‘Delator enganou MP’, diz advogado do ‘Rei do Feijão’

Ezequiel Fagundes - Hoje em Dia
20/10/2015 às 06:52.
Atualizado em 17/11/2021 às 02:08
 (André Dusek)

(André Dusek)

Responsável pela defesa do fazendeiro Norberto Mânica, acusado de ser um dos mandantes da Chacina de Unaí, o criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, desafiou o Ministério Público Federal (MPF). Ao Hoje em Dia, garantiu que abandona a causa se o delator Hugo Alves Pimenta, apontado como intermediário do crime, apresentar uma gravação de áudio que comprovaria que foi Norberto quem ordenou a Chacina de Unaí.

“O Ministério Público Federal conseguiu a soltura dele para tentar gravar o Norberto. Esse áudio nunca apareceu e não aparecerá porque não existe. Faço um desafio público: se ele apresentar o áudio eu saio da causa. Isso é falso. Ele enganou o MPF e a polícia”, salientou o defensor.

O depoimento de Hugo Pimenta é um dos trunfos do MPF para pedir a condenação de Norberto. Em entrevista exclusiva ao Hoje em Dia, publicada na edição dessa segunda (19), a procuradora da República Mirian Moreira Lima afirmou que Hugo detém todas as informações sobre a dinâmica do crime. E que foi ele quem pagou os pistoleiros.

No entendimento da procuradora, o depoimento dele vai incriminar tanto Norberto quanto o irmão dele, o ex-prefeito de Unaí Antério Mânica.

“O Hugo é sem dúvida nenhuma o mandante. Foi ele quem negociou com os assassinos. A delação dele é frágil e será anulada em plenário”, rebateu Kakay.

Nesta quinta-feira (22), está marcado para ocorrer o julgamento deles e de José Alberto de Castro, acusado de ser o outro intermediário, no plenário da Justiça Federal em Belo Horizonte.

Sete jurados vão decidir se os acusados são ou não culpados. A partir da decisão, o juiz federal Murilo Fernandes de Almeida fará a dosimetria da pena.

Como Antério foi prefeito e, por isso, tinha foro privilegiado por prerrogativa de função, o processo contra ele foi desmembrado. Dessa forma, será julgado separadamente dos demais réus.

Kakay retrucou outra prova do MPF. São registros telefônicos interceptados apontando suposta conversa entre Norberto e Hugo no dia do crime.

De acordo com o advogado, as conversas, na realidade, foram entre Hugo e funcionários de Norberto. E o assunto tratado, no telefone fixo, foram negócios envolvendo a compra e venda de feijão.

“Eram funcionários dele à época. Foram telefonemas para casa e escritório. Essas pessoas estarão em plenário para confirmar”, afirmou Kakay.


UNAÍ – Reconstituição da morte de 4 servidores do Ministério do Trabalho que investigavam escravidão na fazenda dos Mânicas (Foto: Ivaldo Cavalcante/Hoje em Dia/janeiro de 2014)

Sem fundamento

Por fim, o advogado garante que o cliente dele jamais foi penalizado por uma autuação vultosa. Dessa forma, segundo ele, a tese de crime por causa das intensas fiscalizações nas fazendas não tem fundamento. Ele cita uma discussão entre Norberto e um dos fiscais mortos, em 2003.

“O Norberto é um grande empresário. Evidentemente ele teve uma discussão com um dos fiscais, que lhe ofendeu, lhe chamou de ignorante. Mas é delírio achar que houve vingança por causa de uma discussão. Não sei qual é a motivação. Só pode ser loucura para cometer um crime desses”, afirmou.

Procurado pela reportagem, o advogado de Antério, Marcelo Leonardo, disse que se manifestará em data oportuna. O crime aconteceu em 2004, quando quatro fiscais do trabalho foram mortos a tiros numa emboscada na área rural de Unaí.

Sindicato dos fiscais promete protesto na véspera do júri

Em nota, o Sindicato Nacional dos Auditores Fiscais do Trabalho (Sinait) informou que vai realizar um ato público em favor da punição dos mandantes da Chacina de Unaí.

O protesto está marcado para quarta-feira (21), véspera do início do júri popular. “O Sinait espera que o julgamento de fato aconteça e que os réus e seus advogados não apresentem mais recursos procrastinatórios, que foi o que fizeram durante os quase 12 anos em que este caso se arrasta”, diz o comunicado.

De acordo com o sindicato, auditores fiscais do trabalho de todo o país, familiares das vítimas, sindicalistas, autoridades e cidadãos participarão do ato público pela punição de todos os responsáveis pelo crime.

No crime, ocorrido em janeiro de 2004, foram mortos os fiscais Eratóstenes de Almeida Gonsalves, João Batista Soares Lage, Nelson José da Silva e o motorista Ailton Pereira de Oliveira.

Os quatro foram mortos com tiros na cabeça e no rosto. O caso repercutiu no país e na comunidade internacional.

A presidente da entidade, Rosa Maria Campos Jorge, afirma que o objetivo da manifestação é pressionar a Justiça para apontar os culpados da chacina quase 12 anos depois do ocorrido. Se não houver nenhuma manobra da defesa, o júri será finalizado no dia 27 próximo.

Os réus são os irmãos fazendeiros Norberto e Antério Mânica, apontados como mandantes do crime; e Hugo Alves Pimenta e José Roberto de Castro, acusados de intermediar a contratação dos pistoleiros.

Em 2013, os três acusados de assassinar os servidores públicos do Ministério do Trabalho foram condenados pela Justiça e estão cumprindo pena.
 

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