Defesas mudam versões sobre viagem feita por helicóptero com drogas

Ana Flávia Gussen - Hoje em Dia
27/11/2013 às 09:12.
Atualizado em 20/11/2021 às 14:24
 (PM/Divulgação)

(PM/Divulgação)

Um dia após a apreensão de um helicóptero carregado com 443 quilos de drogas no Espírito Santo, surgiu um choque de versões entre as defesas. Contratado pelo pai do piloto Rogério Antunes, detido pela Polícia Federal, o advogado Nicácio Pedro Tiradentes, rebateu as alegações do dono do helicóptero, o deputado estadual Gustavo Perrella (SDD) e disse que o parlamentar sabia da viagem. A informação contradiz o depoimento do próprio piloto, que, à Polícia Federal, segundo o delegado Erivaldo Leão, superintendente da corporação no Estado, disse ter agido “por conta própria”.

Já o advogado de Perrella, Antônio Carlos de Almeida Castro, confirmou que o deputado tinha ciência da viagem, mas teria pensado que se tratava de um frete comum. A informação é diversa da apresentada pelo parlamentar na véspera, quando disse que o helicóptero havia sido roubado.

“O deputado deu entrevista dizendo que ele roubou o avião, mas ele não roubou. O Perrella sabia onde o avião estava. Meu cliente transportou com uma carta de produto agrícola. Ele não sabia”, declarou Tiradentes.

Após saber da versão da defesa do piloto, o advogado do deputado confirmou que Perrella sabia de um frete, mas que pensou ser uma viagem com pessoas, não droga.

“Ele (piloto) mandou um SMS dizendo que ia fazer um frete de R$ 12 mil. O Gustavo respondeu OK. É normal quem tem aeronave, pelos altos custos, pegar duas ou três vezes por ano fretes de pessoas. E como ele confiava no piloto ele deu OK. Espero que a PF já tenha isso em mãos”, declarou Antônio Carlos.

Tiradentes afirmou que seu cliente foi informado de que o material transportado seria agrícola. Antônio Carlos nega e explica que entrou com a queixa de furto não pelo piloto ter sumido com a aeronave, mas por usá-la de maneira indevida carregando drogas. “Imagina, ele nunca permitiria isso (carregar cocaína). Por isso registramos (a queixa)”, disse Anônio Carlos.

Quebra do sigilo

O advogado do piloto disse que vai pedir a liberdade provisória do cliente e a quebra do sigilo telefônico dos envolvidos. Ele contou que passou quatro horas ontem conversando com o piloto no presídio de Viana, cidade próxima a Vitória. Nessa ocasião, ele teria relatado que entrou em contato duas vezes com Perrella antes de voar.

Questionado sobre as declarações do delegado Erivaldo Leão de que o piloto teria dito em depoimento que agiu por conta própria, Tiradentes disse que ele se sentiu pressionado naquele momento.

“Ele disse aquilo pois estava sem advogado, com mais seis pessoas e não queria comprometer ninguém”, rebateu o advogado.

Já a defesa de Perrella informou que a prioridade agora é reaver o helicóptero da empresa Limeira Agropecuária apreendido. A aeronave modelo Robson 66 está avaliada em R$ 3 milhões.

"Estamos fazendo a perícia na aeronave e vamos pedi-la de volta. Também registramos um boletim de ocorrência por furto, já que o piloto foi para lá sem autorização”, declarou Antônio Carlos.

MP investiga e ALMG exonera piloto preso

O Ministério Público Estadual abriu investigação para apurar a nomeação do piloto detido no Espírito Santo por transportar 443 quilos de cocaína. Caso seja confirmado que o funcionário da empresa Limeira Agropecuária, de propriedade do deputado Gustavo Perrella não batia ponto no Legislativo, o deputado pode até responder por improbidade administrativa. 

Antunes foi exonerado dos quadros da Assembleia. A decisão foi publicada nesta quarta-feira. Veja abaixo:




Como divulgou o Hoje em Dia com exclusividade, o piloto Rogério Almeida Antunes é lotado na terceira secretaria da Casa desde abril como agente de serviços de gabinete 1, recebendo R$1,7 mil por mês. Gustavo Perrella, que está em Brasília com seu pai, o senador Zezé Perrella (PDT), ficou incomunicável e decidiu não se pronunciar sobre o caso, por enquanto. Seu advogado, Antônio Carlos de Almeida Castro, que se manifestou por ele, confirmou que a indicação foi feita pelo deputado, pois confiava no piloto. Ele diz que procurou a Assembleia e pediu a exoneração do detido. 

“Pedi a exoneração do piloto, que também já foi demitido da empresa. Estamos mais preocupados em recuperar o helicóptero”, diz o advogado do parlamentar. 

De acordo com Antônio Carlos, Perrella está à disposição da Polícia Federal, mas até ontem não havia sido intimado a depor. Ele negou a informação repassada pela assessoria do parlamentar na véspera, de que o deputado tenha ido ao Espírito Santo acompanhar as investigações.

Segundo o promotor do patrimônio público, Eduardo Nepomuceno, o inquérito vai ser distribuído e as apurações serão iniciadas. “No mínimo existe uma incompatibilidade nos horários de trabalho, já que trabalhava como servidor público e piloto particular”.

Durante coletiva de imprensa concedida na segunda-feira para falar sobre a apreensão da droga, Perrella disse que o piloto trabalhava para ele há mais de um ano e fazia serviços particulares.

Ao Hoje em Dia, o terceiro secretário da Mesa, deputado estadual Alencar da Silveira Júnior (PDT), disse que a nomeação do piloto paulista teria sido um pedido de Perrella. A vaga faz parte das indicações das quais o deputado tem direito por presidir a Comissão de Turismo.

O pedetista informou que nunca questionou a nomeação do piloto por ser “de praxe” dos deputados. “Não interfiro (nos pedidos de nomeação). Nunca interferimos na nomeação de nenhum deputado”, declarou.

Gustavo Perrella era do PDT até outubro deste ano, quando surgiu o Solidariedade, do deputado Paulinho da Força. Seu pai, o senador Zezé Perrella, continua no PDT.
 

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