Financiamos três vezes o valor aportado na empresa, afirma presidente do BDMG Júlio Onofre

Bruno Porto - Hoje em Dia
Hoje em Dia - Belo Horizonte
14/07/2014 às 07:11.
Atualizado em 18/11/2021 às 03:22
 (Frederico Haikal)

(Frederico Haikal)

Júlio Onofre Mendes de Oliveira é engenheiro civil, com especialização em Engenharia Financeira pela Fundação Dom Cabral e MBA em Gestão Organizacional pelo IBMEC Business School. Construiu sua carreira como funcionário efetivo do Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais (BDMG), onde foi estagiário e admitido como analista de projetos em 1979.

Ocupou vários cargos de gerência em áreas de negócios, recuperação e gestão de crédito. Foi também diretor-executivo (2002/2003), diretor-superintendente, presidente do Comitê de Crédito e, de 2012 até assumir a presidência, em maio deste ano, diretor-executivo de Crédito e Risco.
Na entrevista a seguir, ele detalha os planos do BDMG até 2016 e fala sobre as estratégias de participação do banco em empreendimentos de grande porte para viabilizar sua implantação no Estado. Sob sua gestão, o banco também elegeu metas ambiciosas, como a conquista de 8 mil novos clientes em 2014. Empresas inovadoras, de pequeno porte e criadas há menos de seis meses são prioridade.

O BDMG criou uma subsidiária para, por meio dela, ter participação em alguns empreendimentos, como já ocorreu com a Six Semicondutores e com a fabricante de insulinas Biomm. Qual a estratégia do banco nesses negócios?

Nós vimos, a partir de determinado momento, que além do financiamento de projetos, havia a necessidade, em determinadas situações, de apoio mais efetivo do banco. Nesse sentido foi criada uma subsidiária integral do BDMG, dentro do próprio regulamento e das leis que nos regem, a BDMGTec. Ela tem o objetivo de aportar capital em empreendimentos de grande interesse de Minas Gerais e que tenham alto conteúdo tecnológico.

São aportes de equity...

São os dois casos em que nos dispusemos a aportar equity, que são Biomm e Six. A Biomm, em Nova Lima, é a única fábrica nacional de insulina e com alto conteúdo tecnológico. Por isso, entendemos que fazia sentido o BDMG aportar tanto capital como participar com dívida.
Então, temos participação acionária e financiamento. O caso da Six é similar, também entramos com aporte de capital e com dívida. Nos dois casos, entramos junto com o BNDES, e na Biomm, também com Finep e Fapemig. A Six está com a parte de estrutura física praticamente concluída. Entra, agora, em fase de aquisição e instalação de equipamentos. A participação do banco nos dois casos é minoritária e transitória. São condições inclusive impostas pelo órgão regulador.

O BDMG, então, não participa do negócios, ele colabora com sua viabilização...

Não é propósito do banco ser sócio de empresas para alavancar rentabilidade. Lógico que é nosso objetivo entrar em projetos que nos deem rentabilidade, mas não é negócio do banco ser sócio de empresas.

Como funciona essa regulamentação que impede a sociedade?

O Banco Central tem resolução que trata de participação de bancos de desenvolvimento em empresas subsidiadas. Esse regulamento diz que minha participação (do BDMG) tem que ser obrigatoriamente minoritária e com compromisso de saída do negócio. É uma exigência do Banco Central.

A BDMGTec tem orçamento próprio?

Não. O orçamento depende de sua disposição de investir. A estrutura é toda dentro do banco, não existe corpo próprio, o banco presta todos os serviços de suporte necessários. Na medida em que são definidos os investimentos, o banco faz o aporte necessário. Há avaliação de caso a caso pelo BDMG.

A Six superou as turbulências com a saída da empresa de Eike Batista do negócio. Quando veremos a empresa em operação?

A Six teve, no final de 2013, um problema envolvendo um dos sócios, que era um grupo (EBX, que detinha 33% do negócio) controlado pelo senhor Eike Batista. Esse grupo saiu e entrou outro, argentino (Berbill, holding da Corporación América). Esse grupo é muito grande, já investe em microeletrônica e veio muito a calhar com as necessidades que tínhamos àquela época. Eles estão cumprindo com os cronogramas de aportes. Eles e todos os participantes do grupo de controle da Six. A expectativa é de que, entre 2016 e 2017, entre em operação a fábrica de Ribeirão das Neves. Alguns equipamentos estão sendo orçados e outros já foram adquiridos, a maioria no exterior.

O BDMG tomou alguns empréstimos internacionais. Como funciona essa relação com agentes internacionais e qual o seu peso nos negócios do banco?

A necessidade de se buscar esses recursos é de seguir nosso planejamento estratégico de desembolso e um planejamento de fluxo de caixa, para os quais necessitamos de captação de recursos. Meu supridor de recursos hoje é basicamente o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

E qual é o peso do BNDES?

