Eu pintei a cara de verde e amarelo no impeachment de Collor

Ludmila Azevedo - Do Portal HD
29/09/2012 às 07:25.
Atualizado em 22/11/2021 às 01:40
 (Ricardo Medeiros)

(Ricardo Medeiros)

  Hoje faz 20 anos do impeachment de Fernando Collor de Mello. Foi um dia histórico aquele 29 de setembro de 1992, quando a Câmara dos Deputados aprovou a destituição do cargo de presidente. De quebra, ele perdeu os direitos políticos por oito anos. Infelizmente, a memória curta dos eleitores o colocou de novo em cena, mas essa é outra história.   Eu me lembro de comemorar com meus pais a notícia e, semanas antes, de pintar o rosto de verde e amarelo e ir às ruas pedir para que Collor saísse. O primeiro presidente eleito pelo voto direto, após anos de ditadura, estava envolvido em um grande esquema de corrupção, "tomava banho com água perrier" na Casa da Dinda, enquanto o povo ainda passava fome, o ensino ia mal e a saúde caótica. Essa era a minha visão, eu era uma garota de 15 anos que desejava votar para presidente e fazer a diferença por meio de minhas escolhas nas urnas.   Não foi tão fácil. No dia D das manifestações em Belo Horizonte, o colégio onde estudava não liberou as turmas. Da janela eu via alunos de escolas vizinhas marchando pelas ruas, com faixas, apitos e o grito: "Fora Collor! Impeachment já!". Como eu não iria fazer parte daquilo? Pat, minha amiga querida, também estava indignada com a proibição. Decidimos então ir à sala da diretora e pedir a dispensa como cidadãs. Mas quase levamos mesmo uma suspensão.    Não me lembro de como conseguimos fugir do colégio e nos juntamos àquela multidão. Debaixo do uniforme, a camiseta preta. Estava tudo premeditado, é verdade. Eu e Pat fomos do Prado ao Centro e quase perdemos a noção das horas. Naqueles tempos não havia celular para avisar aos pais que estávamos ali militando, brigando pelos nossos direitos e dos nossos filhos. E se a diretora ligasse para os nossos pais, estaria nos fazendo um grande favor. Eles foram jovens nos anos 70. Eles sim lutaram de verdade.   Cheguei em casa eufórica, esperançosa e contei orgulhosa como foi aquele dia. Mal dormi à noite. Ainda em 1992 eu editava um jornalzinho direcionado para alunos do colégio e escrevi sobre a importância da conscientização política como um editorial de eleições. Tirei meu título antes dos 18 anos. Nunca anulei um voto ou o deixei em branco, mesmo que em alguns momentos tivesse que simplesmente escolher o menos pior. Na política, como no amor e na vida a gente se desilude, demora um pouquinho a aprender. No entanto, domingo, dia 7 de outubro aquela garota cheia de ideologias desperta e eu fico querendo fazer a diferença.

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