável pela maioria das faturas que envolvem a filha de três anos. “O pai não paga pensão como deveria e preciso me virar. Só não trabalho mais porque estipulei que quero tempo de qualidade com a minha filha”, diz. 

 Marcelo Poleze/DivulgaçãoSeparada há dois anos, Kika Moreira é responsável pela maioria das faturas que envolvem a filha 


O presidente do Corecon-MG, Paulo Bretas, ressalta que o Bolsa Família, programa do governo federal, é outro fator que impulsiona o protagonismo feminino. Elas representam mais de 90% dos beneficiários, independentemente do arranjo familiar. 

Como o programa de combate à pobreza tem diversas condicionantes nas áreas de educação e saúde, como frequência escolar e cumprimento do calendário de vacinação, ficou a cargo das mulheres a responsabilidade de gastar o dinheiro. Como reflexo, elas ganharam mais autonomia no lar. 

A queda no número de casamentos e o aumento dos divórcios é outro ponto destacado pelo coordenador do curso de Economia do Ibmec, Márcio Salvato, para o aumento da quantidade de mulheres que chefiam o lar. 

Segundo a pesquisa Estatísticas do Registro Civil, do IBGE, a taxa de divórcio em 2017 foi de 2,48%, índice maior do que o registrado no ano anterior, de 2,38%. 
E a durabilidade média dos casamentos diminuiu de 17 anos em 2007 para 14 anos em 2017. “Quando há uma separação, é comum que os filhos fiquem com a mãe, que se torna a chefe do lar. A mulher assume o posto”, diz Salvato. 

Na contramão, o levantamento do IBGE aponta, ainda, que cresceu 15% o número de casamentos entre mulheres em 2017, índice quase seis vezes maior do que a união entre homens, cujo aumento foi de 3,7%. 
 

  

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