Pequenas e atraentes: startups de perfil tecnológico miram investimentos oriundos da renda fixa

Bernardo Almeida
bpereira@hojeemdia.com.br
17/01/2020 às 22:14.
Atualizado em 27/10/2021 às 02:20
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Some a queda da taxa de juros básicos da economia (Selic), a expectativa de redução de burocracia para investimento em startups e o constante crescimento do setor. Tais fatores, juntos, deixam tais empresas, o que inclui as mineiras, bastante otimistas para 2020. A expectativa delas é de manter o crescimento de pelo menos 20% ao ano experimentado recentemente na área, em todo o país. 

“Há um cenário de diminuição de juros no mundo inteiro que favorece novos investimentos”, diz André Miceli, coordenador do MBA de Marketing e Negócios Digitais da Fundação Getulio Vargas (FGV). 

“Startups são empresas que, como quaisquer outras, buscam resolver um problema real do dia a dia, amparando sua eficiência no uso da tecnologia, com a inovação no seu DNA, o que tende a diminuir custos”, define Amure Pinho, presidente da Associação Brasileira de Startups (ABStartups). 

"Nos últimos anos, vimos um aumento substancial de investimentos, a renda fixa que antes era o destino comum do investidor Brasileiro, agora com a taxa básica de juros abaixo de 5%, abre espaço para a diversificação dos investidores, e assim a oferta de capital para Inovação vai aumentar", completa ele.

Segundo Pinho, há um alinhamento entre governos, iniciativa privada e investidores, o que deve potencializar o número de novas startups no ano – o índice triplicou de 4 mil, em 2015, para quase 13 mil, no ano passado. 

Desde 2018, algumas startups brasileiras, como Nubank, iFood e QuintoAndar, passaram a figurar no clube dos chamadas “unicórnios” (quando atingem valor de mercado de US$ 1 bilhão). “Acredito que tenhamos mais seis ou sete unicórnios brasileiros este ano”, informa Pinho.

A partir do trabalho focado em eficiência energética em uma empresa de São Paulo, o engenheiro elétrico Guilherme Murici, de 35 anos, decidiu explorar oportunidades na área. Ele é um dos fundadores da Even, startup embrionária que aposta nas fazendas de energia para produzir eletricidade de forma mais limpa e barata, de matrizes fotovoltaica e do biogás.

Com sede no bairro São Pedro e acompanhando a movimentação do chamado San Pedro Valley, um dos pólos de inovação renomados do Brasil, em março a Even deve finalizar suas três primeiras fazendas de energia em Montes Claros, Itapecerica e Itamonte, em construção desde o ano passado. 

Em meio a acordos com clientes e investidores, o grupo busca expandir sua atuação para o Nordeste e o Distrito Federal. “Pode perguntar a qualquer geólogo: o Brasil possui um dos maiores potenciais bioenergéticos do mundo e isso deveria nos dar a elétrica mais barata do mundo”, diz Murici.

 Setor em Minas já ocupa o segundo lugar em ranking no país 

De 2018 para 2019, Minas Gerais saltou do quarto para o segundo lugar em número de startups por estado. As 1.094 empresas cadastradas na Associação Brasileira de Startups (ABStartups) ultrapassaram Rio Grande do Sul (918) e Rio de Janeiro (839), ficando atrás apenas de São Paulo (3.780). 

Destacam-se startups como Qranio, Samba Tech, Intergado, Netsupport, Sólides, Hotmart, Méliuz, Rock Content e Sympla, além do complexo San Pedro Valley. “É mais fácil se apresentar como San Pedro Valley, fora de Belo Horizonte e do Brasil, é uma comunidade que já ganhou seu lugar”, diz Guilherme Murici, da startup de energia Even.

Esse pólo de inovação, apelidado a partir de uma brincadeira com o nome do bairro São Pedro, também é elogiado por Max Oliveira, co-fundador da MaxMilhas, que comercializa as milhas adquiridas junto a companhias aéreas desde 2013. “É um ambiente em que aprendi muito, é muito importante a mentoria e respirar essa atmosfera”.

Mentoria é um dos motes do programa Startups and Entrepreneurship Ecosystem Development (Seed), realizado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico (Sede). A continuidade do projeto foi garantida pelo governo de Minas Gerais para este ano, após um atraso no edital, que deve ser divulgado em março.

O projeto de aceleração das startups oferece incentivo financeiro e mentoria para os novos empreendimentos no Estado, iniciativa que favoreceu 181 startups que já geraram 2 mil empregos diretos, de acordo com dados Sede.

A previsão da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico é que o número de novas startups permaneça em crescimento de cerca de 12% no Estado em 2020, índice próximo do que foi observado nos anos de 2015, 2016 e 2017, quando surgiram, respectivamente, 106, 127 e 131 empresas do setor (ainda não há levantamento do Estado para os últimos dois anos).

Ainda de acordo com a Secretaria, 75% das startups contempladas pelo programa em Minas ainda estão em operação, uma expressiva taxa de sobrevivência. 
E persistência é a palavra de ordem para quem pretende enveredar pela área. “A taxa de mortalidade das startups brasileiras é bem inferior à americana. Por exemplo, aqui as que conseguem captar são maduras, e os investidores já entenderam isso”, diz o presidente da ABStartups, Amure Pinho.

“Os criadores das startups devem entender que no início do processo se patina mais do que se fatura, por um período de seis meses, um ano ou até dois, então é um investimento de longo prazo. É preciso manter o foco em crescer, ao invés de tentar criar um novo Facebook, ter a visão de resolver problemas de forma eficiente, construir, ver o que trouxe resultado e fazer uma nova versão”.

  

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