'Ocupação de hotéis será de 13% a 18%', prevê presidente da ABIH

Marciano Menezes
mmenezes@hojeemdia.com.br
07/09/2020 às 06:00.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:28
 (MAURÍCIO VIEIRA)

(MAURÍCIO VIEIRA)

Depois de ter registrado uma retração de receita acima de 75% de março até agora e de perder mais de 22 mil empregos no Estado devido à pandemia do novo coronavírus, a indústria hoteleira de Minas Gerais começa uma retomada, mas ainda de forma muito lenta. Na avaliação do presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis em Minas Gerais (ABIH), Guilherme Sanson, neste resto de ano a taxa de ocupação dos estabelecimentos deve ficar muito abaixo da média registrada em 2019, que chegou a 65%. “Estamos estimando a ocupação dos hotéis em torno de 13% a 18% e uma diária média mais baixa”, enfatizou, lembrando que o custo médio das diárias no ano passado ficou entre R$ 220 e R$ 230.

Nesta entrevista ao Hoje em Dia, Sanson, que é formado em turismo e hotelaria e está há 24 anos no setor hoteleiro, lembra das dificuldades que o segmento enfrentou para ter acesso às linhas de crédito disponibilizadas pelo governo. Segundo ele, o excesso de exigências das instituições financeiras foi o grande entrave para que o empresariado, que já estava enfrentando a retração no setor, tivesse acesso às linhas de financiamento, que beneficiaram no máximo 20% das empresas do segmento.MAURÍCIO VIEIRA Sanson avalia que 25% de todos os meios de hospedagem não voltam a funcionar até o fim do ano

Gerente dos hotéis Ibis Afonso Pena e Lourdes, Sanson avalia que 25% de todos os meios de hospedagem não voltam a funcionar até o fim do ano, seja por não ter viabilidade econômica, devido à falta de fluxo de caixa e até mesmo devido à quebradeira de muitas empresas. 

Segundo ele, este processo de retomada da rede hoteleira requer a criação de pacotes com flexibilidade de cancelamento e vendas antecipadas de pacotes, de forma que o cliente consiga ter uma vantagem econômica e menos rigidez em relação a eventuais cancelamentos ou remarcações.

A pandemia de Covid-19 castigou muito o setor hoteleiro em Minas. Qual foi a redução de receita que o segmento registrou de março até agora?
Em torno de 75% a 80% de toda a receita da hotelaria caiu desde março.

Quantas unidades existiam em Minas filiadas à ABIH e quantas tiveram que encerrar as atividades devido aos efeitos da pandemia ou ainda não tiveram condições de retomar as operações?
O Estado tem 4.300 meios de hospedagem. A gente estima que 25% de todos esses meios deixarão de operar até o final do ano. Pelo Observatório do Turismo, que é um dado mais confiável, são 3.900 meios de hospedagem. E 25% não voltam a operar até o fim do ano, não só por suspensão, porque não têm viabilidade econômica, e outros não voltam porque quebraram, não têm mais fluxo de caixa, faliram.

Com esse arrefecimento da pandemia, os hotéis estão começando a voltar a operar não só em Belo Horizonte, mas na RMBH e em cidades do interior do Estado. Como está este processo de retomada do setor?
Ainda é uma retomada muito pequena, gradual. A gente estima que os números que nós tivemos em 2019, só chegaremos próximos deles em 2022. Neste ano e em 2021 ainda será muito baixa a ocupação e a situação será muito complicada ainda para a hotelaria e para o turismo em geral.

E quais são esses números de 2019 que o senhor está tendo como parâmetro?
A gente tinha em t orno de 65% de ocupação, uma diária média em torno de R$ 220 a R$ 230 . E isso não vai acontecer agora. Estamos estimando a ocupação dos hotéis em torno de 13% a 18% e uma diária média mais baixa. E é errado isso, porque a diária média sendo mais baixa, você vender um produto mais barato, não necessariamente vai trazer demanda. A demanda vai vir por uma situação de pandemia, de insegurança, das pessoas estarem temendo se contaminar e não por questão de preço.

Essa ocupação de 13% a 18% vocês estão prevendo até o final deste ano...
Por aí, mas varia, porque tem lugares que você consegue uma ocupação um pouco melhor, o agronegócio é um pouco mais ativo. O Estado é muito grande, alguns lugares vão conseguir uma performance um pouco melhor, mas na média é isso.

Em termos de valores, a ABIH tem uma estimativa de quanto foi esse rombo do setor neste período de pandemia?
É difícil estimar. Cada hotel tem a sua diária média e o seu orçamento.

Como as pessoas ainda estão muito assustadas com o coronavírus, o que as empresas têm feito para tentar, de forma efetiva, atrair novamente essa clientela?
As questões básicas hoje em dia têm sido de segurança. Você assegurar, através dos protocolos governamentais, auditorias e parcerias que os hotéis têm feitos com empresas certificadoras e de tecnologia, de segurança, de higienização, processos que garantam a efetiva segurança e limpeza dos estabelecimentos de forma que sejam minimizados quaisquer riscos de contaminação nesses estabelecimentos. Então, a prioridade é segurança, treinamento, a criação de pacotes com flexibilidade de cancelamento, vendas antecipadas de pacotes para quaisquer datas que ainda existam no calendário, de forma que o cliente consiga ter uma vantagem econômica na compra e também uma flexibilidade com relação a eventuais cancelamentos ou remarcações.

