Lideranças mineiras não põem fé no segundo mandato de Dilma

Aline Louise - Hoje em Dia
18/12/2014 às 07:27.
Atualizado em 18/11/2021 às 05:25
 (Lucas Prates/Dione Afonso/Hoje em Dia)

(Lucas Prates/Dione Afonso/Hoje em Dia)

Enquanto pesquisa Ibope divulgada na última quarta-feira (17) demonstra aumento na aprovação do governo da presidente Dilma Rousseff (PT), de 48% em setembro para 52% em dezembro, a maioria dos gestores mineiros se revela pessimista com o segundo mandato da petista.

É o que revela pesquisa encomendada pela Associação Mineira de Municípios (AMM) com 265 lideranças, entre prefeitos, vice-prefeitos e secretários, que participaram do II Fórum Técnico dos Municípios Mineiros, de 10 a 12 de novembro, em Belo Horizonte.

Os dados obtidos com exclusividade pelo Hoje em Dia demonstram que quase 60% dos entrevistados acreditam que o segundo mandato da presidente será igual ou pior que o primeiro.

Para o presidente da AMM e prefeito de Barbacena, Antônio Andrada (PSDB), a expectativa negativa demonstra o desgaste da atual administração da presidente. “Nos últimos dois anos, o Executivo federal tem apresentado muitas dificuldades, especialmente agora, em 2014. E ela não ter sinalizado de uma maneira muito clara que vai mudar o estilo de governar contribuiu para um certo pessimismo”.

O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), faz análise distinta. Para ele, a percepção dos gestores reflete o grande desejo de mudança demonstrado pela sociedade brasileira. De certa forma, segundo ele, esse desejo não foi concretizado em nível federal, já que não houve alternância de partido no poder. “Dilma é a continuidade”, disse. Piau ainda argumenta que a eleição da petista se deu sobretudo em função dos programas sociais implementados pelo PT.

Pimentel

Já com relação ao governador eleito Fernando Pimentel (PT), os gestores têm melhores perspectivas. Mais de 80% acham que ele vai atender, totalmente ou em parte, as demandas municipais. Para Andrada, a bagagem que o petista traz da administração de Belo Horizonte é um ponto a seu favor.

“Ele tem a condição de ex-prefeito da capital, e foi bem avaliado. Conhece bem os problemas regionais e do Estado como um todo”, disse.

Segundo Paulo Piau, enquanto a continuidade em plano federal gera um certo “desânimo”, em nível estadual Pimentel representa a mudança. A opinião é endossada pelo prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz (PRB). “Estou otimista com o governo dele. Vai oxigenar 12 anos do PSDB no poder, renovando determinados cargos”, reforçou. A experiência do petista como prefeito também foi destacada por Muniz. “Ele é tarimbado, de bom relacionamento e diálogo fácil”.

 

Benefícios

A pesquisa também perguntou aos gestores qual o benefício mais importante que o governo federal levou para o respectivo município no mandato do entrevistado. A entrega de máquinas pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi a ação mais citada, com 26,8%.

Mas, em segundo lugar, a resposta mais frequente foi “nenhuma”, dada por 15,5% dos pesquisados. Também foram citados o programa “Minha Casa, Minha Vida”, as emendas parlamentares, os investimentos em infraestrutura, e os projetos nas áreas de educação e saúde.

 

Burocracia e repasse do FPM são os principais problemas

A burocracia é o principal problema que os municípios têm no relacionamento com a União, dizem os gestores consultados na pesquisa da Associação Mineira de Municípios (AMM).

De acordo com o presidente da entidade, prefeito Antônio Andrada (PSDB), além do grau de dificuldade que as administrações têm para lidar com a “papelada e os procedimentos”, o volume de exigências impostas pelo governo federal para liberação dos recursos é outro gargalo.

“Um exemplo recente foi o levantamento feito pela Confederação Nacional dos Municípios, no qual verificou-se que apenas 4% dos 5.500 municípios brasileiros conseguem atender as exigências”. Andrada diz ser “praticamente impossível” cumprir todas as regras.

Já o prefeito de Uberlândia, Gilmar Machado (PT), faz “mea culpa”. “O município também tem que se organizar. Se não faz o dever de casa, não tem como cobrar”.

No segundo lugar no ranking de problemas com a União está o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). Para Andrada, o aumento de 1% aprovado recentemente para o volume de dinheiro que o Executivo repassará às prefeituras não é suficiente diante das dificuldades enfrentadas.

 

Pesquisados apontam falta de apoio por parte do Congresso

Para os gestores mineiros, o Congresso Nacional também tem se demonstrado incapaz de atender as demandas dos municípios. Mais de 70% dos entrevistados acham que os deputados federais apoiam pouco as prefeituras.

Segundo o presidente da Associação Mineira de Municípios, (AMM), Antônio Andrada (PSDB), essa “dívida” do Parlamento com os municípios pode ser motivada por pressão do próprio governo federal, que muitas vezes “se coloca contrário às demandas regionais, principalmente quando envolvem questões econômicas”. Ele ainda avalia que o Congresso “não tem sido criativo” para tentar contornar os problemas e apresentar soluções.

O prefeito de Montes Claros, Ruy Muniz (PRB), pondera que “os parlamentares em geral são pessoas que têm sensibilidade para saber o que os municípios precisam”. Para ele, os entraves vêm da Mesa Diretora da Casa. “A Mesa trava um pouco o desempenho dos parlamentares. Já fui deputado. Durante minha atuação apresentei 58 projetos, mas só consegui que quatro virassem leis em Minas Gerais”.

Ruy Muniz afirma que o Congresso precisa ter “coragem” para avançar em questões primordiais. “É preciso aprovar a reforma política e a reforma tributária. Os municípios precisam muito também de uma mudança na lei de licitações. Ela engessa muito a administração pública e não evita a corrupção. A mudança tem que ser no sentido de agilizar os processos para que possamos fazer mais obras, mais baratas e com mais qualidade”.

O prefeito de Uberaba, Paulo Piau (PMDB), também chama atenção para a necessidade de um novo pacto federativo. “É um sonho do Brasil que não avança, e os municípios são a parte mais fraca. A aprovação de um novo pacto federativo é responsabilidade do Congresso, mas é preciso vontade do Executivo”. 

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