Papéis das siderúrgicas reagem depois de descerem ao inferno

Raul Mariano
rmariano@hojeemdia.com.br
23/04/2016 às 19:51.
Atualizado em 16/11/2021 às 03:05
 (Divulgação/Usiminas)

(Divulgação/Usiminas)

A possibilidade de um impeachment da presidente Dilma Rousseff tem animado a bolsa de valores, mas são as melhorias no ambiente internacional de negócios ocorridas no último quadrimestre que têm provocado altas de mais de 200% nas ações das grandes siderúrgicas.

O crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) chinês no primeiro trimestre do ano, acima das expectativas, e a recuperação no preço do minério de ferro no mercado internacional, que subiu 4,13% chegando aos US$ 62,85 a tonelada métrica no porto de Qingdao, contribuíram para maior otimismo dos investidores com os ativos siderúrgicos.

A Companhia Siderúrgica Nacional, por exemplo, viu as ações saltarem de R$ 3,86 no início de janeiro para R$ 13,30 em meados de abril. Uma alta de 244,5%. A Gerdau teve as ações subindo de R$ 4,54 para R$ 8,08, alta de 78%. Até mesmo a Usiminas, que esteve perto de declarar a insolvência, teve alta 56,8% nas ações no mesmo período. 

O presidente do Instituto Mineiro de Mercado de Capitais (IMMC), Paulo Ângelo Carvalho de Souza, explica que o aumento da chance de impeachment da presidente vem ao encontro do cenário que favorece a valorização das ações.

“Houve aumento do preço do aço e do minério, sendo que a maioria das siderúrgicas possui minas em exploração. Nesse contexto, a expectativa do impeachment gera a sensação de que a economia caminha para se recuperar. No caso da Petrobras, por exemplo, a simples possibilidade de um novo governo, com uma política de austeridade mais liberal para preços, aumenta a atratividade das ações”, avalia.


Reversão
A valorização das ações, no entanto, está longe de ser suficiente para compensar as perdas sofridas pela siderurgia nos últimos anos. Um estudo realizado pela consultoria Economática com base nos dados fornecidos pelas companhias siderúrgicas e metalúrgicas à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) aponta que as vendas do setor vêm caindo desde 2013. 

De acordo com o levantamento, o lucro líquido do setor teve o pior desempenho em 2015, com prejuízo de R$ 6,47 bilhões. Sem considerar a empresa Gerdau, o prejuízo cai para R$ 1,92 bilhão.

O pior momento vivido pelo setor foi em dezembro de 2015, quando as empresas atingiram o valor de mercado de R$ 17,6 bilhões, o que representa uma queda de 83,94% na comparação com o pico de 2009, quando o valor de mercado das siderúrgicas era de R$ 109,8 bilhões. No último dia 15 de abril, o valor de mercado das empresas era de R$ 33,9 bilhões, crescimento de 92,24% com relação ao ano de 2014. 

“Ações em elevação não revertem as perdas com as siderúrgicas. O efeito positivo só traz resultados se as mudanças na economia acontecerem de verdade. Uma coisa é a especulação e a expectativa refletida na bolsa, outra coisa é a recuperação efetiva das empresas”, destaca Souza.

Reflexo – Planta da Usiminas: mesmo correndo o risco da recuperação judicial, as ações da empresa também subiram na Bovespa.

O pior momento foi em dezembro de 2015, quando as empresas atingiram valor de mercado de R$ 17,6 bi, queda de 83,94% na comparação com 2009


Empresas são as primeiras a sentir a crise, mas saem mais rápido dela


As especificidades do setor siderúrgico também contribuem para a oscilação das ações. Para o professor de finanças do Ibmec Ricardo Couto, as companhias são as primeiras empresas a paralisarem as atividades em momentos de crise.

Ele explica que muitas vezes essas empresas começam a se recuperar justamente quando a economia do país vai mal. Isso porque elas já estavam sofrendo os efeitos da retração antes da crise econômica chegar ao ápice.

“Nessa cadeia, as empresas que consomem a produção siderúrgica já começaram a reduzir estoques. Agora, com a crise, os clientes já não têm estoque e o preços internacionais também já começaram a aumentar. Muitos alto-fornos já estão fechados e isso faz com que a oferta fique escassa influenciado o preço da matéria prima e, por consequência, elevando o preço das ações”, afirma Couto.

Distribuição
Depois de um longo período amargando quedas no preço em decorrência da queda nas cotações do aço e do minério de ferro, as siderúrgicas devem aumentar o preço do aço plano no início do mês de maio, segundo informações do Instituto Nacional dos Distribuidores de Aço (Inda). O aumento acumulado deverá ser de 25%. 

Segundo o instituto, as siderúrgicas estão acompanhando a reação dos preços internacionais dos metais, especialmente na China e nos Estados Unidos, nas últimas semanas, incluindo minério de ferro, sucata e carvão.

O aumento do preço do aço deverá ser repassado integralmente aos clientes dos distribuidores, mesmo diante do quadro de forte recessão econômica.

“O consumo de aço é bastante inelástico, não deve ter grande impacto na demanda”, informou o presidente do Inda, Carlos Loureiro.

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