Polícia do Rio investiga morte de 'Lulinha', jovem símbolo do PAC

Estadão Conteúdo
24/07/2015 às 22:51.
Atualizado em 17/11/2021 às 01:04

A Polícia Civil investiga a morte de Christiano Pereira Tavares, de 15 anos, depois de ser atendido numa Unidade de Pronto Atendimento em Manguinhos, na zona norte. A suspeita é de que tenha morrido por overdose. Ele ganhou a atenção do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva depois de fotografado nadando em poça de lama, aos 8 anos. Por causa da imagem, uma piscina foi incluída no projeto do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC) na favela.

O garoto teve dois encontros com o ex-presidente e com a então ministra Dilma Rousseff, já apontada como possível candidata à sucessão de Lula em 2010. Ambos na entrega das obras do PAC. Acabou ganhando o apelido de Lulinha. A morte dele, ocorrida em 4 de julho e revelada na sexta-feira (24), pelo jornal Extra, expôs as dificuldades ainda enfrentadas pelos moradores de Manguinhos.

Christiano era o filho mais velho da faxineira Bianca Pereira, de 35 anos. Ela criou sozinha o menino, além das filhas Sthephanie Leah, de 14, grávida de seis meses, e Milhena, de 12.

Sem área de lazer na favela em que morava, o garoto aproveitou a poça formada pelo vazamento em tubulação de água para brincar e foi fotografado. Por causa do registro e da aproximação com Lula, Christiano chegou a ganhar curso de natação no Tijuca Tênis Clube, que abandonou porque a família não tinha como pagar transporte e alimentação. Também deixou a escola, aos 13 anos, quando concluiria a primeira etapa do ensino fundamental.

No fim da noite do último dia 3 chegou inconsciente à UPA, levado pela avó, Rita de Cássia Pereira. Morreu 40 minutos depois, já madrugada seguinte. Na unidade, dois painéis exibem o sorriso de Lulinha, famoso após os encontros com o ex-presidente.

Exames laboratoriais que deverão revelar a causa da morte ainda não ficaram prontos. A Polícia Civil abriu inquérito para apurar a morte de Lulinha. Amigos confirmam o consumo de drogas, como crack. "Ele morava comigo. Passau mal e levamos na UPA. Era um garoto muito bom, muito alegre. Está sendo muito difícil pra gente. Não quero falar mais nada. Falar com você não vai trazer meu neto de volta", disse a avó.

Dificuldades

Manguinhos é o quinto pior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Rio. É região marcada pela violência, a despeito da existência de uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) da Polícia Militar desde janeiro de 2013. Segundo o IBGE, cerca de 37 mil pessoas habitam a favela, controlada pela facção criminosa Comando Vermelho (CV). 

Sem ser incomodados, consumidores de crack se reúnem diariamente, às dezenas, sob o viaduto da Avenida Leopoldo Bulhões, mais conhecida no Rio pelo apelido de "Faixa de Gaza". O lixo está acumulado nas calçadas. O cenário é de abandono pelo poder público.

Na porta de casa, Yasmim Silva, de 14 anos, brinca com o irmão Ysaac, de 1 ano e 5 meses. É ela quem cuida do menino, número 43 na fila de espera por uma creche, enquanto a mãe trabalha. Ela também está fora da escola. "Deu desânimo." A Secretaria Municipal de Educação informa que a favela tem sete unidades para 4 mil crianças. Outras sete devem ser abertas até 2016.

O Estado informa que, com o governo federal, investiu R$ 578 milhões e entregou 1.048 unidades habitacionais, biblioteca, UPA e escola. Os moradores reclamam da qualidade das casas. "O revestimento do teto é de isopor. Na casa da minha irmã, bateu o vento e levou. Dá para ver a caixa d'água. No conjunto Nova CCPL, o ventilador de teto esquentou o forro e pegou fogo. Os moradores ainda estão sem casa", contou a comerciante Bianca Batista, de 21 anos.
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