Passada a febre, faturamento dos food trucks em BH encolhe 40%

Fábio Corrêa
fcaraujo@hojeemdia.com.br
19/01/2018 às 20:35.
Atualizado em 03/11/2021 às 00:51
 (Maurício Vieira)

(Maurício Vieira)

Quando as vacas eram gordas, há cerca de três anos, o negócio dos food trucks ia de vento em popa. “Tinha carro que fazia até R$ 4 mil por dia, na rua”, diz Felipe Corrêa Borba, presidente da Associação Mineira de Food Trucks. Mas os tempos mudaram, a crise chegou e não poupou o segmento. “Hoje, o montante não passa de R$ 1 mil”, afirma ele, que desde 2014 está à frente do Dip’s Burger.

Só de 2016 para 2017, segundo o a associação, o faturamento dos food trucks em BH caiu, em média, 40%. Dos 170 carros adaptados especializados em alimentos artesanais, como massas, hambúrgueres e panquecas, sobraram 100 na capital mineira. Muitos foram vendidos para outras cidades. Alguns donos abriram restaurantes ou retornaram às atividades anteriores.

Saindo da rua

A salvação, porém, veio com eventos, desde shows musicais e festivais até casamentos e festas corporativas. “Em eventos grandes, como o Festeja, dá pra faturar até R$ 15 mil”, afirma Bernardo Ferrara, dono do Vesúvio, especializado em sanduíches e massas. Com os três carros, ele atende até oito eventos por fim de semana. Mesmo assim, não abandonou as ruas. “Tem que colocar o carro para rodar. Ás vezes, o estoque tem que ser consumido numa semana para não perder a validade”, explica.

Recentemente, Ferrara tomou a decisão de vender um dos três veículos para abrir um bufê e diversificar o negócio. A venda do automóvel, um Hyundai que recebeu investimento de R$ 100 mil, incluindo a adaptação, está quase fechada com uma compradora do Paraná, por 25% a menos do valor original. “Tive propostas do interior de Minas e até do Ceará, mas surpreendentemente ninguém de Belo Horizonte me procurou”, diz ele.

Diferenciado

O investimento inicial, contando com o carro e as adaptações posteriores – fogões, freezers e revestimentos – pode ir de R$ 50 mil a R$ 250 mil. Para alguns empreendedores, como Cássio Xavier, do Quintetto Food Truck, que começou em 2015, o retorno foi rápido. Em oito meses, ele recuperou os R$ 75 mil investidos. “O ano passado foi ruim, mas conseguimos segurar os preços, apesar da inflação que impactou nos produtos que vêm dos fornecedores”, diz Xavier.

Luciana Soares, sócia-proprietária do Papatella, especializado em massas artesanais, não teve a mesma sorte. Depois de quase dois anos, ela ainda não recuperou os R$ 180 mil aplicados no negócio.

“Tem custo do seguro do carro, gerador, funcionário, embalagem e com os próprios produtos, que são selecionados”, diz Luciana, que vê na manutenção da qualidade dos alimentos oferecidos a chave para se manter na ativa mesmo na crise. “Não posso mudar o tipo de queijo e usar um mais barato. Vou perder a qualidade e os clientes”, afirma.

Para Felipe Corrêa, as dificuldades também têm um lado positivo. “Quando deu o boom, todo mundo achou que a salvação da lavoura era o food truck. Agora a peneira está passando e só os bons vão ficar”, diz.


Sem lei própria, setor espera regulamentação neste semestre

Parada na Câmara Municipal de Belo Horizonte desde 2015, a lei que regulamenta os food trucks está próxima de ir a plenário. Quem garante é um dos interlocutores do setor no Legislativo, o vereador Bim da Ambulância (PSDB). “Tem uma perspectiva boa (de sair no primeiro semestre). O prefeito já se manifestou como apoiador desse movimento. O setor quer regulamentar e contribuir”, afirma Bim.

Sem especificação no Código de Posturas da capital, os donos de food trucks não podem colocar mesas e cadeiras nas ruas, utilizar carros com mais de 1.500 quilos e não contam com um alvará específico da Vigilância Sanitária. São, assim, regidos pela mesma legislação que controla outro tipo de equipamento de rua, mais simples e de menor porte.

“Muita gente mistura carrinho de cachorro de quente com food truck. Não queremos denegrir nem um nem outro, mas o food truck tem pessoas que investem até R$ 700 mil num equipamento e hoje não têm uma regulamentação para trabalhar normalmente”, afirma o presidente da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes em Minas Gerais (Abrasel-MG), Ricardo Rodrigues, que se diz “100% favorável” à regulamentação.

Divergência

Depois de dois projetos que não foram para frente na legislatura passada, foi apresentado, ano passado, o Projeto de Lei 281/2017, endossado por 22 vereadores, que inclui Food Trucks e Food Bikes no atual Código de Posturas. O PL passou na Comissão de Desenvolvimento Econômico e na de Saúde e Saneamento.

Porém, na Comissão de Meio Ambiente, teve parecer pela rejeição do relator Edmar Branco (Avante). Segundo ele, a lei atual já contempla a atividade, que poderia ser regulamentada por licitação. “Entendo que as mudanças no Código de Posturas devem ser feitas de forma ampla, não fragmentada ou setorial”, justifica o vereador.

Para Felipe Corrêa, da Associação dos Donos de Food Truck, o Código de Posturas é para ambulantes. “Muitos deles não recolhem impostos. A regulamentação vai aumentar a arrecadação da cidade. Também vai tornar o serviço mais profissional”, diz.Maurício Vieira

Luciana Soares, sócia-proprietária do Papatella, ainda não recuperou os R$ 180 mil aplicados no negócio


Além Disso

Os food trucks se reúnem durante os dias da semana, à noite, pelas praças da capital. Nas terças, há a feira na praça Cairo (Santo Antônio); nas quartas, na praça Manoel de Souza Barros (Castelo); nas quintas, na praça Guimarães Rosa (Cidade Nova); e nas sextas, na praça do Gutierrez. Além de atrair a clientela local, esses eventos movimentam espaços urbanos antes abandonados e também abrem oportunidade para negócios menores.

Moradora do bairro Santo Antônio desde 1988, a empreendedora Betânia Lara, 51, monta uma barraquinha nos mesmos dias da feira de food trucks na praça Cairo para vender bolos e doces caseiros, o que rende a ela R$ 200 a cada terça. “A feira está atraindo pessoas que não conhecíamos, gente que faz empada, pães, vende plantas”, diz. A iniciativa acabou gerando, no WhatsApp, o grupo “Compre do seu vizinho”, que movimenta o comércio entre os moradores do bairro.

Mas as barraquinhas dividem opiniões. “São ilegais e se aproveitam do público da feira. Alguns donos de food truck são contra”, afirma Felipe Corrêa, presidente da Associação Mineira de Food Trucks. Segundo ele, as praças estavam abandonadas e os food trucks conseguiram “trazer as famílias de volta”.

A industriária Regina Ribeiro, 61, leva a mãe de 91 anos todas às terças na praça Cairo. “Melhorou muito a segurança à noite, mas ainda queremos uma viatura de polícia aqui”, diz.

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