'O eleitor está vacinado e quer proximidade com o político'

Luciana Sampaio Moreira
lsampaio@hojeemdia.com.br
01/11/2018 às 22:57.
Atualizado em 28/10/2021 às 01:34
 (LUCAS PRATES)

(LUCAS PRATES)

Ex-assessor do vice-presidente da República José Alencar nos dois mandatos, o estrategista político Leandro Grôppo, diretor da Strattegy Marketing Político, conseguiu garantir em Minas a vitória do candidato Romeu Zema (Novo) ao Palácio da Liberdade. Desconhecido no meio político, o empresário de Araxá saiu de 2% das intenções de voto no primeiro turno para vencer as eleições com 71,90% dos votos válidos. 

“O desafio da campanha era aumentar o potencial de conhecimento do Zema. Fizemos uma campanha com esse objetivo, principalmente nos locais onde o discurso do Novo tem eco. Selecionamos 200 cidades para visitar e fizemos uma comunicação focada para cada uma delas. Estivemos em municípios de todos os portes. Na maioria das vezes, seguíamos de van para caminhadas onde o candidato tinha contato direto com a população, com olho no olho e aperto de mão, para se apresentar”, conta o responsável pelo plano de comunicação.

Na avaliação do estrategista político, que participou também da campanha do atual presidente da Federação das Indústrias de Minas, o pleito deste ano deste ano foi um divisor de águas porque mostrou a efetividade de um modelo novo. “O eleitor está vacinado e quer proximidade com o político, o que joga por terra a ‘síndrome de autoridade’ dos homens públicos”, disse, acrescentando que a campanha política para o Executivo centrada em encontros com lideranças já não é garantia de voto certo. 

Com pós-graduação em Gestão Pública e especialização em Marketing Político no exterior, Grôppo considera que “o eleitor fez na urna a reforma política que os políticos não fizeram”. Nesta entrevista ao Hoje em Dia, ele conta mais detalhes sobre sua trajetória na carreira e faz uma análise da vitória de Zema e do pleito

Por que o senhor decidiu ingressar na área de marketing político?
Sou baiano, mas minha família é de Ubá, na Zona da Mata, onde meu avô tinha atuação política. Com ele, comecei a acompanhar e gostar de política desde menino. Adorava participar das campanhas. Lembro de acordar cedo para assistir o horário eleitoral na televisão. Já fiz de tudo em campanhas, de entregar santinhos na rua até a colar cartazes, quando ainda era permitido. 
A amizade do meu avô com o ex-presidente José Alencar me possibilitou participar das suas campanhas para o governo de Minas em 94 e para o Senado em 98. Depois da eleição de 2002, Alencar me convidou para ser seu assessor na Vice-Presidência em Brasília. Eu estava com 22 anos e trabalhei com ele até 2009. Nesse meio tempo, estudei Jornalismo, fiz cursos de Marketing Político no exterior, pós-graduação em Gestão Pública e dois mestrados em áreas como Comunicação e Política Pública. Também conheci pessoas que trabalhavam na área de marketing político e participei de diversas campanhas como voluntário nos anos seguintes. Embora tenha sido aprovado em concurso público para o Ministério da Integração Nacional, o meu negócio sempre foi o marketing político.

Qual a sua especialidade?
Dediquei e dedico minha vida à política e hoje trabalho com marketing político, algo bem diferente de publicidade. Tenho no currículo20 anos de campanhas políticas e também classistas como a do atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Flávio Roscoe, mas já trabalhei para eleições de condomínio, time de futebol e reitoria de universidade.
Também presto consultoria política durante o mandato, caso o serviço seja solicitado, e não ocupo cargos políticos. 
Costumo dizer que comunicação é o ar que o político respira. Na campanha, se ele ficou 45 dias tentando convencer o eleitor, depois de eleito deve falar sobre projetos, obras e resultados.

O candidato a um cargo público ainda é visto como produto? 
Não. O candidato tem uma história, passado, família e aliados. O segredo do marketing político é trabalhar com o que ele tem de positivo. Para tanto, é preciso fazer um diagnóstico sobre o potencial da pessoa/campanha. 
O diagnóstico identifica o que o eleitor quer e demanda, e se o que o candidato tem a oferecer se encaixa. Tem situações que não ‘casam’. No contexto eleitoral do Estado neste ano, Romeu Zema representou os anseios dos votantes porque o tom da campanha foi de renovação e não de continuidade.