Para se ter uma ideia, o BNDES deve representar cerca de 50% dos recursos que captamos para repassar. Bom, tenho meu capital próprio, meu patrimônio e entrada do retorno de alguns financiamentos. Depois que conquistamos grau de investimento em escala internacional, concedido por Moody’s e Standard & Poor’s, abriram-se oportunidades de captações externas multilaterais.

Quais as principais captações externas já feitas?

A primeira captação, de US$ 100 milhões, foi junto à Corporação Andina de Desenvolvimento, e esse recurso é destinado a micros, pequenas e médias empresas. A entrada desse recurso é na medida das nossas necessidades. Além disso, tivemos também a oportunidade de captar junto à agência francesa de desenvolvimento recursos da ordem de € 50 milhões. Esse recursos vão para municípios e têm peculiaridades: é preciso conteúdo socioambiental para liberação. Financiamos com esse recurso, por exemplo, parte da despoluição da Lagoa da Pampulha.

E o BID?

Captamos, ainda, este ano, uma linha do BID de US$ 150 milhões para financiar infraestrutura nos municípios. Com essas captações estamos dentro da nossa previsão de entrada de recursos até 2016. No mercado interno, fizemos duas captações de letras financeiras, uma de R$ 350 milhões no final de 2012 e outra neste ano, de R$ 247 milhões.

O BDMG anunciou que tem, para este ano, meta de atingir 8 mil novos clientes. Isso será alcançado?

Fazemos um acompanhamento mensal das metas estipuladas. Até o final do primeiro semestre, estávamos com tudo no caminho certo. Foram, até junho, 3.870 novos clientes.

Qual a meta de desembolsos? De 2012 para 2013 houve um aumento de 46%. Em 2014 sobre 2013 é possível manter esse ritmo?

Para este ano, a meta é de R$ 2,130 bilhões e já liberamos R$ 1,118 bilhão até junho. Repassamos, desse total, R$ 660 milhões do BNDES. Nós implementamos um novo modelo de negócios a partir de abril de 2013, amparado em consultoria da Booz & Company. Então, em 2013 tivemos um salto muito grande em volume de operações. Em 2014 vamos crescer, mas não será na mesma ordem, porque houve um salto e agora vamos trabalhar em um crescimento não com tanta intensidade, mas significativo. Para 2016, prevemos os ativos do BDMG em R$ 10 bilhões, sendo que hoje o valor é R$ 6,6 bilhões. A meta é de 20 mil clientes, sendo hoje cerca de 16 mil.

O que mudou com o novo modelo?

Temos um alvo muito forte, que é a micro e pequena empresa e, dentro do novo modelo de negócios do banco, criamos plataformas via web de entrada direta de clientes. O cliente não precisa vir ao banco para obter financiamento, pode-se fazer tudo por meio da internet. Criamos outro canal também, que são os correspondentes bancários. Isso já nos permitiu sair de um patamar de 1.800 operações por ano com esse público para 8 mil.

Já há resultados?

Para se ter ideia, a nossa média era de 45 a 60 dias para liberação de um financiamento. Hoje, o prazo médio é de 10 a 12 dias. Criamos uma linha inédita de financiamento, exclusiva para empresas que tenham, no máximo, seis meses de registro na Junta Comercial. É o BDMG Acredita, em que financiamos três vezes o valor que o empreendedor aportar na sua empresa.

Na meta de desembolsos para este ano, qual a divisão de liberações de recursos próprios e de repasses de terceiros?

Dos R$ 2,130 bilhões previstos para este ano, R$1,1 bilhão é do BNDES, e o restante, de recursos próprios, contabilizadas as captações no mercado.

Qual a relação do BDMG com os parques tecnológicos de Minas?

Temos, no caso do BH-Tec, dois modos de atuação. Um é a modelagem de parceria público-privada, que é o modelo desse parque. O banco está fazendo a modelagem desse projeto, que visa transferir à iniciativa privada a gestão daquele empreendimento.

O que o banco faz nesse projeto?

O banco faz o estudo de viabilidade econômico-financeira para o projeto e faz o edital, todos os estudos técnicos necessários para que quem queira se candidatar a ser o parceiro tenha informações para tomar sua decisão. A segunda participação já não é restrita ao BH-Tec, pode ocorrer em outros parques.

E como funciona essa outra participação em parques?

É uma linha de financiamento específica em conjunto com a Fapemig, que visa financiar empresas a se instalarem em parques tecnológicos, empresas de qualquer porte. Tudo que for preciso investir para montar a empresa dentro do parque tecnológico nós financiamos por meio de um fundo chamado Proptec. Também temos o Pró-Inovação, que financia o desenvolvimento de inovações.

Recentemente houve um aumento no orçamento para financiar startups também?

Com startups atuamos por meio de fundos de investimentos. Passamos de R$ 30 milhões para R$ 60 milhões o montante para investimento em fundos de participação, não é para financiamento. Desse total, já foram investidos R$ 10 milhões no Criatec II, R$ 10 milhões no FIP Brasil Sustentabilidade, R$ 5 milhões no FIP DLM Brasil TI, R$ 6,25 milhões no AvanTI e R$ 5 milhões na Brasil Aceleradora de Startups. 

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