Fraudes em ferrovias são alvo de operação da PF em seis Estados e DF

Folhapress
26/02/2016 às 16:43.
Atualizado em 16/11/2021 às 01:35

Em mais uma ação derivada da "Lava Jato", a Polícia Federal deflagrou, na manhã desta sexta-feira (26), uma operação para investigar suposto esquema de fraude, cartel e propina na construção de ferrovias. Só em Goiás, a PF apurou mais de R$ 630 milhões desviados na construção da ferrovia Norte-Sul. Além da ferrovia Norte-Sul, a investigação foca o pagamento de propina na integração Leste-Oeste. Há indícios de prática de cartel e lavagem de dinheiro.

São cumpridos sete mandados de condução coercitiva (quando uma pessoa é levada para depor, mas liberada no mesmo dia) e 44 mandados de busca e apreensão no Paraná, Maranhão, Rio, Minas Gerais, São Paulo, Distrito Federal e Goiás. Entre os alvos estão as empresas Odebrecht (Rio de Janeiro), Queiroz Galvão, Mendes Júnior Trading, Galvão Engenharia, Constran, OAS, Serveng Civilsan -incluindo a casa de um ex-funcionário da empresa, que atua nas áreas de engenharia e construção,  mineração e energia-, Cavan Pré-Moldado, Tiisa e Braemp (São Paulo), CR Almeida e Ivaí Engenharia (Paraná), Servix, SPA Engenharia, Egesa Engenharia, Construtora Barbosa Mello, Consórcio Aterpa e Torc (Minas Gerais), e Elccom Engenharia, Evolução Tecnologia e Consórcio Ferrosul (Goiás).

A operação foi deflagrada a partir de informações fornecidas pela empreiteira Camargo Corrêa em acordos de leniência e delação premiada fechados com a "Lava Jato". Em abril de 2015, o ex-presidente da empresa Dalton Avancini disse em delação que houve pagamento de R$ 800 mil em propina para José Francisco das Neves, o "Juquinha", ex-presidente da Valec, estatal do governo federal responsável pela construção de ferrovias no país. O valor foi pago para execução das obras da ferrovia Norte-Sul. No acordo de leniência, se comprometeu a pagar à Valec cerca de R$ 65 milhões para ressarcimento de danos.

A Camargo confessou a prática de cartel, corrupção, lavagem de dinheiro e crimes de licitação. Também entregou provas documentais e testemunhais contra Juquinha e as demais empreiteiras suspeitas de integrar o esquema. As buscas não significam que todas as empresas estejam envolvidas em crimes, mas sim que os investigadores julgaram relevante tentar obter provas das acusações feitas pela Camargo Corrêa.

A PF e o Ministério Público Federal de Goiás conduzem a operação. As diligências foram autorizadas pelo juiz Eduardo Pereira da Silva, substituto da 11ª vara federal de Goiânia.

Contratos simulados

Os investigadores concluíram que as empresas fechavam contratos simulados. Segundo a PF, um escritório de advocacia e duas empresas com sede em Goiás eram usadas como fachada para maquiar a origem ilegal de dinheiro, proveniente de fraude de licitações públicas.

"O método utilizado para o recebimento de propina consistia na realização, pelas empreiteiras executoras das obras, de pagamentos a um escritório de advocacia e para mais duas empresas sediadas em Goiás e indicadas por 'Juquinha', sendo que os pagamentos não se referiam a serviços efetivamente realizados", afirma o Ministério Público. Para os procuradores, eram contratos de fachada para dar aparência de legalidade aos pagamentos feitos pelas empreiteiras em benefícios de Juquinha.

A investigação também pretende descobrir se havia um "clube" de empreiteiras atuando em cartel para obter obras de ferrovias com recursos federais nos mesmos moldes do que foi constatado nas obras da Petrobras.

O nome da operação faz referência à defesa apresentada por um dos alvos em uma investigação anterior intitulada "Trem Pagador", na qual seus advogados alegaram que "se o trem era pagador, o alvo não fora o recebedor".

Deflagrada em 2012, a Trem Pagador teve o ex-presidente da Valec como principal investigado. No ano passado, o Ministério Público Federal denunciou Juquinha e mais sete pessoas por diversas irregularidades em obras de ferrovias.

Os envolvidos podem responder por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Derivadas

No final do ano passado, outra operação derivada da "Lava Jato", a Crátons, foi deflagrada para investigar esquema de comércio e exploração ilegal de pedras preciosas em reserva indígena em Rondônia. Ela se iniciou a partir do rastreamento das atividades do doleiro Carlos Habib Chater, preso na primeira fase da Lava Jato, em março de 2014.

Segundo a PF, empresários, garimpeiros, comerciantes e até indígenas participavam da exploração de diamantes na reserva indígena Parque do Aripuanã, num local conhecido como Garimpo Lage, usufruto de índios da etnia Cinta Larga.

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