Pesquisa mostra que 4 em 10 investidores já mexeram em reservas na pandemia

Evaldo Magalhães
efonseca@hojeemdia.com.br
14/07/2020 às 07:40.
Atualizado em 27/10/2021 às 04:01
 (Arquivo Pessoal)

(Arquivo Pessoal)

Desde que chegou ao país, em março, a pandemia da Covid-19 tem impactado de forma cada vez mais grave não apenas a saúde, mas também as finanças dos brasileiros. Pesquisa divulgada na primeira semana de julho pelo Centro de Estudos em Finanças da Fundação Getulio Vargas (FGV) e a Toluna, especializada em insights sobre o mercado consumidor, aponta que 64% de 806 entrevistados em todas as regiões brasileiras, com ganhos mensais entre R$ 2 mil e R$ 11,2 mil, perderam renda durante a atual crise sanitária. 

Além disso, quatro a cada dez disseram ter sido forçados a resgatar parcial ou integralmente seus investimentos, seja para fazer frente às despesas diárias (60% desse total), para ajudar familiares (21%) ou para migrar os recursos para aplicações supostamente mais vantajosas (19%), como ações ou imóveis. 

O motivo alegado, nesse último caso, foi a queda acentuada dos juros básicos da economia (a Selic está em 2,25% ao ano), o que fez com que a chamada renda fixa se tornasse péssima opção para lucrar sem fazer força. 

Um dado do levantamento da FGV chamou muito a atenção: o percentual das pessoas que alegaram ter retirado parte ou a totalidade dos recursos de algum tipo de investimento para sobreviver (60% dos entrevistados) é o mesmo das que revelaram ter feito os saques da caderneta de poupança, ainda a mais popular entre as aplicações

Curiosamente, o percentual das pessoas que sacaram recursos da caderneta de poupança – aplicação que, apesar da baixa rentabilidade, ainda é atraente para grande parte da população –, é o mesmo daquelas que recorrem ao “dinheiro no colchão” para sobreviver: 60%. 

Outros 15% retiraram as aplicações de fundos de renda fixa e DI, 12% de papéis de renda fixa bancária (CDBs, LCIs e LCAs) e somente 8% venderam ações.

Perfis

Para Hermano Araújo, assessor de investimentos e planejamento patrimonial, os números traduzem algo que já vem sendo percebido no mercado financeiro. “São duas realidades: por um lado, temos o investidor que não se preparou para o cenário de incertezas ou de demissão e que acaba tendo que acessar sua aplicação para cobrir tal falta de planejamento”, diz. 

“Por outro, há aquele perfil que, em razão dos juros mais baixos da história, precisa se adaptar. Se antes ele era acostumado a ter rentabilidade interessante na renda fixa, sem precisar dar muita atenção a isso, agora deve ir para aplicações de risco ou para a chamada economia real, investindo em empresas ou imóveis, por exemplo”, acrescenta. 

Já para o professor e consultor financeiro Paulo Vieira, os resultados mostram reações naturais em um período difícil, em que milhões de trabalhadores são obrigados a apertar os cintos em razão dos efeitos do novo coronavírus na economia – geradores de reduções salariais, suspensões de contrato, demissões e baixa atividade econômica. “Poupança, que nada mais é do que aquela sobra que se consegue guardar e aplicar após os gastos, serve justamente fazer para frente a imprevistos, como é o caso desta pandemia”, afirma.

“O que ocorre é que as pessoas estão tentando fazer uma adaptação a essa nova realidade financeira e, para isso, precisam queimar reservas, o que gera a ‘despoupança’”, completa.

Organização e adaptações podem ajudar a preservar ‘cofrinho’

Se muitas pessoas sentiram-se forçadas a retirar dinheiro de aplicações para sobreviver ou ajudar parentes durante a pandemia, seja em razão da retração ou até da ausência de renda no período, há também os que, com simples adaptações e melhor organização das finanças pessoais, têm conseguido até mesmo ampliar as reservas. 

É o caso da economista e educadora financeira Adriana Fileto, de 50 anos. Mesmo registrando queda no faturamento normal, ela comemora o balanço positivo nas contas mensais. “Parte da minha renda caiu, sem dúvida, já que eu prestava consultorias, dava palestras e tinha outras atividades impactadas pela chegada da Covid-19”, conta.

“Mas, como mantenho meu salário de servidora pública, e consegui cortar gastos inviáveis ou desnecessários neste momento, como condomínio do clube, que tem vindo com desconto, mensalidade da academia, pagamento da faxineira e do salão de beleza, adaptando o orçamento a este novo normal, estou fazendo economia e até guardando dinheiro”, completa a economista.

A situação de Adriana, é bem verdade, é igual à de boa parte dos entrevistados da pesquisa da FGV que não precisaram retirar recursos de aplicações, ao menos até agora. Dos 36% que ainda não “quebraram os cofrinhos”, segundo o levantamento, a grande maioria é composta por aposentados, assalariados com registro e funcionários públicos. 

Conselhos

Isso não significa, contudo, que dicas que Adriana dá a partir da própria experiência não sirvam para ajudar pessoas que se ressentem de perda de renda. 

Por exemplo: para a economista, uma das melhores estratégias no momento, independentemente da situação financeira de cada um, é buscar qualificação profissional, aproveitando o maior tempo disponível em razão do isolamento social. 

“Há um monte de cursos gratuitos e de alta qualidade disponíveis hoje em dia, em diversas áreas. Além disso, o momento é propício para reavaliar as coisas, mudar hábitos e estilos de vida, fazer atividades físicas em casa mesmo e procurar ter mais qualidade no dia a dia, gastando menos”, ensina.

A economista também destaca que, caso haja alguma sobra de dinheiro, em razão de cortes em atividades como lazer, viagens e até maquiagens e cosméticos – que têm um peso enorme no orçamento das mulheres, principalmente –, é preciso ser racional. “Apesar do tal fecha e abre do comércio, não se deve ceder a ímpetos consumistas”, exemplifica. 

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