Otávio Viegas: industrial do ano e mestre em equipamentos por imagem

Luciana Sampaio Moreira
lsampaio@hojeemdia.com.br
18/05/2018 às 19:03.
Atualizado em 03/11/2021 às 02:55
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Na entrada da VMI Tecnologias, maior fábrica de equipamentos de Raio X da América Latina, a placa de Bem-Vindos está escrita em oito idiomas. 
Reinaugurada em abril, mediante aporte de R$ 25 milhões, a planta localizada em Lagoa Santa, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, foi retomada pelo seu fundador e presidente, Otávio Viegas, após 11 anos de ausência, para escrever um novo capítulo do setor de Health Care no Brasil. A VMI foi comprada pela gigante mundial do setor, a Philips, em 2007, e readquirida por Viegas recentemente. 

De perfil discreto, fala mansa e muito educado, Viegas é engenheiro eletrônico e empresário desde a década de 80. É fundador do Grupo Prime Holding, que congrega 14 empresas das áreas médica, construção civil e serviços. Em 2017, a companhia faturou R$220 milhões. Ele produz de tudo: de mamógrafo a scanner de aeroporto.

Na próxima quinta-feira, Viegas receberá o diploma de Industrial do Ano 2018, na tradicional cerimônia realizada pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), que celebra o Dia da Indústria.
“Divido esse prêmio com minha família, que é parte desse e de outros tantos projetos, e também com os nossos 850 empregados”, enfatizou. Viegas conversou com o Hoje em Dia com exclusividade.Maurício Vieira 

 Como foi retomar a VMI Tecnologias?
O meu retorno à empresa foi uma decisão do coração. O Brasil detém o processo de desenvolvimento e produção de equipamentos de diagnósticos por imagem e isso não pode ser perdido.
Estamos presentes em 41 países de todos os continentes e reiniciamos as atividades com um portfólio de 15 novos produtos como o primeiro mamógrafo digital e os aparelhos de Raio X com estativa telescópica e estativa Setrus Digital, que permite deslocar as placas para exames nas posições vertical e horizontal, com rapidez e precisão nos resultados.
Inicialmente, vamos produzir 100 aparelhos por mês.

Por que o enfoque em Raio X?
Porque o Raio X está de volta. Com o aparecimento dos aparelhos de tomografia e ressonância magnética, os antigos equipamentos de Raio X ficaram obsoletos. Mas a nossa fábrica está desenvolvendo tecnologias novas que garantam maior segurança para os operadores, além de precisão e rapidez nos resultados para o profissional de saúde.
 

A VMI Tecnologias tem uma bela história para contar sobre o combate ao câncer de mama... 
Durante o governo de Fernando Henrique Cardoso, a principal causa de morte entre as mulheres era o câncer de mama. Os equipamentos para mamografia eram poucos, caros e todos importados. Então, a VMI aceitou o desafio de produzir as máquinas no Brasil. O resultado foi a entrega de 3 mil unidades, com qualidade e performance superiores e preço correspondente a um terço dos importados. Sinto que participamos desse processo de conscientização das mulheres e ajudamos a salvar muitas vidas.
 

A VMI desenvolve essas tecnologias?
Sim. A inovação do nosso setor é constante e é preciso acompanhar as tendências do mercado. Antes de retomar as operações da VMI Tecnologias, participei dos maiores eventos de diagnósticos médicos por imagem para conhecer as novidades. Competimos em igualdade com os importados, mas estamos atentos porque o setor vai passar por uma revolução nos próximos anos.
Assim, além de produzir, a fábrica também tem um departamento de Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) que congrega engenheiros, especialistas em eletrônica, desenvolvimento de softwares, mecânica e design que fazem os projetos e testam os equipamentos internamente. 
Neste primeiro momento, investimos R$ 20 milhões em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) de equipamentos de diagnóstico por imagem para humanos. 
Mas estamos dando um passo além, com a Linha Vet, que apresenta ao mercado mundial o mesmo tipo de tecnologia para animais de todos os portes, para atendimento em clínicas ou em campo.
 

Mercado interno ou externo?
Estamos presentes em 41 países de todos os continentes. No momento, 60% da produção é para o mercado interno e 40% para o exterior. Na primeira fase da empresa, chegamos a ter 70% do mercado nacional de diagnóstico por imagem e estamos prontos para recuperar esse posto. Nossa expectativa é chegar a 2019 como líderes do mercado nacional e isso é possível porque nosso produto é bastante competitivo.

A concorrência chinesa é um problema?
Os chineses são concorrentes de peso, mas o forte deles é o preço. Mas assim como têm essa vantagem, têm falhas. Temos que conhecê-las para criar estratégias de negócios mais eficientes. 
No nosso setor, preço não é tudo. Os equipamentos que fabricamos são “ferramentas de trabalho” para os médicos e a precisão tecnológica é fundamental para alcançar o resultado correto. Uma falha pode condenar um paciente. 
A assistência técnica local e a presença fortalecem a parceria. Temos equipes técnicas e comerciais em cada capital do país, para dar o suporte necessário para os clientes.
Além disso, temos empresas que atuam em outros estados, como São Paulo, Recife e Piauí.

Os insumos são todos nacionais?
Não. Mas para otimizar os processos de importação e exportação, temos a Global Trade Company, com sede em Hong Kong. Assim, conseguimos os itens necessários com maior agilidade.
 

Além do setor de Health Care, a Prime Holding também tem outros negócios?
A VMI Sistemas de Segurança e a VMI Aeroportuária são empresas importantes e atuam em outro segmento estratégico da indústria nacional. 
No caso da VMI Sistemas de Segurança, o crescimento foi de 30% em 2017, no comparativo com o ano anterior. Lá são produzidos diversos scanners de diversos tipos e tamanhos para uso em portos e aeroportos. Um dos destaques o Body Scanner.
 

O Grupo também inclui duas construtoras? 
Sim. A CVM Construções Industriais e Participações e a Compor Construtora têm experimentado um momento de baixa, em função da crise nacional. No caso de habitações, não é possível construir sem financiamento. Apesar da queda dos juros, a Selic, o dinheiro ainda está caro no Brasil.

Como o Sr. avalia a indústria nacional?

A indústria nacional está preparada para crescer. Eu sinto isso. O empresariado e o trabalhador têm garra e criatividade para enfrentar os desafios. 
A carga tributária é um problema. Em uma venda, 40% são impostos. Em outra frente, a indústria também tem que oferecer saúde, alimentação e transporte para os funcionários. Não podemos deixar os trabalhadores desamparados ou em dificuldades. Isso acaba onerando os nossos custos ainda mais.
Mesmo assim, eu acredito no futuro da indústria brasileira e que estamos prontos para iniciar um novo ciclo de crescimento com a abertura de muitas vagas de emprego.

O Brasil está saindo da crise econômica?

A melhoria do Brasil tem sido lenta, o que é compreensível para um país de dimensão continental e com culturas diversas. Não há uma homogeneidade no pensamento. Mas sou otimista e acredito que, em 30 anos, estaremos entre os maiores países do mundo.O Brasil tem toda a riqueza de que necessita para crescer, o que nos falta é o direcionamento e uma política voltada para o desenvolvimento e para a educação, principalmente.

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