A carnificina em unidades prisionais do Norte do país, que nos primeiros seis dias de 2017 matou 93 encarcerados, escancarou a força do narcotráfico no Brasil. Nacionalmente, o negócio gira aproximadamente R$ 15,5 bilhões ao ano, de acordo com levantamento da Consultoria Legislativa da Câmara de Deputados, realizado em agosto de 2016.
Conforme os dados, a maconha deve movimentar, anualmente, R$ 6,68 bilhões. A cocaína gera outros R$ 4,69 bilhões; o crack, R$ 2,95 bilhões; e o ecstasy, R$ 1,189 bilhão.
As cifras explicam porque a atividade gera tantas disputas entre facções criminosas como Comando Vermelho (CV), Família do Norte (FDN) e Primeiro Comando da Capital (PCC).
À frente da Colômbia, do Equador, da República Dominicana e da Argentina, o Brasil foi o país mais frequentemente utilizado como base para envio de cocaína para a Europa, entre 2009 e 2014, segundo o Anuário das Drogas da Organização das Nações Unidas (ONU), de 2016. No mesmo período, 51% do fornecimento de cocaína que chegou à África partiu também do Brasil.
O negócio das drogas, que envolve um em cada quatro adultos no mundo, movimenta cerca de U$S 320 bilhões ao ano, segundo a ONU. No Brasil, somente o Comando Vermelho e a Família do Norte, pivôs da crise atual, giram cerca de R$ 1 bilhão por ano, aponta o sociólogo e integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Robson Sávio.
De acordo com o pesquisador, a diversificação de negócios com a qual o PCC se envolve para lavar o dinheiro da droga é tamanha, em ramos como transportadoras e mercado imobiliário, que torna-se impossível mensurar o volume dos negócios da facção paulista.
Pilares
O modelo repressivo de policiamento brasileiro, que relega a investigação a segundo plano; a dificuldade da Justiça em responsabilizar os grandes players do tráfico; e o sistema prisional superlotado, em que parcela significativa dos detentos vira “mão-de-obra” para as grandes facções são tidos como os principais eixos para o colapso da chamada “guerra às drogas”.
“Ao invés de o foco ser o pequeno traficante, é preciso pegar o grande produtor da droga. Temos uma polícia reativa e uma justiça muito punitiva que não prende da mesma forma o aviãozinho e o dono da droga”, observa Robson Sávio.
Para o presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais (Ibccrim), Cristiano Maronna, a desigualdade e a corrupção também colaboram para o que ele chama de “falência do sistema prisional brasileiro”, que culmina na violência extrema nos presídios.
Para especialistas, é preciso investir em inteligência
Enquanto foram investidos R$ 23,9 bilhões em policiamento em todo o país, em 2015, as despesas com informação e inteligência, no mesmo ano, somaram apenas R$ 829,16 milhões, aponta o Anuário Brasileiro de Segurança Pública divulgado no ano passado.
“É preciso inverter a lógica e investir com mais força na questão da inteligência”, destaca Sandro Cabral, professor de estratégia do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper) de São Paulo.
Cabral critica a morosidade na Justiça na resolução da situação dos presos provisórios. Dados de 2014, publicados no último anuário da segurança, apontam que 212,17 mil presos se encontravam nesta situação no país. Para efeito de comparação, o número era de 164,68 mil em 2012.
“O nosso sistema penal prevê uma série de sanções. Infelizmente, a prisão se tornou regra, gerando explosão no encarceramento. E o sistema não funciona, a ressocialização não acontece”, observa Cristiano Maronna, presidente do Instituto Brasileira de Ciências Criminais.
Integrante do Fórum Brasileiro de Segurança Robson Sávio reforça que, co<CW0>mo crime “organizado”, o narcotráfico encontra-se inserido no sistema judiciário, da polícia e do sistema político, inclusive financiando, de forma irregular, campanhas eleitorais. Tudo isso torna o desafio de combatê-lo mais complexo.
Parceiros
Dentro dos presídios, a relação entre diferentes perfis de presos reforça a inserção de novos detentos nas facções. “Primeiramente, é preciso ter a quantidade de presos adequada à capacidade. A segunda coisa é evitar ao máximo colocar presos provisórios junto aos já condenados. É preciso separar os de baixa periculosidade dos de alta. Isso é o básico”, diz o professor Sandro Cabral.
Ele, no entanto, acredita que nem tudo está perdido, e cita como experiências a serem consideradas as das Apacs, em Minas Gerais, por exemplo.
Minas
Tentando tranquilizar a população, o secretário de Administração Prisional de Minas, Francisco Kulpidlovski, afirmou ontem que a situação no Estado está dentro da normalidade.
“O sistema prisional no Estado está tranquilo, sendo monitorado continuamente, e os órgãos de segurança estão seguindo nossas orientações. As remoções estratégicas de internos estão sendo feitas e o serviço de inteligência tem funcionado e nos relatado as ocorrências para que nós tomemos providências dentro do tempo”, afirmou. Editoria de Arte / N/A