Grupo promove ato contra militar citado por Dilma como torturador

Paulo Gama - Folhapress
20/10/2012 às 17:00.
Atualizado em 21/11/2021 às 17:24
 (ABR)

(ABR)

SÃO PAULO - Cerca de 60 pessoas realizaram neste sábado (20) um protesto em frente ao prédio em que mora o militar reformado Homero César Machado, citado pela presidente Dilma Rousseff como uma das pessoas que dirigiram as torturas que ela sofreu durante a ditadura (1964-1985).

Gritavam "você é torturador, não vai ter sossego" e afirmavam que "enquanto não houver justiça haverá esculacho popular". Distribuíram também um panfleto de "alerta à vizinhança": "Você sabia que neste bairro mora Homero César Machado, um dos principais torturadores da ditadura civil-militar?".

O grupo colocou uma coroa de flores na entrada do edifício e pendurou nas grades do prédio uma faixa com a pergunta "Quem torturou Dilma Rousseff?".

Em entrevista de 2003 Dilma disse que Machado era um "dos que dirigiam" as sessões de tortura. "O primeiro era o Homero, o segundo era o Albernaz. O terceiro eu não me lembro o nome. Era um baixinho", afirmou.

Em discurso durante o ato hoje, o filho do militante e operário Virgílio Gomes da Silva --também chamado Virgílio--, cuja morte durante a ditadura foi atribuída a Machado, pediu que se faça justiça.

"Você matou meu pai. A dor perdurará, mas a alegria de ver condenado um torturador vai ser maior. Longa vida a você para pagar o que fez. O povo brasileiro te condenará", afirmou.

O Ministério Público já pediu à Justiça que Machado fosse declarado responsável, ao lado de outros três militares, por maus-tratos a 20 presos políticos, mas o Tribunal Regional Federal da 3ª Região (São Paulo) decidiu que ele não poderia mais ser condenado porque os supostos crimes já prescreveram.

À época, Machado negou os crimes. A reportagem não conseguiu contatá-lo hoje.

"O pecado mora ao lado"

Moradores do prédio se disseram surpresos com a informação de que "seu Homero" atuou na ditadura, mas afirmaram que ele não estava no local durante o protesto -- estaria em viagem há cerca de dez dias.

A advogada Fernanda Souza, de 37 anos, vizinha de porta de Machado, disse achar importante que as ações venham à tona. "Estou passada. Vamos ver como vai ser quando ele voltar, se é que ele vai voltar", afirmou.

Maria Tereza, de 58, cuja mãe mora no prédio ao lado, aprovou a manifestação. "Se a pessoa fez tem que assumir", disse. "Nesse caso o pecado mora ao lado de verdade", afirmou outra vizinha.

O ato foi organizado pela Frente de Esculacho Popular. Em abril, o grupo já havia feito manifestação semelhante em frente à casa do médico legista Harry Shibata, que atuou na ditadura.

O manifesto divulgado no ato deste sábado também protestava contra a "tortura do presente". "Enquanto estamos aqui alguma pessoa está sendo torturada em alguma delegacia ou prisão".

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