Câmara de BH registra encontros de vereador após o expediente

Amália Goulart - Hoje em Dia
27/11/2013 às 07:47.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:24
 (Hoje em Dia/Reprodução)

(Hoje em Dia/Reprodução)

As idas de M.C. à Câmara Municipal de Belo Horizonte, combinadas pela rede social “Facebook”, ficaram registradas no computador de entrada da Casa. As datas das visitas coincidem com aquelas acordadas com o vereador Alexandre Gomes (PSB). Conforme mostrou o Hoje em Dia ontem, com exclusividade, o parlamentar é acusado pelo Ministério Público Estadual de ter empregado M.C. em cargo público em troca de favores sexuais. Alguns dos encontros teriam acontecido no gabinete parlamentar, após as 17h. A Promotoria do Patrimônio Público apresentou ação por improbidade administrativa contra o vereador.

A reportagem teve acesso a registros de entrada de M.C. na Câmara Municipal. No dia 18 de janeiro de 2012, por exemplo, consta que ela registrou a presença na portaria às 16h56min. No dia anterior, M.C. teria combinado com Gomes o encontro, pelo “Facebook”. “Vc vai pra camara amanhã? (SIC)”, perguntou a mulher. Gomes responde que irá e que M.C. poderá visitá-lo. “Depois das 17h”, completou ele.

Em outra ocasião, além da presença de M.C., a Câmara registrou a entrada de suas duas amigas. Em uma conversa pela internet, Gomes combinava relações sexuais com amigas levadas por M.C. “Delicia, virá sozinha ou com S. (SIC)”, perguntou ele em um diálogo.

Na ação por improbidade, o Ministério Público esclarece que Gomes utilizou do cargo para obter vantagens. “A presente ação não pretende discutir aspectos da vida pessoal do requerido, mas, sim, o fato de Alexandre Gomes, no exercício do cargo de vereador, ter usado a máquina pública para satisfação de sua lascívia, oferecendo emprego público (um cargo na Regional Noroeste) para fins de conquistar M.C.”, diz trecho da ação, assinada pelo promotor Eduardo Nepomuceno.
 

Os computadores que registram os visitantes na Câmara Municipal de Belo Horizonte confirmam que, no dia 18 de janeiro de 2012, um dia após aceitar o convite do vereador para ir ao local, M.C. foi recebida no gabinete do parlamentar (Reprodução/Facebook e Câmara)

Câmara vai esperar decisão da Justiça

A Câmara Municipal de Belo Horizonte decidiu, por enquanto, ignorar o escândalo sexual envolvendo dinheiro público e o vereador Alexandre Gomes (PSB). O presidente da Casa, Léo Burguês (PTdoB), informou que só tomará qualquer medida após decisão judicial. “Não chegou nada para mim até agora. Vamos esperar a Justiça se posicionar”, afirmou.

O Tribunal de Justiça irá analisar o possível ato de improbidade administrativa consistente, segundo a Promotoria, no fato de Gomes dar emprego público em troca de vantagens pessoais.

O Tribunal não analisará a conduta do vereador, relativa ao decoro parlamentar. Este ato cabe ao Legislativo. Na ação por improbidade administrativa, é apontado que alguns dos encontros entre M.C. e Gomes ocorriam no gabinete parlamentar.

Em várias conversas entre os dois, anexadas ao processo, Gomes reitera à mulher o horário que deveria ir à Câmara: após às 17h. “Sempre após às 17h”, diz ele no dia 23 de dezembro de 2012.

O teor das conversas entre ambos é pornográfico, motivo pelo qual o Hoje em Dia não as reproduziu na íntegra. Em uma delas, Gomes pede para M.C. ir à Câmara para mostrar a ele os seios. Pede ainda que leve a amiga. “Queria ver seus seios aqui um pouco”, diz.

Em depoimento ao Ministério Público, M.C. confirmou o teor dos diálogos, mas negou ter mantido relações sexuais com o parlamentar. Ela disse que estava interessada no dinheiro dele e, por isso, o “instigava”. A mulher ainda sustentou que ia à Casa Legislativa para receber “pagamentos” do parlamentar.

Eles haviam combinado um salário de R$ 1.200. Porém, o emprego público na Regional Noroeste lhe garantiu rendimentos de R$ 600. A diferença, segundo M.C., era paga na Câmara por Gomes.

Nos diálogos entre os dois, a garota ainda pede dinheiro para outras despesas, como aluguel e pagamento de conta de luz.
A Câmara já foi palco de outros escândalos. O Hoje em Dia mostrou, em 2011, o caso do vereador Gêra Ornelas, que teve que renunciar após ser pego de cuecas no gabinete e acariciando os cabelos de candidatas a emprego. Na época, após pressão, vereadores ameaçavam cassar o mandato dele.

Vereador não vê motivo para ação

O vereador Alexandre Gomes voltou a se manifestar ontem a respeito do caso, reiterando que confia que a Justiça não irá levar adiante a denúncia do Ministério Público de Minas Gerais.

Ele enviou uma nota curta em que, mais uma vez, evita se alongar sobre o assunto. Sem negar diretamente a relação com a mulher que indicou a um cargo público, ele reitera que não vê motivos para ser acionado pela Promotoria. Veja a íntegra da nota:

“Em relação à matéria publicada pelo jornal 'Hoje em Dia’ nesta terça-feira, 26/11/2013, envolvendo o meu nome, esclareço que a questão encontra-se em juízo, pendente de decisão judicial, mesmo não havendo qualquer motivação para a ação proposta pelo Ministério Público, razão pela qual confio no não-acatamento da denúncia pela Justiça”.

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