Como o senhor avalia o resultado das eleições deste ano?
O eleitor fez na urna a reforma política que os políticos não fizeram. Todo pós-eleição é acompanhado de uma reforma eleitoral. Na maioria das vezes, essas mudanças são para cercear a comunicação, reduzir o tempo de campanha e facilitar a vida dos candidatos que já estão no sistema. 
A campanha eleitoral de 2018 foi um divisor de águas porque mostrou a efetividade de um modelo novo. O eleitor está vacinado e quer proximidade com o político, o que joga por terra a ‘síndrome de autoridade’ dos homens públicos. 

Qual foi o “pulo do gato” da campanha de Romeu Zema?
O Romeu Zema tinha um problema. Estreante na política, ele não era conhecido por 87% dos mineiros. Sem alianças e com apenas seis segundos no programa eleitoral de TV e rádio, não tinha visibilidade. Para se ter uma ideia, fizemos 12 inserções durante toda a campanha e delas apenas dez foram ao ar. Já o senador Antonio Anastasia fez mais de 400 no primeiro turno. 
O desafio da campanha era aumentar o potencial de conhecimento do Zema. Fizemos uma campanha com esse objetivo, principalmente nos locais onde o discurso do Novo tem eco.
Selecionamos 200 cidades para visitar e fizemos uma comunicação focada para cada uma delas. Estivemos em municípios de todos os portes. Na maioria das vezes, seguíamos de van para caminhadas onde o candidato tinha contato direto com a população, olho no olho e aperto de mão, para se apresentar. 
Na véspera das eleições, ele estava em Tupaciguara, o que mostra a importância do interior do Estado, onde o discurso político que é feito na capital nem sempre encontra eco junto aos eleitores. 

Qual a sua avaliação sobre a vitória de Romeu Zema?
Foi uma campanha com poucos recursos mas que se mostrou muito eficiente. Vários fatores contribuíram para o resultado positivo que alcançamos. O primeiro deles é que Zema é um ‘monstro’ para trabalhar. Incansável, aderiu ao projeto sem reclamações mesmo quando os eventos programados não tinham quórum. Por outro lado, ele tem uma história forte de gestor de sucesso, com 30 anos de experiência, e que está disposto a fazer o que os políticos tradicionais não fizeram.
O uso das redes sociais também foi direcionado, para divulgar o candidato. No segundo turno, as imagens da propaganda eleitoral gratuita foram as que fizemos no primeiro turno.

Como o senhor avalia o atual sistema eleitoral brasileiro?
O tempo de campanha de 45 dias é péssimo. Na última mudança, os políticos pegaram a rejeição que a população tem contra eles e usaram a seu favor. Isso prejudica os novos nomes.
A quantidade de partidos políticos é algo que funciona apenas como balcão de negócios. Serve para negociar tempo de TV, durante as campanhas, e cargos, após as eleições. 
Considero o fundo eleitoral um absurdo porque esse recurso poderia ser usado para saúde, infraestrutura e educação, ao invés de financiar campanhas políticas.

Mas a campanha de Zema recebeu doação de empresários.
As doações foram voluntárias e registradas. Essa cultura que existe nos Estados Unidos não existia no Brasil. Lá, política é vista como solução e aqui como problema. Fizemos uma campanha sem prejudicar os fornecedores e tudo com nota fiscal e sem pagamento ‘por fora’. Se o cidadão tem empatia pelo candidato e pelas propostas e acha que isso vai mudar a sua vida e a empresa, qual o problema em fazer uma doação?

Romeu Zema também foi alvo de fake news.
O governador eleito não tem aquela maldade dos políticos profissionais que são capazes de falar por horas sem dizer nada. Ele concorreu com candidatos muito experientes. A edição de trechos de falas, fora do contexto, e de outros casos para denegrir a reputação dele foram maldades que felizmente não alcançaram os resultados pretendidos. 


 

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