Para essas datas especiais, como hoje o 7 de Setembro, 12 de outubro, o que tem sido feito pelas empresas para tentar captar mesmo essa clientela?
A criação de pacotes, inclusão de benefícios, inclusão de alimentos e bebidas integradas nas diárias. Criar uma experiência para o cliente, aí cada estabelecimento define como vai ser feito isso, criar algum tipo de sugestão de passeio de forma mais aberta, não aquela coisa interna, como um ‘baile do Havaí’ aqui na piscina do hotel. Não. Hoje em dia vamos privilegiar fazer uma trilha aqui, numa cachoeira, agora que os parques do Estado estão reabrindo gradativamente. Dar opções, fazer uma volta de bicicleta. Então, seria você fazer a junção de alguma coisa do seu estabelecimento mais alguma oportunidade de passeio, utilizando o que os parques e outros locais que o Estado têm de forma que não aglutine tanto essas pessoas.

Na realidade, Guilherme, este é um momento do setor se reinventar, buscando mais qualidade, um preço mais acessível para tentar trazer esse turista de volta...
Com certeza, na verdade, para vários segmentos, não só turismo e hotelaria em geral, você, profissional, deve estar sempre atento às tendências de mercado e a hotelaria não vai ser diferente, não só no que diz respeito ao produto, mas em temos de polivalência dos colaboradores.

Voltando um pouco aos efeitos da pandemia, em relação aos empregos, o que houve de perdas de postos de trabalho aí nesse período de março até agora?
Mais de 6 mil pessoas perderam o emprego em Belo Horizonte e Região Metropolitana. No Estado, eu imagino aí em torno de 20 mil a 22 mil pessoas ou mais.

E já há um ensaio dessa retomada de contratações de forma gradativa ou ainda está meio embrionário?
Meu estabelecimento tinha 80 colaboradores, hoje estamos com 18. Depende um pouco do perfil de produto. O que vai acontecer, até como falei da demanda, é fazer uma contratação por período menor, por áreas, uma contratação para o período de festas, de feriado. Você ter essa mão de obra que em algum momento foi de carteira assinada e fazer contratos menores ou de experiência com essas pessoas para poder suprir as demandas pontuais. E aí, gradativamente, subindo a ocupação, você efetivar aqueles que tiverem o melhor desempenho.

Alguns hotéis, principalmente em Belo Horizonte, estão apostando em ofertas especiais para casais, por exemplo. Esse é um caminho, buscar novos nichos?
Na verdade são opções de empreendimentos que já estão com essa segurança e todo o protocolo e usando a criatividade para oferecer diárias com benefícios não só de valores, mas também de inclusão de alimentos e bebidas para as pessoas ficarem com segurança nos produtos que são referência de qualidade, de bom gosto, nos finais de semana e em outras datas especiais.

Neste período de pandemia, alguns hotéis que tinham dinheiro em caixa também resolveram investir em reformas para melhorar o atendimento aos consumidores...
Segurança, processos, procedimentos e treinamentos eram coisas habituais na hotelaria. Mas alguns empreendimentos saíram na frente porque tinham esse valor pré-reservado. Independentemente da pandemia, já ia acontecer aquela determinada reforma ou otimização de determinados espaços ou implementação de melhorias no estabelecimento. E não perderam o foco, mantiveram. Porque a parte de construção, em um primeiro momento, teve uma pequena queda, mas depois retomou com tudo. Têm muitos empreendimentos residenciais sendo feitos, pessoas querendo construir casas, então a hotelaria não parou. Tem vários hotéis que estão mantendo os seus planos de melhoria dos empreendimentos. E aí, de certa forma, saem na frente de outros que não tinham essa visão, esse dinheiro guardado como fundo de reserva.

O setor vem sofrendo com a falta de incentivos do governo federal?
O governo criou algumas linhas para a hotelaria e outros empresários e microempresários em geral que exigem garantias que a hotelaria não tem. O empresariado está sem fluxo de caixa, sem receita desde março. E por vezes não tem outros requisitos que governo e os próprios bancos que o governo credenciou exigem para a liberação do dinheiro. Então, eu diria que 15% a 20% da hotelaria conseguiu ter acesso aos financiamentos que o governo liberou. Então, você vê lá que tem o dinheiro, mas não tem acesso porque não preenche os requisitos para solicitar o empréstimo. O banco não vê como seguro fazer a liberação desse dinheiro para esse tipo de negócio. Tem apoio, mas é difícil, não chega na ponta.

A dificuldade de acesso ao crédito...
Isso, muito difícil, muito complicado.

O que pode ser feito para dar uma impulsionada no setor?
A gente tem que olhar turismo e hotelaria como geração de impostos e de empregos. E acho que o governo poderia olhar com um pouquinho mais de cuidado essas questões que eu levantei, principalmente de acesso ao crédito e também de facilitação, de dar upgrade na mão de obra, de oferecer cursos de qualificação para a hotelaria de forma geral e para o turismo. Também acho que a gente poderia trabalhar também com relação à nota fiscal eletrônica de forma que, em algum momento, os contribuintes possam utilizar esses créditos, a pontuação, de uma forma positiva, não só para uma diminuição do IPTU ou de impostos, mas até para poder gerar um voucher e fazer uma visitação no parque estadual, ter um desconto na hospedagem e hotelaria, para contratar receptivo de turismo e fazer um passeio, uma visitação em cachoeiras e parques. Acho que isso é uma forma não só de você ter uma transparência governamental, mas de geração de negócios.

Empresariados que resistiram a esse período difícil da pandemia saem mais fortalecidos no pós-crise?
Acho que sim, desde que estejam abertos e fazendo corretamente o recolhimento de todas as obrigações e de todos os protocolos exigidos não só pelo governo, mas pela Anvisa, isso cria um know-how, uma segurança para os clientes que, com certeza, no futuro, caso essas normas sejam observadas, saem na frente de outros que vão reiniciar, começar do zero ou trocar de nome, de bandeira.

  



 

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