Completando 35 anos de militância, PT quer se reinventar na política nacional

Giulia Mendes - Hoje em Dia
26/01/2015 às 09:00.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:47
 (Editoria de Artes)

(Editoria de Artes)

Prestes a completar 35 anos de fundação, o PT tenta corrigir seu rumo após seguidos escândalos em que se envolveu depois que chegou ao poder. A comemoração do aniversário, em caráter nacional, marcada para os dias 6 e 7 de fevereiro, no Minascentro, em Belo Horizonte, será o pontapé inicial das discussões sobre os próximos passos do partido.

O encontro na capital mineira contará com a presença da presidente Dilma Rousseff e do ex-presidente Lula – que deverá encabeçar o processo de reformulação –, além de ministros, governadores, sindicalistas de todo o país, jornalistas, sociólogos e, pela primeira vez, do público não filiado ao partido que queira contribuir com a chamada renovação petista.

Representantes do PT em Minas Gerais confirmam a necessidade de mudança no partido. De acordo com o deputado Durval Ângelo, líder do governo na Assembleia Legislativa, as legendas precisam se atualizar para não acabarem tendo vida curta, por causa da lógica do poder. “Existe uma perversidade intrínseca nos partidos. Todos querem manter o poder a qualquer custo, e com o PT não seria diferente. As instituições envelhecem e precisam de atualização. Por mais que possa parecer contraditório, no nosso caso é preciso retomar os princípios fundantes do partido para renovar, buscar as origens, a formação inicial dos militantes de esquerda, intelectuais e artistas”, diz.

Para o deputado federal Reginaldo Lopes, o manifesto de fundação da legenda, de 1980, é seguido até hoje. “O partido está em total consonância com o seu primeiro manifesto. Ele continua lúcido e atual. A ideia de renovação deve ser pensada na vida diária do partido, no método interno de organização e não nas disputas externas”, afirma.

O professor de Ciência Política da UFMG Carlos Ranulfo discorda dos parlamentares: “O PT é radicalmente diferente de quando começou. É impossível voltar às origens, ninguém volta, só lembra. Os ideais da fundação são importantes apenas como referência”.

 

Corrupção

O envolvimento do PT nos escândalos do mensalão e da Petrobras fez a legenda aprovar uma resolução de combate à corrupção, em novembro do ano passado, durante Congresso do Diretório Nacional, em Fortaleza. “Da parte do PT, manifestamos a disposição firme e inabalável de apoiar o combate à corrupção. Qualquer filiado que tiver, de forma comprovada, participado de corrupção, deve ser imediatamente expulso”, diz um trecho do documento.

“Ao longo de sua história, a legenda melhorou em alguns aspectos, conhece melhor o país, é mais realista de suas propostas, mas, ao mesmo tempo, se envolveu em um tipo de política que sempre criticava”, avalia Ranulfo. Segundo os dirigentes do PT estadual, a corrupção deve ser amplamente discutida ao longo de 2015.

A secretária-geral da legenda em Minas, Cida de Jesus, acredita na ideia de mudança, mas defende que Lula deve permanecer à frente dos debates. “Ele é a figura que fundou e organizou o partido, ele tem um legado e toda a bagagem necessária para provocar o debate. É o nosso líder até hoje”.

 

Partido vai recorrer a pessoas de fora para ajudar no processo de autocrítica

A necessidade urgente de mudança é quase unanimidade entre os dirigentes desde a eleição do ano passado, quando ficou claro internamente que o modelo criado 35 anos atrás está obsoleto.

Diante da onda antipetista que por pouco não custou à legenda o controle do governo federal, o partido vai dedicar este semestre a reformulações e autocríticas.

Do aniversário da sigla, em fevereiro, em Belo Horizonte, até junho, quando será realizada a segunda etapa do 5º Congresso Nacional do PT, em Salvador, a legenda vai realizar uma série de debates e discussões com três objetivos estratégicos: reaproximar-se dos movimentos sociais, flexibilizar a estrutura partidária e, principalmente, pensar em medidas para recuperar a imagem do partido. “Houve um desvio de rota. Temos que retomar o rumo original”, admite o secretário nacional de Organização do PT, Florisvaldo Souza.

As correções de rumos não são novidade na história do PT. A diferença desta vez é que o partido vai recorrer a pessoas de fora para ajudar no processo de autocrítica. O diretório nacional aprovou a inédita participação de não filiados no Congresso, a instância máxima partidária.

“Podemos fazer convites pontuais a jornalistas, economistas, gente da academia, de preferência críticos ao PT, para ajudar nesta reflexão”, sugere o secretário-geral petista, Geraldo Magela.

“O partido não pode falar só para o seu umbigo. É claro que tem de haver autocrítica, mas o olhar da sociedade sobre o PT também é muito importante”, emenda Durval Ângelo.

A abertura da estrutura partidária, hoje engessada pela eterna disputa entre as correntes internas, é uma das maiores preocupações. No fim do ano passado, o ex-presidente Lula reclamou do perfil essencialmente burocrático da atual direção petista, acentuada a partir da chegada do partido ao governo federal, em 2003.

A ideia é criar mecanismos online que possibilitem a participação na vida partidária de governadores, ministros, prefeitos e parlamentares, hoje dedicados exclusivamente às suas tarefas de Estado. Pessoas próximas a Lula, como o ex-ministro da Secretaria-Geral da Presidência Luiz Dulci e o assessor especial da Presidência Marco Aurélio Garcia, devem ficar mais presentes no partido.

Setoriais de cultura e economia podem ser criados para atrair artistas e acadêmicos. Por meio das redes sociais, o PT quer diversificar sua agenda, incluindo temas como a questão de gênero, mobilidade urbana e meio ambiente para atrair a juventude que aderiu espontaneamente à campanha de Dilma.

A maior preocupação, no entanto, será o combate interno à corrupção. A obrigatoriedade de contribuições financeiras dos filiados deve cair. No fim de 2014, o PT aprovou uma nova regra que agiliza os processos de punição a corruptos. A expectativa é a de um expurgo nos quadros partidários.

(*) Com agências 

Compartilhar
Ediminas S/A Jornal Hoje em Dia.© Copyright 2024Todos os direitos reservados.
Distribuído por
Publicado no
Desenvolvido por